Dainara Toffoli cria personagens que fogem de estereótipos e humor depreciativo em nova série da Universal TV

"Devemos apostar mais na construção de premissas originais e personagens com características universais, fugindo assim dos estereótipos brasileiros e do humor depreciativo.". Esse é o mote que conduziu Dainara Toffoli no processo de desenvolvimento da série original brasileira da Universal TV "Amigo de Aluguel", na qual ela atua como criadora e diretora.

O programa protagonizado por Felipe Abib foi lançado pelo canal na última semana e, nesta, chega à plataforma Universal Play no formato catch-up, com entrada após a exibição do canal e ação especial de liberação do acesso para não-assinantes nesta fase inicial. No enredo, Felipe é Fred, um ator que tem fobia de palco e descobre no trabalho de "amigo de aluguel" a solução para os seus problemas: ator e perfeccionista, ele estuda e cria personagens de ficção sob medida para a vida real de seus clientes. "É uma comédia leve e divertida, mas que, ao mesmo tempo, trata dramas reais do cotidiano. Buscamos que o público se reconheça naquilo que os personagens estão vivendo. Não estamos interessados só na piada, em fazer rir, queremos criar empatia.", diz Dainara.

A diretora revela ter se inspirado em sitcoms norte-americanos de diversas maneiras. Por exemplo, no formato, que traz a missão do dia que se resolve no próprio episódio além de conflitos seriados que se desenvolvem durante toda a temporada. "As séries americanas são muito eficientes e o formato é um dos elementos desse sucesso.", declara a diretora. "Quando a Josefina Trotta e eu começamos a escrever, fiz dois Laboratórios de TV Writing com Alan Kingsberg, que é professor na Columbia University em Nova York desde 1999, além de ter sido showrunner e roteirista de diversas séries americanas. As orientações dele foram fundamentais para a criação de 'Amigo de Aluguel' e, quando o projeto teve verba para o início do desenvolvimento dos roteiros, o Alan foi nosso Consultor Criativo.", completa. Com ritmo ágil e núcleo de personagens principais pequeno, "Amigo de Aluguel" lembra sucessos consagrados da produção dos EUA, como "Friends" e "How I Met Your Mother", que também serviram de inspiração. "Essas séries têm uma quantidade de piadas por minuto bem difícil de atingir. Assim, apostamos mais na construção das missões que o protagonista vai enfrentar. Diferentemente de como acontece nessas sitcoms (como 'Friends' e 'How I Met'), é Fred quem vai mergulhar no universo desses personagens, e não o contrário.", pontua.

Sobre a duração da produção, que é curta – são cinco episódios com cerca de 26 minutos cada – Paulo Barata, CEO da NBCUniversal Networks Brasil, fala: "Desde o início do projeto havíamos desenhado a série neste formato para dar um ritmo ágil à história. A primeira temporada cumpre o papel de apresentar os personagens e suas tramas paralelas. No fechamento deste arco, nos próximos cinco episódios, acompanharemos a trupe mais confiante e pronta para encarar os novos clientes e histórias. Vamos aguardar a estreia da primeira temporada e em breve, definiremos as próximas.".

A dupla que é parte da equipe de "Amigo de Aluguel" discorre ainda sobre o atual momento de produção seriada no Brasil que, de acordo com Dainara, é positivo e marcado pelo desafio de criar raízes mais fortes e, simultaneamente, expandir. Barata enxerga a chegada de canais de fora no país como ponto de partida para esse crescimento. "Estamos colhendo os frutos de um período de aprendizado. Desde os canais internacionais de TV por assinatura, como é o caso da NBCUniversal aqui no Brasil, que se dedicou a adequar da melhor forma possível a sua linha de programação às produções nacionais, e as produtoras que precisavam entender como atender a este novo mercado. A etapa inicial foi muito importante para preparar e ajudar a desenvolver o setor audiovisual e agora, podemos afirmar que evoluímos de forma significativa.", argumenta o CEO.

Já Dainara tem um posicionamento mais crítico em relação à instabilidade causada pela situação política do Brasil. "Existe uma incerteza no ar. Creio que a interrupção de qualquer um dos mecanismos de fomento existentes seria uma catástrofe para este mercado que ainda é embrionário. 'Amigo de Aluguel', por exemplo, é fruto desse mecanismo. Ele fez parte do grupo de projetos da O2 Filmes que foi contemplado com o Edital Núcleos Criativos do FSA.", aponta. "Sinto que, de modo geral, ainda falta um suporte maior para a fase inicial dos projetos, para o amadurecimento da ideia. A criação ainda não tem o tempo, o status e a remuneração que merece. Além disso, seria bom termos mais roteiristas nas salas de roteiro e podermos contar com eles durante a produção da série, principalmente, nos ensaios com os atores.", sugere.

Apesar disso, a diretora tem um lado otimista em relação ao futuro. "Estamos no nosso melhor momento, mas ainda  engatinhando. Há muito espaço para crescer. O público brasileiro gosta de ver produto nacional na TV, gosta de dramaturgia, vive conectado e somos um país continental. É tudo muito promissor. Precisamos investir mais na formação de profissionais, principalmente de criação e roteiro. E potencializar a relação entre criação, produtora e canal, sobretudo no desenvolvimento do projeto. No caso do 'Amigo de Aluguel', tivemos uma parceria muito frutífera e isso imprime no resultado final.", conta.

Barata acrescenta: "O grande diferencial da produção brasileira está na qualidade dos roteiros, dos nossos talentos de todas as áreas, seja em frente à câmera como nos bastidores. A capacidade de trazer elementos culturais tão ricos torna as nossas séries capazes de viajar o mundo através de uma narrativa poderosa que impacta universalmente.". E Dainara finaliza: "Precisamos continuar formando e especializando nossa mão de obra para podermos ter uma escala mais industrial. Lembrando que além de exportar a série pronta, 'enlatada', podemos também vender a ideia e os roteiros para remake em outros países.".

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