Divergência sobre políticas afirmativas no audiovisual reforça crise entre Ancine e MinC

(Atualizado às 23h00)

A definição de uma política afirmativa para diminuir a desigualdade de gênero e racial no setor audiovisual está no centro da mais nova rusga entre o Ministério da Cultura e a Ancine, evidenciando uma crise entre o comando político da Cultura e o órgão técnico, executor das políticas audiovisuais. Na última reunião do Comitê Gestor do Fundo Setorial do Audiovisual, a presidente interina da Ancine, Débora Ivanov, foi o único voto contrário ao encaminhamento de uma proposta para levar o assunto ao Conselho Superior de Cinema, para que este formule, até abril de 2018, uma política efetiva para a redução da desigualdade de gênero e raça no setor. A iniciativa de levar a questão de políticas afirmativas ao CSC  partiu do próprio ministro Sérgio Sá Leitão, que solicita ainda que a política seja formulada e adotada após consulta à sociedade e estudo de casos internacionais. O Ministério da Cultura publicou em seu site uma nota expondo abertamente a Ancine por seu voto contrário.

O voto contrário de Débora Ivanov, contudo, não significa insensibilidade da atual presidente da Ancine sobre o tema – Débora é militante de longa data na questão de gênero, tendo liderado a formulação de uma pesquisa sobre o assunto na agência reguladora. O que houve foi a discordância entre o momento de adoção de uma política afirmativa. Ivanov defende a adoção imediata de indutores já nos novos editais do FSA, considerando critérios de gênero e raça na pontuação dos projetos nos editais. A Ancine rebateu o ministério e deu a sua versão em uma nota oficial.

O embate é mais um sintoma do difícil relacionamento entre os comandos da Ancine e do Ministério da Cultura. O ministro Sérgio Sá Leitão vem fazendo críticas duras, em público e em entrevistas (como a mais recente publicada por TELA VIVA), ao comando da agência reguladora, que segue sob a interinidade da diretora Débora Ivanov desde a saída de Manoel Rangel, no fim do primeiro semestre. Está claro que pesa na insatisfação do ministério o fato de Ivanov manter em cargos estratégicos na Ancine servidores não concursados ligados politicamente à gestão anterior, e em desarmonia com o atual governo e à política audiovisual que este pretende implementar.

Manoel Rangel sempre manteve bom relacionamento no Congresso Nacional junto aos deputados e senadores mais atentos aos assuntos relacionados à cultura, mas não vem (apenas) daí a força que mantém Ivanov no comando da Ancine. A diretora conta com apoio junto aos produtores audiovisuais, que tiveram papel central em sua indicação para a agência reguladora, justamente para ter na diretoria alguém sensível às demandas dos produtores, mas sem uma militância político-partidária. Como a presidência é interina, bastaria uma decisão presidencial para indicar um presidente definitivo entre os membros da diretoria da Ancine, que conta ainda com Roberto Lima, também indicado no governo anterior; Alex Braga, servidor da agência indicado por pela deputada Soraya Santos; e Christian de Castro, mais alinhado à ideologia do MinC e que conta com apoio declarado de exibidores, distribuidores, programadoras de TV paga, emissoras de TV, serviços de VOD. Também produtor com vasta experiência, conta com a simpatia e apoio de boa parcela dos produtores. Castro sempre foi o preferido de Sérgio Sá Leitão para o comando da agência.

As recentes críticas do MinC ao comando da Ancine levaram a mais um movimento de apoio a Ivanov no setor. Um abaixo-assinado para que ela seja efetivada como presidente da Ancine, criado há uma semana, já reuniu mais de 2,1 mil apoiadores. O documento foi encaminhado ao presidente Michel Temer; aos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Eunicio Oliveira, respectivamente; ao senadores Marta Suplicy, Romero Jucá (líder do governo), Vanessa Grazziotin e Humberto Costa; e aos deputados Chico D'Angelo, Paulo Teixeira, Orlando Silva, Bruna Furlan, Domingos Sávio e Soraya Santos.

12 COMENTÁRIOS

  1. A Soraya Santos (deputada de Cunha) que indicou o Alex e fechou com o Temer que ele vire o presidente da ancine. Isso pq ela trocou um voto para a denuncia do impeachment do Temer pela cadeira da presidência da Ancine. Detalhe: Alex esta fechadissimo com Debora, Manoel e a turma do Eduardo Cunha. Debora se faz de feminista, mas quer transformar a Ancine num celeiro bolivariano, pc do bista e num aparelho comunista atrasado.

  2. O mercado audiovisual tem mulheres, homens, brancos, negros, gays, lesbicas, trans, indio e quem mais quiser entrar no balaio. Cota pra que? O q importa é o talento. Não é de hoje que a Debora quer pq quer criar uma celeuma para manter os ideais bolivarianos do Manoel Rangel.

