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“Cidade de Deus: A Luta Não Para” traz a favela como potência e fortalece personagens femininas

(Foto: Renata Nascimento/ HBO)

No último dia 25 de agosto, estreou na Max e na HBO, com exibições semanais aos domingos, a série HBO Original “Cidade de Deus: A Luta Não Para”. Trata-se de uma continuação adaptada da obra literária de Paulo Lins que conta a história de seus personagens, tendo como ponto de partida o trabalho de fotógrafo de Buscapé. O enredo se passa em 2004, 20 anos após os acontecimentos do filme, quando a saída de um jovem traficante da cadeia coloca a Cidade de Deus de novo em disputa. Os moradores se veem acuados entre traficantes, milícia e poder público, mas a necessidade de escapar desse ciclo faz a comunidade se unir para enfrentar o opressor.  

“Cidade de Deus: A Luta Não Para” é uma série HBO Original produzida pela O2 Filmes. Os produtores responsáveis pelo projeto são Andrea Barata Ribeiro e Fernando Meirelles, os coprodutores são Cris Abi e Gustavo Gontijo. Aly Muritiba assina a direção geral e Bruno Costa entra como segundo diretor. O roteiro é de Sérgio Machado, Renata Di Carmo, Armando Praça, Estevão Ribeiro, Rodrigo Felha e Muritiba. Por parte da Warner Bros. Discovery a produção executiva é de Mariano Cesar, Anouk Aaron e Mônica Albuquerque. No momento, a série ocupa o primeiro lugar entre as mais vistas no Brasil e, segundo dados de 29 de agosto, é a segunda série da HBO mais assistida no mundo inteiro. 

Renata Di Carmo é a única roteirista mulher da sala de roteiro e falou com exclusividade para TELA VIVA sobre sua relação com o filme que deu origem à série: “Ele é um marco, sem dúvida, reconfigura muita coisa a nível de cinema brasileiro, de linguagem, de inovação. Tanto que é um divisor, marcou um tempo e define imaginários dentro e fora do país. Tem estudo ali e o impacto é inquestionável. Quando digo que define imaginários é claro que há todas as discussões necessárias e pertinentes sobre o filme, seus desdobramentos, reflexões e questões muito importantes sobre a representação da periferia, sobre racialidade e sobre os impactos dessa formação imagética e o quanto reverbera em termos de construção de narrativa. Entretanto, a linguagem, a força, o magnetismo das personagens são inegáveis. Se definiu um jeito de fazer, e esse jeito, bebeu diretamente nas fontes negras, na dinâmica e nas referências culturais”. 

A roteirista contou que o time criativo esteve sempre em diálogo com o canal e com a produtora da obra, além é claro das trocas entre a própria equipe de roteiro, fazendo reuniões, trocas e pesquisas a fim de validar os caminhos que gostariam de percorrer. “Expandimos a história do filme imaginando o que teria acontecido com as personagens com o passar do tempo, fizemos propostas para personagens que eram muito pequenas no filme dando importância a elas, trouxemos as mulheres para o centro da trama, propusemos outras personagens, além de revelar na série uma favela agente de si mesma, criativa, de gente trabalhadora, empreendedora, que move as estruturas do sistema”, afirmou. 

Favela como potência e mulheres no centro da trama

Renata detalhou essa busca por trazer as mulheres para o centro da trama e ainda as demais escolhas narrativas que deram o tom para a série. “Foi uma escolha, e um desejo forte, trazer a favela como uma potência, fortalecer as personagens femininas e apostar como temática no embate entre o tráfico e a milícia. São escolhas que fizemos que definiram a narrativa da série. Dão o tom. O protagonista continua sendo o Buscapé, mas as mulheres chegam com força e são agentes de suas histórias, fazem política, movem as estruturas. Temos a política cotidiana e a institucional retratadas na série. Temos a articulação dessas personagens, de idades e sonhos distintos, contribuindo para mudar o rumo das coisas. A série segue os moradores enquanto eles enfrentam o tráfico de drogas, a corrupção e a milícia. Então, posso dizer que teve muita pesquisa e além disso, um comprometimento com o universo do filme e com a dignidade daquelas personagens. Expandir acreditando na potência tanto do novo quanto do consolidado”, definiu. 

Para a roteirista, o impacto que essa presença feminina na sala de roteiro  tem no trabalho com um todo e, principalmente, no processo de construção das personagens mulheres, fica nítido na obra. “E digo isso sorrindo, porque as personagens estão dizendo a que vieram e é bonito ver as atrizes confortáveis nessas histórias, ver que as personagens têm uma força tremenda, não estão orbitando em torno das forças masculinas, mas estão movendo a coisa toda. Me sinto orgulhosa de trazer as personagens femininas para o centro dessa história, elas estão no debate, elas levam a história para frente e são apaixonantes, têm aprofundamentos”, analisa. Nesse sentido, ela cita algumas, como Berenice e Cinthia, que são “forças fundamentais da história, são sensíveis, possuem seus dilemas, nuances, contradições e uma trama própria. Elas possuem falhas e fragilidades, porque humanizar certas personagens também é permitir que sejam assim – humanas, com falhas, defeitos e erros”. Renata também destaca a personagem Jerusa: “Me orgulho da construção dela, que é fora da caixa, intrigante, duvidosa, reprovável, transitando em um universo masculino, à lá Lady Macbeth”. 

Impactos e legado  

A série estreou há pouco tempo, mas já é possível pensar nos seus futuros impactos para o audiovisual brasileiro, assim como o filme teve. “A história das sociedades e os avanços em termos de processos democráticos e tentativas de processos igualitários são frutos de ações das classes populares, de décadas de lutas, de movimentos, de ações coletivas, e também de feitos individuais, mas essa articulação nunca é de cima para baixo, isso não existe. É necessário muita gente, muitas décadas, muito movimento, muita gente abrindo caminhos. Então, essa inversão que essa primeira temporada da série reivindica é uma marca importantíssima, que vai definir o que a própria série é e como se desdobra. São assuntos que me interessam dentro da dramaturgia”, observou. “Outro aspecto é o protagonismo feminino, sem dúvida. Não tinha como ser diferente. Não tinha como deixar as personagens ficarem orbitando em torno de um universo masculino, e elas são personagens com dilemas complexos, mas que não estão definidas pelas dores que carregam”, completou. 

E, pensando nas mensagens que ficam para o público, Renata acredita que fica uma reflexão também sobre como a política está na ordem do dia: “Não adianta deixá-la lá com uma meia dúzia, e justificar dizendo que é coisa de gente chata, corrupta e diferente da massa. É isso que essa meia dúzia quer. Vale entender como a população se articula nisso tudo, fica a provocação, a reflexão do quanto estamos implicados”. E conclui: “O ser humano é político, estamos em sociedade. Acho que a série tem tudo isso, sendo uma obra ficcional, conseguindo movimentar o público”. 

Renovação para a segunda temporada

Na última sexta-feira, dia 30 de agosto, a Max confirmou a segunda temporada da série. O anúncio foi feito antes mesmo da exibição do segundo episódio da primeira temporada, marcado para domingo, dia 1º. “Frente ao sucesso entre a crítica especializada e o público geral, a próxima etapa da história já está garantida, ainda sem previsão de data de lançamento, mostrando a força das histórias nacionais e temas que quebram barreiras globais”, disse o texto.

 

 

 

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