Para Sadek, sistema de fomento chegará a um "engarrafamento"

O aumento na demanda por recursos e a estagnação na oferta deste dinheiro levará os mecanismos de incentivo à cultura a um "engarrafamento", disse o secretário estadual de Cultura de São Paulo, José Roberto Sadek, em evento sobre o tema realizado na última segunda, 26, pelo Iasp, o Instituto dos Advogados de São Paulo.

O secretário se preocupa também com a criação de uma CPI para investigar a Lei Rouanet. "Estou indignado com essa onda contra as leis. Há fraudes em todo lugar, no Imposto de Renda, no INSS, e não tem CPI. Por que só com a cultura? O que está por trás disso, qual o preparo dessas pessoas para discutir esse tema? Estou preocupado", afirmou.

Segundo Sadek, tem havido uma explosão no número de projetos que buscam apoio. Em 2007, por exemplo, o Proac (programa de incentivos fiscais do governo paulista com recursos do ICMS) aprovou 642 projetos. Em 2015 foram 1451 projetos. "O Estado não acompanha a demanda, o volume de dinheiro não cresceu nessa proporção. Há um engarrafamento do volume de artistas, da demanda, contra a capacidade do estado suprir. É legítimo que todos queiram ter voz, mas engarrafa", disse. Ele dá ainda o exemplo do Prêmio Estímulo, de cinema, onde há dez anos concorriam cem projetos, e hoje são 350.

O secretário também mostrou preocupação com o fato dos projetos no Brasil não se preocuparem com a questão da sustentabilidade do negócio. "Na maioria dos países os projetos artísticos precisam de dinheiro público. Mas aqui a dependência é muito grande, e não há nos projetos de fomento qualquer menção de sustentabilidade. Não faz parte da estratégia, para haver por exemplo uma continuidade no ano em que aquele projetos não ganha fomento", disse.

Para o teatro, diz, o fomento foi ótimo, deu muita força. Mas no início, diz o secretário, eram cerca de 20 grupo (em São Paulo). "Hoje são cinquenta, e se o fomento não sai, eles podem fechar a porta". "É difícil imaginar que todo o conjunto da cultura vai viver só do governo. Sempre é necessário (o incentivo), mas o trabalho tem que continuar também quando não tem (o recurso)", concluiu.

Finalmente, Sadek se diz preocupado com a falta de ações para a formação de plateia. "Não há em nenhum conjunto de fomento qualquer referência à formação, qualificação de público. Há gente que diz que há um excesso de dinheiro disponível, e que por isso há projetos sem público, e há quem diga que não se deve dar dinheiro a projetos que não falam ao público. Não concordo". Ele diz que o público brasileiro está ainda na época do impressionismo. "Exposição de artista impressionista e teatros musicais lotam sempre. Coisas mais inovadoras historicamente não conversam com todo o mundo. Mas deveríamos não investir no ousado, na pesquisa, em projetos longos?", pergunta.

 

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