Mais de 90% das crianças da "geração alpha" querem produções com personagens amigos, espertos e corajosos

Um dos maiores canais infantis da TV por assinatura, o Gloob, da Globosat, se dividiu em duas marcas diferentes em 2017: a primeira, já existente, subiu um pouco sua faixa etária e passou a produzir conteúdos para crianças de seis a 12 anos; Já a mais nova, Gloobinho, foi criada pensando na faixa de dois a cinco anos. Nessa sexta-feira, 31/08, durante as programações do Max 2018 em Belo Horizonte – MG, o coordenador de conteúdo dos dois canais, Luiz Filipe Figueira, falou sobre os desafios de produzir conteúdo para as novas gerações.

As crianças que assistem ao Gloob e o Gloobinho fazem parte da chamada geração alpha, isto é, que compreende as nascidas a partir de 2010. "Trata-se de uma geração ainda em construção, por isso qualquer tipo de estudo sobre ela ainda é tão complexo.", comentou. Filipinho, como é conhecido no mercado, pontuou que a geração alpha nasce ainda mais imersa no ambiente digital do que a anterior, batizada de geração Z. "A principal diferença é que eles se colocam desde o início tanto como consumidores quanto como criadores de conteúdo.", explicou. Como exemplo, ele citou dois canais do YouTube feito por crianças de no máximo seis anos: o "Bel para Meninas" e o "Juliana Baltar", ambos com números de seguidores entre seis e sete milhões. "É uma geração moldada por uma identidade online praticamente desde o nascimento.", afirmou.

Uma das principais pesquisas da unidade infantil da Globosat indentificou um aspecto determinante dessas crianças mais novas: ao contrário das gerações que vieram antes, elas, hoje, gostam mais dos personagens da ficção por conta das suas atitudes do que pela sua estética e aparência. De acordo com dados apresentados por Figueira, 85% dessas crianças acreditam que o personagem precisa "fazer aventuras"; 95% esperam que ele seja amigo; e 94% se sentem atraídos por aqueles que são espertos e corajosos. A questão do gênero também se transformou: 85% das meninas dizem que o fato do personagem ser homem ou mulher não é determinante para que elas tenham afinidade com ele. Já para os meninos, esse número é menor: apenas 39% deles não se apegam ao gênero. "É um número baixo se comparado com o das meninas, mas se considerarmos o contexto do Brasil e da América Latina como um todo, que ainda é consideravelmente machista, esse cenário não parece tão negativo.", analisou o representante dos canais.

Outros insights identificados pela Globosat destacam três fatores que costumam ser bastante valorizados pelo público infantil nas produções audiovisuais: o multiprotagonismo, isto é, todos os personagens são ativos na história; as aptidões e características dos personagens são distintas entre si e, juntas, se complementam; e o respeito às diferenças, que garante espaço para diferentes opções vocacionais e pessoais. Como exemplo de uma propriedade que abrange todos esses tópicos Figueira cita "Escola de Gênios", live-action do Gloob produzido pela Mixer.

Para além das questões de conteúdo, Filipinho acrescentou premissas relacionadas ao formato das obras. Uma delas define que o produto e a plataforma determinam a linguagem. Na prática, isso significa que para estar em multitelas não basta adaptar um conteúdo para outra plataforma, e sim de produzir algo exclusivamente desenvolvido e criado para cada uma das janelas. O coordenador lembrou ainda que, atualmente, o lugar que a criança ocupa na sociedade não é mais o mesmo: "Não devemos produzir pensando no que essa criança vai ser quando crescer. Não é sobre o que ela será, e sim sobre o que ela já é.".

Do ponto de vista do produtor, Reynaldo Marchesini, da Flamma, responsável por sucessos como a animação do "Sítio do Picapau Amarelo", reforçou a questão da dificuldade de obter dados específicos sobre essa geração e disse que, justamente por isso, a figura do consultor pedagógico é fundamental dentro de uma produção destinada ao público infantil. Ele comemorou o atual momento do mercado para crianças e comentou que, hoje, as regras de número de episódios e tempo de duração dos mesmos estão bem mais livres, especialmente por conta da ascensão do meio digital, onde não há anúncios comerciais e uma grade de programação onde uma atração depende da outra em questão de horários. "Para o produtor essa variedade é ótima. Dá para fazer formatos menores e, consequentemente, mais baratos.", completou. "Os episódios podem ser curtos, mas devem ser muitos. Alimentar a propriedade com novas temporadas é importante para ter a fidelidade dessa audiência, que já determina o que quer ver e muitas vezes quando quer ver. A programação não é mais ditada pela família.", finalizou.

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