No último dia 24 de julho, chegou ao Disney+ a quinta temporada de "Impuros". A produção é a série nacional mais longeva da Disney – e inclusive já tem uma próxima temporada confirmada. A obra estreou originalmente em 2018 – na época, no canal Fox da TV por assinatura. Depois, se tornou um produto do Star+ e, mais recentemente, com a fusão das plataformas do Grupo Disney, passou a fazer parte do catálogo do Disney+, onde estreou sua nova temporada e onde o público também pode encontrar todas as anteriores. A série rendeu duas indicações de Melhor Ator, em 2019 e em 2020, para Raphael Logam, que interpreta Evandro, o protagonista. Uma produção Barry Company, "Impuros" é dirigida por René Sampaio, Tomás Portella e Tatiana Fragoso.
Em entrevista exclusiva para TELA VIVA, Sampaio contou que, desde o início, o objetivo era manter a autenticidade e a profundidade dos personagens – e que isso ajudou com que a série continuasse a agradar quem já era fã ao mesmo tempo em que foi atraindo novas audiências: "A cada temporada, exploramos novas camadas de suas histórias, mantendo a tensão e os elementos que nossos fãs amam. Ao mesmo tempo, introduzimos novos personagens e tramas que são acessíveis para novos espectadores, permitindo com que eles se conectem com a série, sem se sentirem perdidos". Já Portella comentou que cada episódio, apesar de seguir uma trama serializada, tem uma história dentro dele, vertical, que começa e acaba: "Isso é super importante para a conexão com o novo espectador, que pegou no meio e vai se sentir satisfeito ao assistir. Mas entregamos quase tudo – deixamos sempre um gancho no final para ele querer ver mais. A gente tenta trazer essas histórias independentes e também novidades, com temas que ainda não tratamos".
Fragoso, por sua vez, que entrou no projeto na terceira temporada, disse que logo percebeu a importância de manter a essência que cativou o público original mas, também, evoluir com a trama de cada personagem: "A narrativa é dinâmica e sempre se adapta para engajar tanto os veteranos quanto os recém-chegados".
Relação de troca com o público
E, falando no público, é claro que, com o passar dos anos a troca com ele foi ficando cada vez mais intensa. Para Sampaio, essa interação é fundamental. "Sempre ouvimos o que eles têm a dizer nas redes sociais e em eventos. Esse feedback nos ajuda a ajustar a direção da trama e a desenvolver personagens de maneira que ressoe melhor com os espectadores", afirmou. "Desde que me juntei à equipe, tenho sido muito ativa em ouvir o que os fãs pensam. Eles são apaixonados e muito envolvidos, e isso definitivamente impacta como abordamos as histórias e os personagens. É um diálogo constante, e que enriquece a série", completou Fragoso.
Portella também elogia essa relação e diz que essa troca dá força para seguirem desenvolvendo a história, mas ressalta: "Temos que analisar essas respostas de forma mais profunda, porque às vezes a pessoa odeia um personagem e nossa intenção era justamente essa, para que ele vá amar o outro. Então precisamos interpretar". Ele cita ainda o feedback da própria equipe, que contribui com ideias e comentários. "Somos todos muito fãs da nossa própria série. Então juntamos tudo isso para pensar em histórias novas. E pesquisamos muito. O universo do crime no Brasil é muito grande e de uma inventividade enorme. Assim como o lado 'pessoal' da série, que fala das relações, e também raz muita coisa pra nós. Todo mundo tem um conflito familiar. Tem assunto para sempre", brincou.
Equilíbrio entre tensão e leveza
Nesse sentido, é importante ressaltar que "Impuros" segue sendo relevante mesmo num cenário em que o público tem acesso a cada vez mais produções audiovisuais, vindas do mundo inteiro, disponíveis em diferentes janelas, canais e plataformas. Segundo Sampaio, a relevância está na capacidade da série de contar histórias humanas e universais, apesar do contexto específico. "O público se conecta com os dilemas e conflitos dos personagens, que são representações de realidades palpáveis. É a história de mãe e filho do lado do Evandro e da Arlete, a de pai e filha entre o Agente Morello e sua filha Inês, e as relações do Evandro com sua nova família, que o protagonista construiu com a Geise, que levam a história pra frente", disse. Portella reforçou: "Além de ser uma série sobre drogas, polícia, ação, tiroteio, é uma série sobre família, e todo mundo se identifica porque todo mundo tem questões familiares. Essa tridimensionalidade dos personagens e conflitos familiares por trás desses conflitos 'profissionais' acaba dando fôlego pra gente".
