Um projeto sem fins lucrativos, bancado com recursos próprios, que explora o processo de criação artística e o expõe ao mundo pela Internet. Foi a proposta trazida pela diretora Georgia Guerra Peixe, a Joca (foto acima), em sua volta à Bossa Nova, onde passou 13 anos e para a qual retornou há poucos meses, após uma passagem por outras produtoras.
No Através.tv, artistas de diferentes expressões (artes plásticas, música, dança, literatura etc) são convidados a ocupar um estúdio em forma de cubo, originalmente todo pintado de branco. Cada projeto, chamado de "onda", tem uma temática e um prazo fixo para a conclusão. A partir daí o artista tem total liberdade para desenvolver um trabalho, convidar outras pessoas para participar, e até determinar quem tem acesso ao estúdio ou não, mesmo a equipe da produção.
O trabalho é todo registrado e transmitido ao vivo, 24 horas por dia, por uma câmera única fixada em uma das paredes.
O Através.tv ocupa uma estrutura anexa à da produtora, mas é uma atividade independente. "Foi bom poder usar a estrutura da Bossa Nova, de segurança etc, porque os artistas não tem horário, entram e saem quando querem. Mas aqui é outro ambiente, não tem relação com a produtora", conta Joca.
Ela diz que o conceito do Através.tv nasceu de sua própria forma de trabalhar. "Sempre gostei de deixar claro meu processo de criação, é aberto. Chamo codiretores para trabalhar comigo, compartilho. Tinha essa vontade de registrar os processos criativos, mas não na publicidade, e sim na arte", diz.
No projeto, há quatro fatores importantes: a intenção do artista em fazer algo, o prazo, o espaço em branco (cubo) e a transmissão ao vivo, para que haja o mínimo de interferência naquilo que o público vai ver. A estreia foi em janeiro deste ano, e já aconteceram três "ondas" no estúdio.
Cada "onda" nasce de um processo de discussão da equipe do Através.tv. "Fazemos uma curadoria criativa. Somos diretores, contadores de história, então para cada projeto a gente roteiriza, pensa em um tema", conta Joca. "Só então pensamos em quem chamar, pesquisamos a obra da pessoa, pode ser um artista plástico, um roteirista, um historiador. Ela conduz o processo, e nós vamos fazendo uma 'provocadoria', inserindo elementos ao longo do tempo", relata.
O projeto, diz, é a soma de um espaço físico (o estúdio) com um espaço eletrônico. Além da atuação dos artistas, a equipe alimenta a plataforma com textos, referências e outros materiais. "Isso pretende virar quase que uma revista eletrônica de processos criativos", resume Joca. "Queremos que seja colaborativo, que no futuro as pessoas também coloquem lá suas criações".
O próximo passo é uma parceria com a empreendedora Bel Pesce, que desenvolverá um modelo móvel do Através.tv, para levar o projeto a outros locais.
O projeto busca parcerias e patrocínios para se financiar, e deve virar em algum momento uma fundação ou instituto. "Mas seremos cuidadosos, não quero colocar projetos de marca. Queremos manter ao máximo a autonomia dos artistas", conclui Joca.
Ficha técnica
"Através.tv"