Ary Rosa e Glenda Nicácio celebram parceria com a ELO Studios e anunciam novos projetos

Ary Rosa e Glenda Nicácio (Foto: Anastácia Flora/ Divulgação)

Em julho, cinemas selecionados receberam a mostra "Cinema é Cachoeira – Os filmes de Ary Rosa e Glenda Nicácio", focada nos projetos da dupla baiana de cineastas. Para além de serem parceiros de trabalho, os dois mantém ainda uma outra parceria importante: com a ELO Studios, que está com eles desde o primeiro lançamento, "Café com Canela", de 2017, e seguem trabalhando juntos até hoje – a mostra, por exemplo, contou com a coprodução da ELO e da Rosza Filmes, que é a empresa produtora dos diretores. O evento exibiu, além de "Café com Canela", os títulos "Até o Fim" (2020), "Voltei!" (2021), "Ilha" (2018) e "Mugunzá" (2022) – esses dois últimos até então inéditos nos circuitos comerciais de cinema.

"Em 'Café com Canela', a ELO foi a primeira e única produtora que mostrou interesse no projeto. A partir daí, a gente começou a construir uma relação que foi se afinando com o tempo. Eles foram entendendo a nossa estrutura de produção, assim como a gente foi entendendo a estrutura de produção deles", contou Ary Rosa em entrevista exclusiva para TELA VIVA. "Hoje, a gente consegue, com muita rapidez, compreender os trabalhos, as divisões de trabalhos que existem entre nós na produção e eles na distribuição, assim como isso pode ser proveitoso em diálogos onde eles também trazem questões de produção e a gente também leva questões de distribuição. Tem sido uma parceira importante, tanto para conquistar os editais como também para levar pro mercado, da forma mais ampla possível, os nossos filmes. A ELO compreende quais são os caminhos mais interessantes para cada um deles, que são muito plurais. Temos filmes de vários nichos – e a ELO tem cada vez mais entendido as possibilidades e potencialidade dos projetos", acrescentou. 

Sabrina Nudeliman Wagon, CEO da ELO Studios, destacou: "Cinema se faz em várias mãos e exige paciência e negociação. Ter parcerias duradouras é essencial para a construção de qualquer empresa – e, no cinema, mais ainda. Com a ELO chegando aos seus 20 anos em 2025, temos muito clara a definição de trabalhar com menos títulos e de forma mais profunda com cada um. Além disso, hoje conhecemos grande parte dos produtores do mercado e selecionamos quem tem a visão mais alinhada com a nossa. Acho que essa é uma enorme vantagem da idade". A executiva ainda salientou: "Estando em São Paulo, temos maior dificuldade de conhecer os grandes talentos fora do eixo e, por isso, sempre priorizamos a ida a mercados regionais. Acreditamos que existe um enorme talento e potencial fora do eixo Rio-São Paulo". 

Território como personagem 

Ary Rosa e Glenda Nicácio vivem no Recôncavo da Bahia desde 2010, onde fundaram a produtora independente Rosza Filmes no ano seguinte. No Recôncavo, encontraram na cultura popular local a pulsação para a realização em cinema, desenvolvendo filmes onde o processo de produção, a narrativa e a estética são elementos pautados nas dinâmicas do interior e facilmente identificáveis pela audiência de todo o país. Para a ELO, atuar em parceria com a dupla vai ao encontro de seu objetivo se ressaltar projetos que representem a diversidade do público nacional, a fim de impactar positivamente todos os públicos. 

O território é sempre um personagem para os filmes dos dois – tanto os já lançados quanto os projetos futuros, que serão gravados no Recôncavo. "Filmar lá vai trazer também esse território para tela como um personagem protagonista. Isso também possibilita que a gente mantenha uma estrutura de produção que pensa também na economia do lugar. Não dá pra simplesmente pensar só nos valores simbólicos, mas também pensar nos econômicos. Então, de alguma forma, o Recôncavo, dentro desse recorte – cidades de Cachoeira, São Félix em Muritiba – participam do filme simbolicamente como personagem, como representação, mas também como economia. E esse é um ponto muito importante, muito caro pra nós", ressaltou Nicácio. 

