Seis insights do Rio2C 2025 para o setor audiovisual

Rio2C 2025 (Foto: Divulgação)

A sétima edição do Rio2C chegou ao fim no último domingo, dia 1º de junho, após seis dias de uma intensa programação que movimentou a Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, com painéis, shows, pitchings, rodadas de negócios, masterclasses e uma série de experiências para o público. Com a participação de grandes nomes da indústria criativa, o evento reafirmou seu protagonismo no calendário anual.

O audiovisual é um dos temas centrais da programação do evento. Nesta edição, foram debatidos temas quentes da indústria, como o avanço do segmento Fast, os 100 anos da Globo, design de audiência, coproduções e parcerias internacionais, a regulação do VoD e os próximos planos da Ancine, do Ministério da Cultura e da Secretaria do Audiovisual, entre outros. Abaixo, você confere seis insights de destaque. 

A hora e a vez da Globo 

No ano de suas grandes efemérides – os 100 anos do Globo, os 60 da TV Globo, os dez do Globoplay, entre outros – a Globo foi o player de grande destaque no evento. No primeiro dia de programação, na última terça, 27, ela dominou o palco principal, o Global Stage, que é o maior do espaço, com a agenda que chamou de "Summit Acontece Globo", e que aconteceu das 10h às 17h30. 

O dia começou com uma fala de Paulo Marinho, que destacou os recentes prêmios do audiovisual brasileiro e reforçou a importância da parceria do grupo com o mercado independente e os grandes criadores e produtores de conteúdo. "Nós acreditamos que se queremos contar as melhores histórias, precisamos estar cercados dos melhores contadores de histórias", disse o executivo. "Juntos, construimos um mercado forte, colocamos a força criativa e de produção dos Estúdios Globo e toda a potência de promoção das nossas telas a favor do fortalecimento da indústria audiovisual brasileira. É a Globo funcionando como um dos motores da nossa indústria, rodando junto para impulsionar o talento e a criatividade brasileira", acrescentou. 

Na sequência, o palco recebeu a especialista de pesquisa da Globo Iara Velloso Poppe, que elencou seis fragmentos culturais que ditam o que está em alta no Brasil; e Virginia Mouseler, CEO da The Wit, hub global de inteligência para a indústria audiovisual, que resumiu que, atualmente, IPs consolidados, o ambiente digital e as histórias reais ditam caminhos da produção audiovisual. Já Renato D'Angelo, da The Walt Disney Company; Fabiano Gullane, da Gullane Entretenimento; Alex Medeiros, do Globoplay; e Renata Brandão, da Conspiração, participaram de um bate-papo sobre os diferentes modelos de parceria – uma tendência atual do mercado – e as novas oportunidades de coprodução. Mesas sobre jornalismo, novelas e esporte também integraram a agenda do "Summit Acontece Globo".

No dia seguinte, quarta, 28, a Globo comandou seu já tradicional painel principal, onde apresentou seus próximos lançamentos de reality shows, séries, humor e novelas. Uma das grandes apostas para este ano é a série "Raul Seixas: Eu Sou", que chega com exclusividade ao Globoplay em junho. No palco do Rio2C, o ator Ravel Andrade, que interpreta o cantor, se apresentou cantando "Gita" para anunciar detalhes da produção, que também teve seu trailer exibido. A nova série foi a primeira brasileira selecionada no festival Series Mania, da França. A produção Original Globoplay foi criada por Paulo Morelli ("Cidade dos Homens") e dirigida por ele ao lado de Pedro Morelli, seu filho, com produção da O2 Filmes. 

No mesmo painel, Amauri Soares, diretor-executivo dos Estúdios Globo e da TV Globo, e Manuel Belmar, diretor de produtos digitais da Globo, enfatizaram os investimentos em filmes, principalmente os que possuem o cinema como primeira janela; celebraram os resultados dos últimos títulos, como o Oscar inédito de "Ainda Estou Aqui", um Original Globoplay; e anunciaram novos longas, como "Os Corretores", uma tragicomédia imobiliária (real state tragicomedy) dirigida por Andrucha Waddington (de "Vitória") e produzida pela Conspiração (que foi coprodutora de "Ainda Estou Aqui") com a Globo Filmes. Fernanda Torres escreve e protagoniza a obra. 