As relações e os momentos mais "leves" da trama, aliás, são tão presentes e essenciais para o seu desdobramento quanto os conflitos centrais, que giram em torno do combate ao crime e ao crescimento do tráfico nas comunidades. "Equilibrar os momentos de tensão com cenas mais leves é crucial para a narrativa. Isso não apenas torna a série mais palatável, mas também mais realista. A vida nas comunidades é cheia de desafios, mas também de momentos de alegria e esperança e, no nosso caso, também com muito humor", pontuou Sampaio. Portella complementou: "Temos que trazer a realidade. É claro que o traficante não fica ali com cara de mal, bravo o dia inteiro. Nem o policial. São pessoas que fazem essas mesmas coisas todos os dias, atentas ao trabalho, claro, mas também sabem brincar. Então as sequências mais leves, além de dramaticamente trazem alívio para a história, dão mais noção de realidade para aquele universo".
Fragoso, por sua vez, observa: "A série aborda temas universais, mas usamos uma linguagem extremamente brasileira. Essa combinação de relevância temática com alta qualidade de produção e uma assinatura que o Brasil reconhece como sua é o que nos faz merecer o reconhecimento do público".
Personagens complexos e tridimensionais
Ainda nessa análise do equilíbrio que "Impuros" traz entre tensão e leveza, os próprios personagens também alternam entre o "bem" e o "mal", e mesmo aqueles que têm atitudes questionáveis trazem um lado humano, de amor à família e aos amigos, muito forte – algo que também foi pensado desde o início. "Queríamos criar personagens complexos e tridimensionais. Ninguém é inteiramente bom ou mau, e essa ambiguidade é o que torna os personagens mais realidades e interessantes", avaliou Sampaio. Para Fragoso, essa ambiguidade moral é fundamental para a série, pois "os personagens são reflexos de seres humanos reais, com todas as suas contradições e complexidades, o que torna a narrativa mais rica e autêntica".
Pensando nisso, Portella cita a tradição do melodrama, que exige um personagem bom e outro mal, em modelos mais estereotipados, e observa que "Impuros" foge disso. "Até o nome da série. Ninguém é totalmente puro. Tentamos ser tridimensionais com todo mundo. Tem uma questão muita forte de ética e moral. Nossos personagens são éticos. Eles têm uma moral distorcida, é verdade, mas seguem firmes naquilo que acreditam. Faz parte da ética deles. Eles têm um conceito forte de justiça – que é entendida por cada um de um jeito diferente. Seja no tráfico, na polícia, na política ou em qualquer outro lugar, as pessoas trabalham, se esforçam e querem crescer por amor à família, para ajudar os seus, para dar uma vida melhor para os filhos ou curtir com os amigos. Então não teria porque tirarmos essa perspectiva do policial ou do traficante. No fundo, somos todos humanos, regrados por esses laços, que são tão fortes. Isso é totalmente intencional. Lutamos para não cair no estereótipo".
Futuro
Os diretores seguem apostando na continuação do projeto. "Sempre há histórias a serem contadas no universo de 'Impuros'. Enquanto houver interesse do público e novas ideias a explorar, estaremos abertos a continuar a jornada", disse Sampaio. "A gente também se surpreende e é fã da série. Enquanto for divertido e instigante pra gente, acredito que será para o público também", completou.
Fragoso relembrou que o tempo da série é outro – a quinta temporada ainda nem chegou aos anos 2000 – e que por isso ainda há mais de 20 anos de histórias pra contar. "Os personagens ainda tem muitos segredos internos que não foram revelados, e muitas vezes nem eles sabem que têm. Como a série tem sempre reviravoltas inesperadas, tem muito espaço pra mudar o caminho desses personagens. Há sempre espaço para mais, especialmente quando temos um público tão dedicado. Então uma nova temporada é definitivamente uma possibilidade", concluiu.