Patrícia Portaro, supervisora musical, defende mais opções de formação na área

Patrícia Portaro é uma das primeiras profissionais de destaque na área de supervisão musical no Brasil, profissão que abrange todos os aspectos musicais em uma produção cinematográfica. O supervisor musical, no audiovisual, acompanha o processo desde a pré-produção até a finalização de um filme – para além da análise e produção das trilhas, ele também fica com a parte burocrática de budget e negociações, por exemplo, facilitando todos os trâmites legais na categoria musical de um filme.

"O mercado audiovisual brasileiro tradicionalmente sempre usou muita trilha sonora original, então durante muito tempo, parte do trabalho de supervisão musical foi realizado pelos próprios compositores de trilha ou por diretores musicais, de forma que as produtoras não viam necessidade de ter alguém exclusivamente dedicado à musica além dos trilheiros", explica Portaro em entrevista exclusiva.

Formada em Direito e Music Business, Patrícia Portaro iniciou a carreira no mercado da música em 1996, trabalhando com gravadoras, editoras e artistas independentes. Em 2014, se mudou para Los Angeles para se unir ao time da empresa Air Lumiere, empresa que atua em produções nos Estados Unidos e América Latina. "Minha formação como advogada é essencial nessa profissão, já que ela é 50% criativa e 50% legal/negocial. Sem o conhecimento da parte legal, o trabalho é mais para direção ou produção musical, e não supervisão musical nos moldes americanos. Entender de música e estar antenado é fundamental, mas o supervisor musical também deve cuidar da parte legal e ter um vasto network de gravadoras, editoras, managers e artistas. Afinal, temos que encontrar soluções musicais para cada projeto", aponta a profissional, que começou a carreira no Brasil atuando na supervisão musical do longa "As Melhores Coisas do Mundo", de Laís Bodanszki, em 2010.

"Acho que a minha insistência com os produtores brasileiros fez com que o assunto começasse a circular no Brasil", opina a supervisora, que atuou na área musical de mais de uma centena produções nacionais e internacionais e tem no currículo títulos como "Bingo – O Rei das Manhãs", da Gullane; "The American Guest", para a HBO; e "Modo Avião", original Netflix, entre outros. "Em geral, o uso de música é uma questão complicada para os produtores porque são diferentes tipos de direitos envolvidos e muitas possibilidades de utilização, e só quem tem o know how sabe lidar com essa questão", analisa. "É uma profissão que pode facilitar o fluxo da área musical de qualquer produção e fazer com que a produtora não só conte com alguém que entende do assunto, mas que também ajude a viabilizar o budget musical da produção", completa.

Portaro afirma que a maioria das produções norte-americanas contam com a figura do Music Supervisor. "Nos Estados Unidos, esse profissional às vezes é tão importante quanto o compositor da trilha original ou editor de som", comenta. Envolvida com o sindicato local Guild Of Music Supervisors, ela diz: "Os profissionais unidos estão, aos poucos, conquistando espaço em premiações importantes, como o Emmy Awards, que já possui a categoria de Outstanding Music Supervision. Para que a profissão se torne mais forte por aqui, eu acho necessário que haja formação e capacitação na área, o que ainda não ocorre por completo no Brasil".

Mas ela ressalta: "É importante dizer que a mudança no país já vem acontecendo nos últimos dez anos em razão do grande crescimento no número de produções audiovisuais. Esse crescimento do mercado fez com que as produtoras sentissem a necessidade de ter um profissional cuidando de toda parte musical e não só da parte artística. Além disso, as empresas de streaming, como Netflix e Amazon, também estão ajudando a mudar esse cenário, já que entendem a importância de ter um supervisor musical nas suas produções".

3 COMENTÁRIOS

  1. IMPORTANTÍSSIMA a colocação da Patrícia, profissional que ainda não conheço, para o entendimento dos produtores audiovisuais na construção narrativa de seus produtos e imperativo da compreensão de gravadoras e editoras musicais da importância deste profissional para o crescimento de seus mercados. A facilitação nas negociações e o acesso do profissional de supervisão musical aos conteúdos das empresas de música é IMPRESCINDÍVEL, bem como a agilidade nas respostas às consultas de repertório, pois a demora destas respostas por vezes inviabilizam a inclusão de canções em uma peça audiovisual e, por conseguinte, a monetização dessas músicas tanto na fase negocial quanto no processo de difusão da peça audiovisual não publicitária (ECAD).

  2. Olá! Então para mim poder trabalhar na área como supervisora musical eu teria que fazer o curso de audiovisual? Encontra-se pouco sobre essa área e eu gostaria de estar trabalhando na criação de trilhas sonoras para filmes, séries e jogos:)

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