Num ano em que os grandes players de streaming, como Max, Prime Video e Netflix, diminuíram sua participação no evento carioca, a Globo ganhou ainda mais destaque. Em vez de aproveitar o palco do Rio2C para anunciar suas próximas estreias como fez nos últimos anos, a Netflix preferiu informar à imprensa sobre seus lançamentos via comunicado às vésperas do evento. A Max até fez o tradicional painel, mas com poucas novidades. Já o Prime Video esteve presente, mas não falou sobre estreias. 

Fast: agora vai ou ainda está trançando as pernas? 

O segmento Fast ganhou muito mais espaço no evento – isso foi nítido. No primeiro dia, o palco Summit Fast Samsung TV Plus reuniu apenas painéis sobre o tema. Na ocasião, foi apresentado um panorama atual do Fast, seguido por debates sobre o impacto do conteúdo ao vivo no Fast, as diferentes estratégias das plataformas para crescer no segmento, o poder dos dados, como criar um canal Fast e mídia programática. A SOFA DGTL aproveitou o espaço para fazer importantes anúncios: três novos canais e um acordo com a Kivi. No dia seguinte, o Fast voltou a ser tema de discussão, com LG Channels, Samsung TV Plus e Kivi Connected TV falando sobre o quão essencial é investir em conteúdo localizado nesse mercado.

Embora o Fast pareça estar em alta, os debates mostraram que os desafios ainda são enormes e que as estratégias seguem mudando. Pluto TV e Samsung TV Plus, por exemplo, assumiram uma mudança de rota feita: em vez de seguir lançando uma infinidade de canais, como fizeram no começo, as plataformas perceberam que, no Brasil, era mais importante apostar em conteúdo relevante, o que inclui transmissões ao vivo de esportes, música e notícias. 

Já Magda Martins, head de parcerias da Kivi Connected TV, pontuou que na América Latina como um todo a questão financeira ainda é uma dor do setor. "Em mercados como os EUA, por exemplo, que estão em outro estágio do Fast, o anúncio nele é visto da mesma maneira que um anúncio em um canal de TV – é cobrado de acordo (…) Aqui, vivemos hoje um grande desafio, que é levar para os anunciantes esse mesmo entendimento. Fast é linear. Mas ainda enfrentamos essa grande dificuldade para monetizar conteúdo", afirmou. A executiva revelou que, no Brasil e na América Latina em geral, ainda é desafiador lucrar em cima dos canais Fast.

Para os próximos anos, os executivos se dizem otimistas, mas entendendo que o crescimento não será de uma hora para a outra. Já faz algum tempo que o Fast é tratado a partir dessa visão de "agora vai" – mas, por enquanto, esse momento definitivamente ainda não chegou. 

Diferentes modelos de parceria 

Quem achava que inteligência artificial seria o termo mais ouvido durante o Rio2C se enganou. A palavra da vez é "parceria" – entre produtoras, canais, plataformas, países, entidades e por aí vai. Os modelos são variados. Globo e Disney, por exemplo, celebraram no palco do evento o acordo que firmaram para a produção de filmes. "Admiro o trabalho da Globo, que conhece o mercado brasileiro extremamente bem, assim como as produtoras independentes. Não conseguiríamos conquistar nosso objetivo de crescer no Brasil e fazer com que os conteúdos brasileiros sejam vistos aqui e no mundo sem parceiros. Com a Globo, anunciamos quatro projetos, mas estamos pensando em muitos outros. Temos admiração mútua e vontade de trabalhar mais juntos. E estamos abertos a novas parcerias também", ressaltou Renato D'Angelo, general manager da The Walt Disney Company. Os produtores da Conspiração e da Gullane também falaram sobre suas parcerias de produção com Globo e Disney. Como dito acima, as parcerias são essenciais também na visão dos grandes executivos da Globo – a empresa tem firmado inclusive acordos de coprodução internacionais, como o recém-anunciado memorando de entendimento para coproduzir conteúdo roteirizado premium com o Telemundo Studios

Extrapolando as fronteiras entre os territórios, o potencial para o incremento da coprodução audiovisual entre países latino-americanos, com destaque para o Brasil, foi um dos temas centrais abordados pelo produtor executivo Diego Ramirez, CEO da Dynamo, e pela roteirista Camila Brugés durante um painel no evento. Ambos os profissionais veem um cenário propício para mais parcerias, apesar de barreiras históricas percebidas, como o idioma. Brugés comentou que "a língua nos faz sentir que não podemos conectar, e creio que é incorreto". Ramirez observou que o idioma já não deveria ser um impeditivo e que, embora "o Brasil tem um mercado interno tão grande e tão forte que até muito pouco tempo atrás a coprodução não era necessária", o contexto atual da indústria pode fomentar essas colaborações.

