Spcine apresenta resultados dos dois anos de vida e enfrenta primeira eleição municipal

Alfredo Manevy, diretor-presidente da Spcine

A Spcine está completando 20 meses de funcionamento efetivo, com alguns resultados substantivos a apresentar, e algumas lacunas a serem preenchidas. A empresa paulistana de fomento à atividade audiovisual enfrenta agora sua primeira eleição municipal e, embora tenha seu funcionamento e orçamento garantidos por lei, terá que lidar com uma possível troca de diretrizes políticas, caso o atual prefeito não se reeleja.

O presidente da Spcine, Alfredo Manevy, conta a TELA VIVA, em entrevista exclusiva, quais foram as principais conquistas da empresa em menos de dois anos de funcionamento, e aborda os obstáculos a serem ainda ultrapassados. Um dos maiores: a falta do aporte prometido pelo governo do Estado, que participou como cofundador da empresa, mas acabou não enviando os recursos. Seu mandato foi renovado este ano, com duração de dois anos, até julho de 2018.

Confira os principais pontos da conversa:

Quais foram na sua opinião as realizações mais importantes destes quase dois anos de operação da Spcine?

ALFREDO MANEVY  Em primeiro lugar, os números expressivos que alcançamos em várias frentes paralelas mostram que a empresa era necessária. Havia uma pergunta legítima sobre isso, se era importante, mas para mim a resposta era óbvia. Os números refletem um recorte apenas, fico bastante animado para o futuro.

Se você comparar só o que havia de fomento na cidade, para produção e distribuição, a demanda era gigante, a cidade vivia de um ou dois editais ao ano. Nós praticamente triplicamos a média da última década em investimento.

Qual a base de comparação?

No melhor ano da gestão Kassab, em 2007, foram investidos R$ 8,7 milhões. Em 2015 nós investimos R$ 20,29 milhões, e em 2016 já foram R$ 16,3 milhões. Temos mais de cem filmes patrocinados, alguns já lançados e outros em produção. Entre 2015 e 2016 foram lançados 26 filmes com apoio da Spcine.

Mas há uma queixa em relação aos editais para séries de TV.

Sim, reconheço que é uma lacuna. Não demos conta da proposta abrangente de sermos apoiadores da TV, dos games e outros formatos. A TV vive uma era de ouro, com novos modelos, exigia uma política própria. Avançamos nisso, mas tivemos problemas. A Spcine nasceu com uma parceria entre os governos municipal, estadual e federal, mas o Estado não aportou os R$ 25 milhões com os quais havia se comprometido. Alegou a crise, mas todos passamos pela crise. Acho que foi falta de prioridade, e de entender que esta atividade, a economia criativa, ajuda a superar a crise. Não ver isso é uma análise equivocada.

Talvez fosse o caso ter substituído alguns editais de cinema por TV. Colocamos R$ 2 milhões em TV, mas assumo que houve um desequilíbrio.

Manevy fala na inauguração da Spcine, em janeiro de 2015
Manevy fala na inauguração da Spcine, em janeiro de 2015

Como tem sido a experiência com as salas de cinema, criadas pela Spcine em regiões periféricas da cidade?

O Circuito Spcine é a menina do olhos do prefeito Haddad, porque entende que a empresa não veio só para fomentar a produção, mas ter uma política de formação de plateia e inclusão no direito universal de acesso à cultura. Inauguramos 18 salas este ano e abriremos as duas que faltam em outubro. Já atendemos mais de 150 mil espectadores, com taxa média de ocupação de 20%, sendo a média de mercado 21%, e nossas salas são bem grandes.

O público vem crescendo a cada mês. Foram 9 mil em abril, 10 mil em maio, 37 mil em junho e 47 mil em agosto. Acho que cumpriremos a meta de atender 960 mil pessoas por ano, que é o nosso potencial.

Temos duas boas novidades em relação ao circuito. Estamos fazendo uma pesquisa qualitativa em parceria com a SpTuris, para mapear os hábitos tanto dos usuários quanto dos não usuários. E fechamos um acordo com a Secretaria Municipal de Educação, que aportará recursos na operação das salas (NR: boa parte das salas fica em escolas municipais, os CEUs).

