EBC muda de comando, e de foco

Américo Martins, presidente da EBC - Foto:

A presidência da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), estatal responsável pela TV Brasil, NBR, Agência Brasil entre outras, mudou formalmente nesta quarta, dia 2. Nelson Breve transmitiu o cargo a Américo Martins, que já estava na empresa como diretor geral desde o começo do ano. Apesar de ter sido uma transição suave e esperada, existe uma diferença clara entre as  prioridades que a empresa teve na gestão Breve e as prioridades, pelo menos em discurso, na gestão Américo Martins. "A EBC precisa começar a mudar rapidamente no conteúdo. O meu foco será no conteúdo, para começar a fazer diferente na comunicação multimídia, na TV e no rádio", disse Martins em seu pronunciamento de posse.

Nelson Breve, nos 45 meses de sua gestão, deu ênfase na estruturação e no planejamento da empresa. No seu discurso de despedida, elencou algumas realizações, mas não fez referência aos conteúdos da EBC. Ele mesmo definiu sua missão como uma jornada épica, cujo principal legado foi a estruturação e o planejamento estratégico da empresa.

O discurso de Américo Martins é recebido com algum ceticismo pelos funcionários da EBC, que temem o aumento da ingerência da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), a quem a EBC é vinculada, e a ampliação do processo de terceirização das produções. De qualquer maneira, a nova ênfase, agora no produto final, é bem vinda pelo corpo da empresa, segundo relatos de alguns funcionários da estatal.

O foco da presidência parece estar em linha com o que pede o conselho curador da EBC. Ana Luiza Fleck Saibro, presidente do conselho, enfatizou em seu discurso que o desafio de Américo Martins será "tornar a EBC mais conhecida pelo público", e que é preciso "ganhar os lares, TVs, rádios, computadores e a preferência da população".

Já o ministro da Secom, Edinho Silva, disse que a "TV Brasil não tem que concorrer com empresas comerciais, mas precisa ter capacidade de disputar o imaginário, a formação cultural e condições de levar informação e cultura para aqueles que mais precisam". Segundo ele, a empresa precisa "fazer a disputa do imaginário, sem se atrelar a concepções ideológicas".

Algumas questões críticas à EBC, como o desafio de assegurar a arrecadação e aplicação da Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública (CFRP), não foram colocadas na solenidade de posse. Trata-se de um tributo pago pelas empresas de telecomunicações e que se destinaria a reforçar o orçamento da EBC, mas a cobrança é contestada pelas operadoras na Justiça. Apenas a TIM, hoje, faz o recolhimento regular, e ainda assim uma parte dos recursos fica contingenciada.

Américo Martins também ressaltou a necessidade de mudanças internas na EBC, sem entrar em detalhes: "Precisamos mudar nossos processos de gestão internos", e também fez críticas ao classificar o posicionamento da estatal "elitista". "Precisamos falar com uma parte maior da população. O jornalístico é crítico. Vamos brigar por relevância, ser protagonistas, disputar mercado, mas com o nosso modelo", disse ele, que tem em seu currículo a Rede TV e a BBC inglesa. "Da experiência na BBC eu trago (o modelo de) isenção, equilíbrio e independência, mas não dá para transpor simplesmente, terá que ser um processo brasileiro".

1 COMENTÁRIO

  1. Américo Martins possui todos os atributos para realizar um trabalho de ponta na EBC – vasta experiência jornalística (Folha de São Paulo) e uma vivência bem-sucedida na mídia eletrônica (BBC e RedeTV!). Ao priorizar mudanças imediatas no conteúdo da emissora, Martins sinaliza que vai brigar no sentido de transformar a EBC numa emissora competitiva no mercado brasileiro e, por isto mesmo, sintonizada por um contingente maior da população. Mormente nas praças onde possui base operacional como São Paulo, Rio e Brasília.
    Caetano Bedaque
    Ex-Diretor de Comunicações da RedeTV!
    Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa

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