Brasileiro não quer abrir mão da TV paga, mas quer fazer valer mais cada centavo investido em serviços

"Bolso sozinho não explica cabeça do consumidor", disse Renato Meirelles, sócio e presidente do Instituto Locomotiva, ao apresentar um breve panorama da economia brasileira atual e as recentes mudanças de hábito do consumidor nos últimos anos no primeiro dia do PayTV Forum 2018, organizado por TELETIME e TELA VIVA nos dias 30 e 31 de julho em São Paulo. Segundo ele, nos últimos 15 anos a renda familiar média dos 25% mais pobres foi a que mais cresceu – em 73%, contra 18% de aumento de renda dos mais ricos, por exemplo. Outro dado importante nesse sentido afirma que há hoje, na mesma classe econômica, diferentes pessoas, de diferentes profissões e visões de mundo. "Na classe A, existem de diretores de empresa a donos de padaria, e na classe C, de operários a professores", destaca a pesquisa, o que justifica a declaração de Meirelles.

Além disso, dentro da classe AB, 42% não possuem TV por assinatura e apenas um quinto já viajou para fora do país. Enquanto isso, na classe C, 94% dos jovens são internautas, 30% possuem TV paga e 74% têm smartphone. A partir daí, o presidente da Locomotiva lançou a provocação: o quanto o portfólio de TV por assinatura está adequado a essa realidade? "É necessário fazer um exercício de humildade e se colocar no lugar do consumidor para entender as demandas de sua perspectiva.", apontou.

Saindo um pouco de termos financeiros, a pesquisa da consultoria ressalta três principais vetores de transformação no comportamento do consumidor:

  • Mudança na régua de qualidade;
  • Democratização tecnológica;
  • e Empoderamento e novas identidades.

Meirelles dá algumas interpretações geradas a partir daí: mesmo na crise, o consumidor não abre mão daquilo que conquistou. "Para ele, é mais fácil não ganhar do que perder aquilo que já havia ganhado", afirmou. No âmbito do audiovisual, isso se traduz no dado de que 33% dos assinantes migraram para opções mais baratas dentro da TV por assinatura. Ou seja: o brasileiro não quer abrir mão do serviço, mas está mais atento ao custo X benefício e, hoje em dia, quer fazer valer a pena cada centavo investido em serviços. A informação, contudo, foi contestada por operadores presentes ao evento, que disseram não estar havendo um movimento relevante de downgrade de pacotes.

Entrando ainda mais nos dados do setor, Meirelles aponta que, atualmente, 32% dos domicílios brasileiros têm TV paga, contra 68% não-assinantes do serviço. Desses 32%, 42% têm Netflix. Nesse cenário, há outras especificações relevantes sobre classe social e idade: a Netflix faz parte do dia a dia da classe C – essa parcela da população representa 24% das assinaturas da plataforma no país (e somente 10% da TV paga); e ela é paga, principalmente, por jovens de até 29 anos – eles representam 49% das assinaturas. A conclusão a partir dessas informações é que o público consumidor hoje está mais popular, mais jovem e mais exigente – esta última característica por fatores como a crise econômica ainda enfrentada pelos brasileiros e pela abertura da regra de qualidade citada acima. Segundo o instituto, apenas 18% percebe alguma melhora na crise.

Outra conclusão está relacionada à tecnologia: o acesso à internet continua crescendo no Brasil (foram cerca de 68 milhões de novos usuários na última década) e, hoje, o smartphone já é o device mais utilizado para esse acesso. A partir daí, constata-se que esse público está mais tecnológico também – lembrando que essa tecnologia não pode ser cara, uma vez que ele está focado cada vez mais no custo X benefício e não paga mais por serviços que não utilizar com uma frequência que justifique o gasto. Fica, para o mercado, o desafio de se adaptar às mudanças tecnológicas, entender os desejos desse consumidor e traduzir, na prática, suas novas demandas de consumo dentro dessa realidade sócio-econômica do Brasil.

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