Em relação à film commission já existem resultados concretos?

Sim, ficamos impressionados com a rapidez do impacto. O decreto saiu em maio, ou seja, são cerca de quatro meses de funcionamento. Uma liberação para gravar na cidade levava em média 30 dias. Hoje leva oito dias úteis para cinema e três para a publicidade. Fizemos uma tabela na qual quem pode pagar mais, a publicidade, tem uma tarifa maior e também prazos mais curtos. O cinema fica no meio, com tarifas menores e prazos maiores, e para filmes de baixo orçamento, sem fins comerciais, estudantes etc o custo é quase nada.

Nestes quatro meses as filmagens autorizadas movimentaram R$ 168 milhões. Foram 289 obras cadastradas e 1297 locações pedidas. Tivemos 1794 diárias de gravação, e 9734 postos de trabalho envolvidos.

Um marco desse período foi a primeira liberação de gravação na Avenida Paulista com gestão integral da Prefeitura, coordenando todos os órgãos, e foi justamente durante a Parada LGBT, para uma série internacional, "Sense8", da Netflix. O risco era muito alto, podia dar errado e ficarmos mal falados lá fora, mas deu tudo certo, os produtores elogiaram.

Quais as dificuldades que ainda enfrentam?

Ainda há algum problema nos demais órgãos. A resposta é boa, mas claro que há resistências, há muitos pequenos "feudos" dentro da administração. A coragem do decreto (que criou a film commission) é dizer que a resposta da cidade é maior que os micropoderes locais. Agora, com alguns órgãos, como a CET (Cia. de Engenharia de Tráfego) a relação é excelente, entenderam a proposta e agora teremos um engenheiro só dedicado ao audiovisual. A ideia é ter em algum momento uma estrutura conjunta CET/Spcine.

O prefeito Haddad quer até o fim deste ano mandar à Câmara um projeto de lei que consolida o que está no decreto, dando mais força institucional à film commission.

Como você enxerga o futuro próximo da Spcine, com o desafio de passar possivelmente pela primeira transição de governo? Os recursos estão garantidos?

O prefeito Haddad é um entusiasta deste trabalho, nunca vi um prefeito apoiar mais um projeto do que este. Em uma reunião recente com o setor, disse que o orçamento de 2017 preverá não só a manutenção mas também o aumento da Spcine. Teremos novo capital para investimento e a Secretaria de Cultura aportará recursos para os editais de fundo perdido. Então temos um tripé orçamentário estável: capital da empresa, Secretaria de Cultura e Secretaria de Educação, com os recursos para as salas de cinema.

Nosso diálogo com a Ancine também melhorou muito, é outro apoio importante. Está mantida a previsão de R$ 15 milhões anuais, com recursos do FSA, e estamos estudando um salto nessa relação. Temos ainda a possibilidade de apoios privados, já houve interesse manifestado aqui.

Do ponto de vista político, o mais importante é que a empresa foi bem acolhida pela cidade. O Circuito Spcine faz com que a empresa não fale só "para dentro" do segmento, mas é uma marca que já está se tornando conhecida, reconhecida publicamente. O setor audiovisual trata muito bem o projeto. Com muito debate, claro, algumas queixas, é normal. Temos um conselho consultivo com 15 entidades, há um envolvimento muito grande. O setor terá um peso importante na defesa desse projeto, seja com Haddad ou com outro prefeito. É importante que seja tratado como política de estado.

Outra coisa importante é que apostamos muito na transparência. Estamos montando um sistema em que todos nossos dados serão públicos. Temos um modelo de gestão enxuto, moderno, sem os vícios da administração pública.

A Spcine funciona como empresa, embora tenha acionistas públicos. Já deu resultados econômicos?

O retorno econômico se dá a longo prazo. Temos alguns casos interessantes, como "Que horas ela volta", que teve lucro. Outros chegaram perto. Mas só o fato de ter a lógica do investimento já é importante. Adotamos critérios diferentes, teve que haver uma repactuação com o setor. Vamos investir mais também em outros mercados, como o VOD e games, não podemos ficar de fora.

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