  3. Parece que o ministério da Cultura se resume hoje em dia ao audiovisual. Nunca houve na história do Minc tantos fios e pontas soltas, envolvendo até a "paciência" do presidência da república numa nota à revista Época, como se um presidente que tem tanta coisa a arrumar uma economia que depois de um ano começa a dar um suspiro de renascimento, uma reforma da previdência a ser aprovada ,um presidente que está nesse momento internado por uma obstrução urinária e colocará uma bolsa coletora , com terríveis dores, realmente teria condições de estar preocupado com um setor que ele já declarou ser "muito pequeno, mas muito ruidoso". Nós somos menores que a produção de cebola no agro negócio , somos 6 vezes menores que a indústria de casamentos. Precisamos da Débora simples assim. Não conheço os demais diretores, imagino que sejam muito qualificados também , mas se existe um gesto simpático hoje no governo seria nomear mais mulheres competentes.

    • O certo é nomear pessoas competentes e não obrigatóriamente mulheres ou homens. Essa guerra dos sexos é tema de novela de anos 1980, e não tem mais espaço no mundo atual – muito menos no mercado audiovisual. Diga: quem não pode trabalhar na area de cinema e tv por ser mulher, trans, indio, negro, gordo? Que mulher ganha menos q o homem nessa área? Quanta mulheres assinam prod executiva, direção, sao donas de produtoras? Inumeras! Sao o que sao pelo talento e nao por serem mulheres. Atriz ganha mais que ator, sabia? Essa conversa de mulher-femisnista misógina só dá espaço pra Bolsonaros da vida entrar com tudo. E desculpe, mas a Debora está longe de ser uma boa executiva pública – e não por ser mulher, mas, sim, por não ter talento para isso.

      • Suas respostas Anderson de Souza são como as notas nitidamente equivocadas da revista Época e tão tendenciosas quanto.
        Uma mulher como Débora que tem em seu currículo 50 filmes, a administração de uma produtora vitoriosa à qual ela deixou há 2 anos para se dedicar aos produtores de audiovisual , a pedido deles, formada em direito , ela têm o respeito e admiração quase unânime de um mercado , sua lisura ,educação e esse respeito que da competência de quem conhece cada departamento onde a Agência está deficitária, ela viveu na própria pele essa deficiência, ninguém diz que não há muito a se fazer , Débora é sim uma grande administradora privada e pública, você está querendo jogar mais lenha nessa fogueira, sua colocação com relação a tudo mais também é equivocada e sem sentido, as cotas, as reivindicações das mulheres por melhores postos de trabalho , corrigem erros históricos , sim, nós somos competentes e abnegadas queremos nos ver em posição de destaque no audiovisual desse país e queremos tudo que nos foi negado até agora.

  4. Independentemente do mérito da proposta de políticas afirmativas no audiovisual, a nota do MinC foi mentirosa e manipulativa!
    O autor dessa matéria juntamente com a editoria dessa publicação deveriam realmente fazer um trabalho de jornalismo e investigar à fundo antes de reproduzirem notícias distorcidas de políticos de ocasião.
    Esse Ministro passou pela ANCINE uma primeira vez e nada fez. Uma segunda e já saiu para ser Ministro de um Governo ilegítimo. O Minc, a ANCINE, a cultura e o audiovisual só perdem com essas disputas. Que venham as eleições de 2018!

  5. Ninguém aqui falou que a Debora nao tem biografia. Acho que falta para vc um pouco de interpretação de texto. Não é o fato de ela ser mulher que lhe dá chancela de boa presidente da Ancine, assim como o fato de ela ter 50 filmes não lhe coloca como categoria máxima de administradora pública. Um presidente de agência trabalha para todos e não para levantar bandeiras ou criar celeumas. A Debora quer porque quer o poder e só. Veja como a Ancine é morosa graças à forma de trabalhar dela, do Manoel e de sua turma pcdobista que não quer desenvolver um mercado, quer, sim, criar um grupo pseudo-cultural como forma de "aparelhamento contra o sistema". Usar e abusar das minorias é sempre um ato de manipulação – e seus amados manipulados acordados. Nunca vi uma mulher não ter trabalho na área por ser mulher. Nunca. Então, o grito da Debora é mais que equivocado, é inventado. Tudo para ser uma alternativa de poder. Alternativa, essa, avalisada pelo Alex, homem da Soraya, ligada ao Eduardo Cunha. Legal ter o Eduardo Cunha liderando as verbas da Ancine, né?

  6. Ok, te dou a última palavra, não respondo mais nada a quem mistura PC do B e Eduardo Cunha na mesma frase. Tenho minha convicção e você a sua e a vida segue.

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