"Rua Guaicurus", de João Borges, estreia nos cinemas em 14 de julho

Partindo de uma combinação entre o documental e a encenação, o diretor mineiro João Borges cria em "Rua Guaicurus" um retrato sobre o universo da prostituição no local que dá título ao longa, em Belo Horizonte. "A elaboração de um roteiro híbrido me ajudou a ter maior controle sobre o plano de filmagens, as locações, os personagens e atores que toparam participar", conta o cineasta. A produção chega aos cinemas em 14 de julho, com distribuição da Embaúba Filmes.

Borges partiu de longo processo de pesquisa, que começou em 2016, quando participou de uma residência artística, em parceria com a Associação das Prostitutas de Minas Gerais (APROSMIG), realizada nos hotéis de prostituição da rua Guaicurus. Ele produziu, na ocasião, uma série de imagens usando uma câmera de infravermelho, registrando as trabalhadoras do sexo e seus clientes dentro dos quartos dos hotéis de prostituição. Depois disso, ao lado de Marina França, pesquisadora do tema, e Francilins Castilho, fotógrafo e artista plástico, escreveu o projeto para o filme, que foi contemplado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.

Um dos maiores desafios que o cineasta enfrentou para fazer "Rua Guaicurus" foi conseguir autorização de clientes e dos donos de hotéis de prostituição para realizar as filmagens. "Por isso convidamos atores para desempenhar esses papéis. Convidei também uma atriz para fazer o papel da prostituta que estava começando na profissão. Os atores interpretaram seus personagens inspirados em histórias que foram contadas durante o processo de pesquisa. Acho que essa relação contribuiu para a dramatização do filme: o ator profissional trazia segurança ao não-profissional. E este, por sua vez, contribuiu para a improvisação, a espontaneidade, aquilo que escapasse ao controle, dando o tom documental que o filme apresenta". 

O diretor define a Rua Guaicurus, que existe desde os anos de 1950, como "uma zona moral". "Ninguém diz que vai lá, ela é condenada pelo julgamento alheio; no entanto, atravessa os tempos. O conjunto de prédios antigos do baixo centro, em estilo art déco, é um verdadeiro patrimônio da cidade e se mantém de pé graças à atividade sexual intensa da região". 

Uma das atrizes do filme é Elizabeth Miguel, que trabalhou como garota de programa naquela rua entre 2014 e 2017. Ela conta que conheceu o cineasta na época em que João realizava sua pesquisa para o filme: "Ele foi me convencendo aos poucos, eu não fui convencida de uma vez. E foi bem revelador pra mim, porque a minha família não sabia que eu era garota de programa, eu não tinha uma confiança aprofundada  ainda, eu tinha um certo receio, sabe? Mas conforme as coisas foram acontecendo, o João foi me falando como era o trabalho, que era um trabalho sério, na maior parte didático, então fui tomando confiança, conhecendo a equipe". 

Elizabeth explica que, no filme, consegue ver a Rua Guaicurus muito bem retratada, como ela de fato é. "É um ambiente sexual, os hotéis na Guaicurus são de ambientes puramente sexuais. Quando você sente aquela atmosfera no filme, vê os clientes passeando pelo corredor, abordando as meninas, você percebe que é realmente daquele jeito que acontece, que é realmente daquela forma que se trabalha no dia a dia, no cotidiano. Isso me chamou muita atenção porque é muito difícil de retratar". 

Borges, por sua vez, aponta que "Rua Guaicurus" traz coisas que passam despercebidas aos olhos dos transeuntes que passam pela região. "Acho que o filme supera uma visão estereotipada e preconceituosa da prostituição. As trabalhadoras do sexo são objetificadas em sua profissão e, neste sentido, o filme supera este olhar,  entrando em seus cotidianos, revelando camadas afetivas que estão para além das relações prostitutivas". 

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