Turismo e audiovisual seguem juntos 

Ainda falando em parcerias, mas desta vez entre os setores, a Netflix e a Embratur anunciaram um acordo de cooperação para impulsionar o turismo audiovisual. A parceria será composta por duas etapas. A primeira é uma campanha publicitária exibida em primeira mão no evento e que já está sendo divulgada, que associa o potencial turístico do Brasil a produções que já conquistaram o público global, como "Cidade Invisível", gravada na Floresta Amazônica; "Casamento às Cegas Brasil", com temporadas filmadas em destinos como Amparo (SP) e Bom Jardim da Serra (SC); e "Sintonia", que destaca as paisagens urbanas da periferia de São Paulo. Já a segunda fase prevê o lançamento de um guia de viagem que reunirá roteiros e experiências turísticas baseadas em títulos de destaque da Netflix que tiveram alto engajamento local e global e que refletem os principais ativos culturais que a Embratur deseja promover. O material será lançado no final deste ano e refletirá sobre os ativos culturais e naturais promovidos pela Embratur.

O foco é a internacionalização

Da mesma forma que a parceria da Netflix com a Embratur está olhando para além das fronteiras do Brasil, o Prime Video participou do evento falando de outro ponto importante que visa também essa inclusão do país no mapa global: o cash rebate. 

Márcio Tavares, secretário-executivo do Ministério da Cultura, foi um dos participantes do painel promovido pelo Amazon Prime. Na ocasião, Tavares garantiu que a implementação de um programa de film commission a nível nacional, que garanta instrumentos de atração de incentivo como o próprio cash rebate, é uma questão que está sendo tratada como agenda prioritária e uma entrega que a pasta deseja deixar até o fim de sua gestão, como um complemento ao sistema de fomento ao audiovisual brasileiro. Juliana Funaro, sócia e diretora executiva da Barry Company, que moderou o painel, declarou: "Como produtora, tenho convicção de que se isso não acontecer em curtíssimo prazo, o país será muito prejudicado. Perderemos o interesse de parceiros internacionais, como coprodutores e investidores, e vamos assistir a uma diminuição gradativa das produções em território nacional, o que seria desastroso para a nossa indústria". 

Por fim, a Ancine participou de uma mesa ao lado do BNDES no qual ficou claro que ambas estão mirando a internacionalização de empresas e de projetos. Em março, por exemplo, o Banco aprovou financiamento de R$ 23 milhões ao plano de negócios da produtora Conspiração.  O valor prevê o financiamento ao desenvolvimento, produção, comercialização e internacionalização de obras audiovisuais, além de investimentos em infraestrutura, com aquisição de equipamentos para melhorar os processos de produção e pós-produção. A novidade é a aprovação do financiamento de R$ 25 milhões para a distribuidora Paris Filmes investir e ampliar sua atuação – agora incluindo novos mercados na América Latina e países falantes de língua portuguesa. 

"A internacionalização é um dos nossos focos, e isso está aberto ao segmento de jogos eletrônicos também", ressaltou Gustavo Rolla, especialista em regulação da Ancine. "O brasileiro tem histórias criativas e muito interessantes, mas quando a gente leva pro mundo, não conseguimos sincronizar", lamentou. 

A iminente regulação do VOD 

Depois de muitos anos discutindo a regulamentação do vídeo sob demanda, parece que agora – finalmente – o Brasil está prestes a avançar de forma efetiva nesse sentido. No Rio2C, o Governo Federal se posicionou pela primeira vez a favor do substitutivo da deputada Jandira Feghali (PCdoB/RJ) ao PL 2.331/2022. No mesmo painel, o presidente da Agência Nacional do Cinema, Alex Braga, afirmou que a agência se prepara para a aprovação e o início da aplicação da lei ainda em 2025. No dia seguinte, a secretária do audiovisual endossou o coro, e quando questionada sobre qual seria um caminho alternativo caso o PL em questão não fosse aprovado, Gonzaga foi categórica e afirmou que não existe a possibilidade disso acontecer. As entidades do audiovisual também estão otimistas e se posicionando favoráveis ao texto. 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui