Netflix anuncia patrocínio cultural de R$ 5 milhões para a Cinemateca Brasileira

Maria Dora Mourão, Joelma Gonzaga, Elisabetta Zenatti e Mariana Polidorio (Foto: Wesley Allen/ Netflix)

Na manhã desta terça-feira, 1º de abril, a Netflix anunciou, durante evento realizado para imprensa na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, um patrocínio cultural no valor de R$ 5 milhões para a instituição, como parte do projeto de restauração, modernização e ampliação do complexo arquitetônico do espaço. A iniciativa, aprovada pelo PRONAC 235047, por meio da Lei Rouanet, marca a primeira vez que a Netflix utiliza esse mecanismo de incentivo cultural para apoiar a cultura e o audiovisual no Brasil.

"O que estamos apoiando, na verdade, é o patrimônio do audiovisual. Valorizando o audiovisual estamos também, de certa forma, inspirando novos criadores. E a gente precisa dos criadores brasileiros. Fazemos filmes originais, mas também licenciamos. O número de filmes licenciados é muito maior do que o de títulos originais. Por isso também precisamos dos filmes de cinema – que, depois, licenciamos para colocar no serviço. Tudo o que podemos fazer para incentivar o cinema brasileiro, a gente faz", disse Elisabetta Zenatti, vice-presidente de conteúdo da Netflix no Brasil, ao justificar a parceria. 

"Entendemos que é tudo parte do mesmo ecossistema. No final das contas, estamos falando de audiovisual brasileiro. Uma coisa retroalimenta a outra. Os mesmos profissionais que estão fazendo uma produção voltada inicialmente para o streaming, amanhã estarão produzindo para o cinema, e vice-versa. Essas janelas, junto a tantas outras, são complementares. Nossa parceria com a Cinemateca vem dessa percepção de que estamos todos conectados", acrescentou Mariana Polidorio, diretora de políticas públicas da Netflix no Brasil

Uso de recursos 

O investimento será aplicado na reestruturação e modernização da Sala Oscarito, que foi a primeira sala de projeção da atual sede da Cinemateca, inaugurada em 1997. As obras incluem adequações às legislações vigentes, melhorias nas instalações técnicas e modernização do sistema de climatização, visando garantir acessibilidade e adotar tecnologias que tornem o ambiente mais atual e eficiente. Com este acordo, a Netflix se torna a primeira empresa da iniciativa privada a fazer parte do projeto de revitalização e modernização da Cinemateca Brasileira desde sua reabertura, em 2022.

Além da reforma da Sala Oscarito, o projeto de restauração da Cinemateca inclui ações como recuperação de alvenarias, climatização de espaços técnicos e áreas de pesquisa, implantação de paisagismo e melhorias na acessibilidade de diversas instalações. A Cinemateca projeta serem necessários quase R$ 30 milhões para a restauração completa. O BNDES e o banco Itaú já são parceiros, e a instituição segue aberta a novas parcerias. 

O projeto ainda está em fase de captação. Maria Dora Mourão, diretora-geral da Cinemateca Brasileira, afirmou que eles ainda não chegaram ao total de recursos necessários para iniciar a obra – ela deve começar apenas quando 50% do valor estimado já estiver captado. Nesse momento, será feito um edital para contratar a construtora e aí, sim, o processo terá início. Mas o projeto já existe e foi aprovado para captação via Lei Rouanet. "Esperamos até o fim do ano estar no processo de início da obra", adiantou Mourão. 

Melhorias pretendidas 

A diretora detalhou as mudanças que o projeto prevê para a Sala Oscarito, que permanecerá com esse nome: "Do ponto de vista arquitetônico, ela será totalmente modificada. Hoje, a porta de entrada fica do lado da tela, o que sabemos não ser o ideal para uma sala de cinema. No futuro, teremos um corredor e uma porta que abre para o meio da sala. Também haverá uma redução de tamanho porque teremos fileiras especiais para acessibilidade. As poltronas serão trocadas por outras mais confortáveis". 

