Governo quer lançar plataforma de VOD ainda este ano

Pola Ribeiro, secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura

A plataforma de VOD que está sendo gestada dentro do Ministério da Cultura deve ser lançada no segundo semestre deste ano. É o que espera o secretário do Audiovisual do MinC, Pola Ribeiro.

O órgão já recebeu R$ 10 milhões do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual) para dar início ao projeto, e está agora desenhando o modelo. O que se sabe é que a plataforma distribuirá conteúdos nacionais diretamente ao público final através de várias tecnologias, de aplicativos para tablets e smartphones até o set-top box da TV digital aberta, satélite e DVDs.

Ribeiro falou a TELA VIVA sobre o projeto e seu andamento.

TELA VIVA  O que motivou o projeto?

Pola Ribeiro    Vamos retomar a história. A Ancine tem dez anos de uma gestão estável, com o Manoel Rangel. Nesse período a SAv (Secretaria do Audiovisual) teve sete secretários. Fez muita coisa, mas perdeu o locus de fazer a estratégia do audiovisual. Cada secretário entra, executa as políticas, mas não consegue pensar o audiovisual, isso acabou ficando com a Ancine. Mas muita coisa podia ser feita pela SAv. Agora, o que o ministro Juca (Ferreira) colocou como missão da secretaria é dar escala ao audiovisual, e para isso temos que olhar para duas áreas que permitem essa escala, que trabalham com isso: a educação e a comunicação.

Como isso se dará?

Começamos a trabalhar na SAv um redesenho para atender não necessariamente ao produtor, que já está atendido pelas políticas atuais. Vamos fazer algumas coisas também, como o baixo orçamento, editais. Mas vamos trabalhar de forma mais ligada à inovação, com foco em dar escala e relevância ao audiovisual nacionalmente, com distribuição e difusão. Você pega a Cinemateca. A sociedade entende a necessidade de preservar o acervo, mas só vai dar valor mesmo àquilo quando conseguir usufruir, quando o professor no Mato Grosso tiver acesso a um filme, um documentário. Aí a sociedade não vai achar caro. Fica barato. Então não é só resolver o problema da Cinemateca ali, mas fazer aquilo chegar ao país todo.

"Começamos a trabalhar na SAv um redesenho para atender não necessariamente ao produtor, que já está atendido pelas políticas atuais"
"Começamos a trabalhar na SAv um redesenho para atender não necessariamente ao produtor, que já está atendido pelas políticas atuais"

Como o projeto está sendo desenvolvido?

Passamos este ano construindo e chegamos num modelo que é o seguinte: primeiro estamos montando um observatório do audiovisual, pra que a gente possa reconhecer o que se produz no Brasil. O MinC tem isso mais ou menos, a Cinemateca tem uma parte… Precisamos saber, e depois licenciar isso. Ver o que está em domínio público, o que é gratuito, o que tem que pagar, respeitando os direitos autorais.

Já há recursos?

Conseguimos no final do ano passado R$ 10 milhões do FSA com a Finep, e agora estamos desenhando o projeto, conversando com várias entidades, Spcine, Ministério da Ciência e Tecnologia, o pessoal da secretaria de Cultura Digital, Abragames, porque a plataforma pode dialogar também com games… Estamos contratando consultores, tanto da área de tecnologia quanto de licenciamento e direitos. O dinheiro que entrou, os primeiros R$ 10 milhões, são para fazer o desenho da plataforma, se vai cobrar, não vai… Não tem um nome ainda. Estamos chamando de VOD Brasil, mas ainda não há definição. O usuário do Bolsa Família que tem o set-top da TV digital poderá assistir filmes sob demanda, mas não é um catálogo de 20 mil títulos, são dois ou três filmes que conseguimos enviar para a caixa a cada semana. Uma vez implementada, será a terceira maior operação do mundo, com 60 milhões de pessoas. A possibilidade de erros é muito grande, então estamos fazendo devagar, com calma, ouvindo as pessoas, contratando as consultorias.

