Canais nacionais e plataformas de VOD criam metas internas para produções dirigidas por mulheres

O segundo painel do Seminário Internacional Mulheres no Audiovisual, que aconteceu nesta quarta-feira, dia 04/07, tratou da presença da mulher nas produções audiovisuais na TV e VOD e também na publicidade. O evento foi promovido pela Ancine em parceria com o CineSesc de São Paulo.

Marina Pompeu, analista de projetos e conteúdo do Canal Brasil, contou que a recém-lançada pesquisa da Ancine em relação à participação da mulher no setor preocupou o canal, que tomou então a iniciativa de analisar seus próprios dados e constatou que, de fato, o cenário interno era um reflexo do panorama nacional apresentado pela Agência. "Das 294 coproduções registradas desde o início do Canal Brasil, 54 foram dirigidas por mulheres e 11 foram codirigidas por elas. É um número muito baixo.", revela. Apesar disso, o cenário tem evoluído. Em 2016, as coproduções do canal que tiveram mulheres à frente da direção representaram 13,5% do total e, em 2017, esse número saltou para 30,9%. Já em relação aos filmes que a emissora licenciou, as direções femininas representaram 26% em 2016 e 30,3% em 2017. "Isso mostra que estamos caminhando no rumo certo.", afirma Marina.

A analista garante que a preocupação do Canal Brasil em investir em produtos feitos por mulheres é latente. "No nosso programa '302', por exemplo, que acabou de ter uma nova temporada lançada, 97% da equipe é feminina. E estamos trabalhando ainda em atrações que enfatizem as mulheres, como a "Mostra Cine-Delas", que já exibiu 37 filmes nos três anos de série; o "Rio de Topless"; e o "Mulheres no Cinema", programa de entrevistas que reúne diretoras, atrizes, produtoras entre outras personagens do setor. "Ainda precisa haver mais conversa. Devemos conhecer tudo o que está sendo produzido no mercado para trabalharmos diretamente com essas obras de mulheres à frente.", opina.

Já Daniela Mignani, diretora do GNT, Viva e Mais Globosat, apresenta com otimismo os dados do grupo. Dos 56 títulos do GNT em 2018, por exemplo, 71% são dirigidos por mulheres e, ao todo, 59% de todos os diretores do canal são do sexo feminino – há ainda aquelas mulheres que dirigem mais de um programa da casa. "Essa preocupação com a igualdade de gênero está presente não só internamente, mas é algo que também levamos para as produtoras com as quais trabalhamos. 95% das atrações do canal são de produtoras independentes, então para nós é muito importante que elas tenham essa consciência do 'inclusion rider' também.", explica.

"Após analisarmos nosso papel em relação à presença da mulher no audiovisual, queremos também ter certeza que não estamos deixando a igualdade racial de lado. Vamos priorizar o negro no seu lugar de fala, e não reforçando o estereótipo que ele tem no meio. Não é cota, é consciência.", garante.

A questão racial também é importante para a Netflix, que tem uma mulher negra em um cargo de liderança da empresa – Maria Ângela de Jesus é diretora de conteúdo original internacional na plataforma e conta que, para a Netflix, que é uma marca global, é extremamente necessário que haja diversidade e inclusão tanto nos produtos que exibem quanto internamente, no quadro de funcionários. No Brasil, aproximadamente 60% dos funcionários são mulheres e muitas delas ocupam cargos de gerência. "No departamento de tecnologia, por exemplo, que é tradicionalmente ocupado por homens, valorizamos muito a presença feminina – as mulheres representam cerca de 30% da área.", conta Maria Ângela.

Nas produções originais da plataforma – que tiveram início em 2011 e hoje são o grande investimento da empresa – a presença da mulher também é marcante. Séries como "Jessica Jones", por exemplo, são protagonizadas e realizadas por mulheres. "A equipe da segunda temporada foi 100% composta por mulheres.", revela a diretora. Já Shonda Rimes, que trabalha com a Netflix desde o ano passado, endossa a preocupação da plataforma com a presença também da mulher negra, trazendo-a para papéis de destaque nas produções originais. "O único jeito de mudar o discurso é fazendo.", declara Ângela.

A diretora conta ainda que conversas sobre assédio e o bem estar feminino no ambiente de trabalho são constantes: "Falamos sobre esses assuntos diretamente com nossos produtores locais. Mesmo que sejam coisas pequenas, é assim que começamos a mudar a história.", conclui.

E, se no audiovisual a desigualdade de gêneros é alarmante, na publicidade essa dissiparidade é ainda mais grave. Mariana Youssef, diretora de cena e representante da "Free The Bid", realizou uma pesquisa quantitativa por conta própria e constatou que, dos 367 diretores publicitários do Brasil, apenas 46 são mulheres, segundo dados de 2017. Ela ainda analisou a questão do gênero na direção de filmes comerciais de produtos dos mais variados tipos – carros, bebidas, beleza, lifestyle – e concluiu que os homens são a maioria em absolutamente todos eles. "E é uma diferença bem desproporcional.", completa.

Diante desse cenário, plataformas como a "More Girls" foram criadas. Lançada há aproximadamente 3 meses, ela tem como objetivo ser o maior mapa de talentos criativos femininos brasileiros. "Uma pesquisa recente mostrou que apenas 20% da força criativa das agências é formada por mulheres e que 65% do público feminino não se sente representado na publicidade – uma coisa está ligada a outra.", afirmam Camila Moleta e Laura Florence, representantes do projeto. "Nossa ideia é, então, valorizar as mulheres que compõem esses 20% e mostrar ao mercado a força criativa feminina.", explicam.

As metas da "More Girls" se dividem em quatro eixos: da parte das agências, o objetivo é que elas assumam o compromisso de terem 50% de mulheres na criação até 2020; Para os recrutadores, a missão é ter sempre o mesmo número de homens e mulheres em processos seletivos; Aos clientes, cabe investigar se a meta de 50% de criativos do sexo feminino está sendo levada em conta nas agências; E, à imprensa especializada, fica o objetivo de entrevistar pelo menos uma criativa por edição. No site da plataforma, está disponível um mapa de talentos femininos do setor, onde as mulheres estão divididas por área de atuação, habilidade e nível de experiência. "Não dá para dizer que não existe mão de obra feminina disponível.", conclui a dupla.

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