Ela contou ainda que o arquiteto responsável se inspirou nas salas de cinema da Inglaterra, que são pensadas não só pelo conforto, mas também visando que o espectador se sinta imerso naquele espaço. "Hoje em dia, as pessoas vão menos ao cinema. Quando vão, esperam sentir algo a mais. Então nossa ideia é justamente essa: oferecer uma experiência cinematográfica em sua totalidade, com som e imagem os mais atuais o possível, que algumas salas de cinema de São Paulo já têm. A Cinemateca tem que ter esse tipo de sala mais atualizada. Mas ela será não só para exibir o novo, claro. Manteremos a possibilidade de fazer qualquer tipo de exibição". 

Desenvolvimento da parceria e contrapartidas 

A Netflix possui um acordo semelhante na França – a plataforma de streaming é apoiadora da cinemateca francesa desde meados de 2018. Além disso, apoia dos cinemas nos Estados Unidos, um em Los Angeles e o outro em Nova York. Mas o formato de parceria francês é o que mais se assemelha ao novo acordo no Brasil. "Quando você entra na Cinemateca Francesa, vê um grande banner dos patrocinadores, sendo a Netflix um dos principais. Pensei 'por que não fazer o mesmo na Cinemateca Brasileira?'. Foi quando nossa área de captação de patrocínios começou o contato com a Netflix", revelou Mourão. 

Polidorio ressaltou que, quando a Cinemateca entrou em contato, a conversa já existia internamente: "Já tínhamos pensado nessa possibilidade de replicar a parceria com a França, mas não tínhamos feito esse contato ainda. Somamos uma vontade interna nossa e a iniciativa que eles tomaram de nos procurar. Viemos conhecer o projeto, entender o que fazia sentido. Naquele momento, eles já tinham mapeado as prioridades e inscrito o projeto para a captação via Lei Rouanet". 

Como o aporte é feito pela lei, já existem uma série de regras para o modelo de negócio a serem seguidas. No mais, a Netflix não terá contrapartidas contratuais. "Não temos a perspectiva, pelo menos não nesse momento, de ter naming rights ou realizar eventos específicos aqui. É claro que podemos usar esse espaço para estreias e lançamentos, como já fizemos anteriormente, ou ainda eventos de outra natureza. A porta está aberta, e daqui para frente cada vez mais, mas não necessariamente como contrapartida no contrato desse aporte. A Netflix entende sua co-responsabilidade como ator privado nesse espaço tão importante para o audiovisual. Estaremos presentes apoiando a Cinemateca e pensando não só no seu espaço físico, mas no simbolismo e na mensagem que tem para o audiovisual brasileiro. Vamos respeitar esse legado, olhar para o futuro e entender como a Netflix e outros atores privados que fazem parte desse ecossistema também podem contribuir nessa iniciativa", declarou Polidorio. 

Mourão complementou: "A Netflix é uma empresa da nossa área, então será fácil manter o diálogo e ações que sejam interessantes para ambas as partes. Essa aproximação nos possibilitará pensar em muitas outras coisas para além das que já estávamos fazendo". 

Importância da preservação 

Para a diretora-geral da instituição, ter uma empresa como a Netflix apoiando a Cinemateca significa ter diretamente um apoio à preservação audiovisual e, ao mesmo tempo, divulgar sua importância: "A preservação é muito necessária, embora ainda não seja levada tão a sério. As pessoas acham que fazer cinema é só produzir filmes e lançá-los. Mas existe um lado muito fundamental que é preserva-los, ter memória cinematográfica. Essa questão é pouco discutida. Quando empresas como a Netflix e outras apoiam a Cinemateca, elas estão ajudando a publicizar o nosso trabalho". 

Também presente no encontro, a Secretária do Audiovisual do Ministério da Cultura, Joelma Gonzaga, enfatizou a preocupação da pasta com o tema. "Tão importante quanto produzir é preservar. Nossa indústria ainda é tímida nesse pensamento. A Secretaria vem trabalhando arduamente nisso. Olhar para a Cinemateca com muito mais atenção e cuidado do que as gestões anteriores tem sido um desafio que abracei na minha gestão. Ações como esta, quer dizer, uma empresa do porte da Netflix apoiar o centro da memória do cinema brasileiro, são muito importantes. Espero que muitas outras empresas privadas também olhem para esse espaço – que não é só um espaço do cinema brasileiro, e sim da cultura brasileira como um todo", concluiu Gonzaga.

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