"A mulher ainda se boicota muito no trabalho", diz Monica Monteiro

No mês em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher, Monica Monteiro, diretora executiva da Newco, empresa de TV por assinatura ligada ao Grupo Bandeirantes, reflete sobre o papel da mulher no mercado de trabalho na atualidade: "A base tem muita mulher, mas vai afunilando e, no topo, ficando mais difícil. As mulheres se boicotam muito e por diferentes motivos – culturais, por exemplo. Elas têm dúvida, medo. E eu penso: é claro que a gente consegue, que a gente pode. Se te oferecem a presidência, na dúvida, pegue". 

Para ela, pode ser que daqui a dez anos essa conversa nem exista mais, especialmente porque o cenário hoje já é bem diferente de dez anos atrás. "Já avançamos muito e estamos ocupando mais espaços. Tem muito o que fazer ainda? Tem. Mas acho que nosso papel é esse, acreditar que consegue fazer. Digo que existem dois itens essenciais para que uma mulher atinja sucesso – e isso vale para qualquer área de trabalho: networking, investindo em uma boa caderneta de contatos, e inovação. Esse vai ser o grande diferencial. Entender sobre algoritmos, por exemplo. Coisas para as quais a minha geração só está se atentando agora. E isso é para o curto prazo. A longo prazo, não acredito que essas conversas ainda estarão em pauta", avalia a diretora em entrevista a TELA VIVA.

Trabalho na pandemia

Há dois anos à frente da diretoria executiva dos canais pagos da Band, Monteiro se prepara para lançar um segundo novo canal dentro do período de pandemia – o primeiro foi o AgroMais, no ar desde junho do ano passado. Em abril, estreia Sabor e Arte, nova marca do grupo que já nasce reunindo canal de TV, site e aplicativo e presente em todas as operadoras.

"Não paramos de trabalhar na pandemia. Mas a responsabilidade foi gigante, especialmente com os nossos colaboradores. E não estou falando só de cuidados físicos, mas também – e principalmente, aliás – dos cuidados psicológicos. Como lidar com o medo que todo mundo estava sentindo? Eu, pessoalmente, acho que a gente tem que acreditar que vai dar certo", diz Monteiro sobre o trabalho no último ano. "Conseguimos cuidar um do outro, e esse foi o grande barato. Dizem que vamos sair melhores dessa. Eu não acho. Mas aprendemos que a solidariedade é essencial", completa. 

A diretora afirma que esse consumidor que passou a ficar mais tempo dentro de casa quer coisas novas para assistir – e é isso que os canais do grupo devem entregar: "Redobramos a criatividade, porque surgiram limitações para gravar. São muitos comportamentos e regras diferentes. Mas temos conseguido nos virar". Nesse sentido, ela relembra o lançamento do AgroMais, no último mês de junho: "Estávamos com tudo pronto para lançá-lo em abril de 2020, mas infelizmente nosso plano de lançamento coincidiu bem com o auge da pandemia. No começo, foi tudo bem assustador. Não sabíamos o que fazer, os patrocinadores também tinham medo do que ia acontecer. Suspendemos a estreia e mudamos os planos pra junho. Aprendemos – em meio a esse pânico – que a gente consegue fazer. A necessidade de manter a audiência informada segue. E deu certo – o canal tem ido muito bem e o segmento é o que mais cresce no Brasil. Hoje, penso 'ainda bem que lançamos'. Era uma necessidade separar o jornalismo e o entretenimento dentro do segmento". 

Monteiro conta que, durante as mudanças impostas pela pandemia, foi necessário estudar, rever conceitos e promover transformações: "Refletimos sobre como estávamos atuando e como teríamos que atuar dali pra frente. E cada dia é um dia; um aprendizado novo. Revisamos todos os meios onde disponibilizamos nossos conteúdos. Pensamos em como deixar as entrevistas, agora feitas remotamente, mais agradáveis de serem vistas, por exemplo. Nossos diretores se reúnem sempre para pensar na melhor maneira de apresentar nossos conteúdos". Desde meados de abril passado, os diretores dos nove canais passaram a se reunir semanalmente para trocar informações. "Falamos sobre as novidades, o que cada um está fazendo, como podemos nos ajudar, quais são as maneiras de fazermos cross entre os canais… É uma dinâmica nova e positiva", detalha. "Com a pandemia, planejamentos de seis meses, um ano, não funcionam mais. A cada semana temos que nos encontrar e rever nossos próximos passos", acrescenta. 