"Outro ponto muito importante é que ali a gente criou uma estrutura de equipe para realização dos filmes. Então, quando a gente pensa em gravar um filme no Recôncavo, já temos toda uma estrutura que vai dos serviços diretos aos indiretos para produção dessa obra. E, simbolicamente, o Recôncavo é um território muito importante tanto pra Bahia quanto pro Brasil, seja na questão histórica quanto na questão das suas tradições e de sua cultura. Poder trazer, se aproximar, conversar, dialogar com essa cultura, enriquece muito os filmes", completou. 

Projetos inéditos 

A parceria dos cineastas com a ELO Studios segue com três novos projetos. Para novembro, estão previstas as filmagens de "Todo Sentimento", obra solo de Ary Rosa. Trata-se de um longa-metragem de ficção, de aproximadamente 90 minutos. No enredo, caos atinge o Brasil numa tomada religiosa contra a população LGBTQIA+. Recluso numa fazenda colonial, Henrique, um homem cineasta negro, famoso no passado e hoje amargurado e paralisado da cintura para baixo, recebe a visita do misterioso Gustavo, que alega ter sido enviado para cuidar dele. Henrique não confia em Gustavo, sendo duro com o rapaz, que aos poucos consegue se aproximar dele. A desconfiança de Henrique se prova quando ele descobre que o Gustavo não é bem quem diz ser, o fazendo ter que encarar o passado que tanto queria esquecer e perceber que seu esconderijo do mundo não é mais tão seguro assim.

Ainda em meados de novembro e dezembro, a dupla deve rodar "Flores do Recôncavo", que dirigem juntos. O projeto também é um longa de ficção, de drama/comédia. "Esse projeto parte da premissa de contar uma narrativa clássica, onde o protagonismo feminino seja retratado, fortalecendo e valorizando relações de afeto entre mulheres que vivem em um tempo duro, marcado por agressões machistas e opressoras que tentam calar, controlar e violentar corpos, pensamentos e vivências femininas", adiantou Nicácio. A história está ambientada na cidade de Cachoeira e se debruça sobre a vida de quatro mulheres: Rita, Marina, Joana e Dolores – mulheres comuns que vivem cada uma na sua solidão.

E, entre janeiro e fevereiro do próximo ano, a dupla volta ao set para filmar "Quem tem com que me pague, não me deve nada", mais uma obra de ficção, e que também será gravada majoritariamente no Recôncavo Baiano. A trama acompanha Henrique, diretor de cinema paulistano que se encontra à beira de mais um fracasso na sua carreira. É quando ele é convidado para dirigir a turnê de shows de Cristian Mugunzá, o cantor mais amado da Bahia. Jovem, divertido e irreverente, Cristian irá mostrar ao cineasta que a vida real pode ser muito mais desafiadora do que um roteiro de ficção; com música, bons amigos, doses de drama e muita comédia. 

Todos os longas contam com a parceria da ELO e serão filmados em Cachoeira, no Recôncavo Baiano. Além disso, os três projetos usam recursos do Fundo Setorial do Audiovisual. Os filmes serão rodados quase que simultaneamente. A cineasta fala sobre o desafio: "Ao longo dos anos, a gente foi construindo uma equipe grande, que faz parte do próprio Recôncavo. Então com isso a gente conseguiu também descentralizar os trabalhos. Na parte criativa, mantemos a mesma equipe, mas na parte técnica de produção a gente conseguiu ter um corpo de trabalho que possibilita fazermos isso. Dessa forma, a economia também gira de uma forma mais plural e os fundos também ganham olhares diferentes que vão sem dúvida nenhuma proporcionar também experiências estéticas e técnicas que vão ser particulares a cada um deles, já que as equipes também vão variando de acordo com os projetos". 

 

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