"Os primeiros R$ 10 milhões, são para fazer o desenho da plataforma, se vai cobrar, não vai... Não tem um nome ainda. Estamos chamando de VOD Brasil"
"Os primeiros R$ 10 milhões, são para fazer o desenho da plataforma, se vai cobrar, não vai… Não tem um nome ainda. Estamos chamando de VOD Brasil"

E o que será oferecido?

Existe muito conteúdo livre disponível. O filme dessa semana vai estar na plataforma? A ideia é que sim. Mas vamos começar pelo que já está em domínio público, desenvolver o que é produzido com FSA, Lei Rouanet. O Instituto Alana nos liberou seus filmes de graça. Existe muita coisa por aí, há por exemplo uma série completa sobre escritores brasileiros, os autores querem difundir. A gente sabe que tem fronteiras mais delicadas pela frente, mas não vão nos impedir de colocar a plataforma no ar, porque há coisas mais simples, filmes que já esgotaram sua participação de mercado.

Como vai dialogar com o mercado, com as janelas existentes?

Isso não deveria ser determinado por tempo de produção. Um filme pode ter 10, 12 anos e ainda ser rentável, enquanto outro com três anos já se esgotou e pode estar disponível de graça. Não queremos prejudicar o mercado, pelo contrário, queremos fomentar o mercado. Toda a nossa política é isso. Não é assim que vemos, que a Ancine cuida do mercado e a gente (MinC) do "jardim da infância". Vamos atuar em áreas que vão incidir no mercado. A cadeia produtiva não é só produção e exibição. Formação e conservação fazem parte. Quem vai produzir se não houver formação? E vai guardar onde, se não houver ninguém pra isso, nem recurso? Vamos fazer uma plataforma que possa ser acessada por toda a sociedade, pelas escolas, cineclubes, universidades, pelos canais de cidadania, TV comunitária, redes de salas de cinema, universitárias e estudantis. O governador da Bahia quer por uma sala de cinema por escola, vamos lá conversar, dar esse conteúdo. Vamos usar fibra ótica, DVD, satélite, uma diversidade de tecnologia, para cobrir o país e diminuir esse fosso.

"Estamos discutindo com a EBC possibilidades de partilhamento de tecnologia. Outra ideia é um novo desenho do CTAv"
"Estamos discutindo com a EBC possibilidades de partilhamento de tecnologia. Outra ideia é um novo desenho do CTAv"

Quem fará a operação? Mapear a produção, licenciar, ofertar ao mercado por todas as plataformas. É uma operação complexa. Será criada uma empresa?

Estamos discutindo com a EBC possibilidades de partilhamento de tecnologia, mas agora mudou o presidente e parou. Outra ideia é um novo desenho do CTAv (Centro Técnico do Audiovisual, ligado à SAv). Ele vai bem, se a gente não fizesse nada iria até 2020 sem chamar a atenção. Faz muita coisa, mas sem uma orientação estratégica. Cada um ia tocando seu projeto. Nesse novo desenho, passa por essa formação em escala e em abrigar esse observatório. Pegar os conteúdos e colocá-los nas diferentes plataformas tecnológicas. A Cinemateca também tem um papel fundamental, mais ligada à parte de licenciamento desse material.

1 COMENTÁRIO

  1. Pelo texto, parece que o que chamam de formação está ligado à formação de profissionais ou ao fornecimento de conteúdo. Há neste projeto um plano para formação de público (incluindo aqui um plano de ensino e a formação de professores)? Acho isso extremamente necessário – não adianta ofertar, se ninguém quiser assistir (ou, pior, não entender o que está assistindo). É preciso, ainda, cuidar para que o uso do audiovisual nas escolas não se resuma a ilustração de aulas de outras matérias, o que é muito comum, mas que ele exista por si, como linguagem e modo de expressão (e manipulação).

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