Falando em próximos passos, além do lançamento do Sabor e Arte, o grupo tem planos para a comemoração dos 20 anos da Band News, celebrados agora em março. "Temos uma parceria com o New York Times para uma série de eventos. Remotos, é claro. Ainda estamos pensando em como inovar para apresentar esse conteúdo da melhor maneira possível", adianta a diretora. 

Distribuição multiplataforma ainda é o foco principal  

Monica Monteiro assumiu a direção executiva dos canais pagos da Band em 2019. Naquela época, já sinalizava a distribuição de conteúdo em multiplataformas como uma de suas prioridades. "A distribuição por diferentes plataformas ainda é o que existe de mais importante. Tenho que dar todas as opções possíveis para que o consumidor encontre nosso conteúdo. Aqui dentro, fizemos o plano Everywhere para estarmos de fato em todos os lugares. Hoje, temos uma parcela de público em cada lugar. Temos que falar com as comunidades e é isso que estamos fazendo. Prestamos muita atenção na distribuição e na logística de todos os nossos canais", reforça. 

E se nos últimos anos a forma de consumir foi mudando cada vez mais, a forma de anunciar não ficou para trás. As marcas foram se distanciando do formato tradicional do break nos intervalos comerciais e buscaram se inserir de forma orgânica dentro dos conteúdos. "Acho que o fato de eu ter vindo pra cá de uma produtora, acostumada a fazer conteúdo, já foi um movimento parte dessa mudança. O comercial de 30 segundos, um minuto, tradicional na TV, é importante para fixar a marca e para várias outras coisas. Mas quando a mensagem está presente no conteúdo, penetra na cabeça do consumidor de forma muito mais fácil, efetiva e agradável, especialmente. Não tem mais a ver só com o comprar. É um consumo diferente", afirma Monteiro. Para ela, a necessidade de transformação está aí – ainda que mudar seja difícil: "O mais importante é que o Grupo Bandeirantes é muito aberto a isso, a repensar processos. Nosso presidente tem essa cabeça, está sempre nos estimulando a pensar diferente. Mas, no sentido de combinar conteúdo e marca, estamos no começo. Ainda há muito a fazer. E é aí que entra a nossa criatividade". 

A diretora ressalta que a Pay TV tem a vantagem de falar com um público específico e saber exatamente quem é a sua audiência em cada uma de suas janelas. Nesse sentido, se abrem ainda mais possibilidades para as marcas – especialmente com a chegada de novas plataformas. "O caminho não é fazer um mesmo comercial e botar em todo o lugar – pelo contrário. Recomendo que se faça uma ação diferente para cada público. Mas essa é uma transformação nossa e dos clientes também, tem que ser um casamento – muitos já chegam acostumados com a forma tradicional de fazer. Para convencer de uma nova ideia, às vezes é difícil. Mas a gente tenta", garante. 

Crise da produção independente 

A diretora enfatiza que o grupo sempre teve espaço para a produção independente – a Cine Group, produtora da qual ela era sócia anteriormente, inclusive, era fornecedora de conteúdo do canal Arte1 – mas que o período não tem sido favorável. "Espaço nós temos, mas hoje em dia o que vemos é um enorme massacre em cima da produção independente. A falta das leis de incentivo, os impactos da pandemia… Não foi um ano positivo. O que é uma pena, pois ela vinha de um crescimento constante, disputando o mercado internacional e o local também. E de repente deu uma parada. É como se um carro em alta velocidade tivesse freado do nada. Nessa situação, todo mundo se machuca", compara. 

"Nós, aqui, voltamos muito a produção para dentro de casa. É o que costuma acontecer em períodos de crise. De qualquer forma, a Band, a Pay TV como um todo, sempre teve essa característica de abrir espaço para a produção independente. Nós fazemos muita coisa com essas produtoras, valorizamos o trabalho delas e achamos essa troca muito positiva. Assim o público não fica acostumado a um mesmo olhar, mesmo pensamento, tem sempre novidade". 

Ao longo do mês de março, TELA VIVA celebra o Dia Internacional da Mulher e presta uma homenagem às mulheres de destaque no cenário audiovisual nacional. Acompanhe as próximas entrevistas.

4 COMENTÁRIOS

  1. Monica Monteiro é uma mulher admirável por sua capacidade de transformação, em tudo que se compromete a realizar, além de ter uma visão vanguarda e extraordinária, dedica-se fortemente em seus trabalhos, valorizando e realçando ainda mais o produto de entrega final e assim formando grandes equipes!
    Uma mulher incrível, que merece todos os louros de responsabilidade nas realizações de alto nível e principalmente praticando a ética e respeitando o espaço como um todo no trabalho. Sempre fui um grande admirador de suas criações.
    O mundo necessita de muitas Mônicas, para quebrar as regras de um mundo ainda muito machista!

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