Festivais do Mercosul defendem formação de parcerias no segmento

Na última terça, 1º de outubro, representantes de alguns dos principais festivais de cinema do Mercosul estiveram reunidos durante a programação do Florianópolis Audiovisual Mercosul. Na ocasião, o grupo reforçou parcerias e dialogou sobre o cenário atual dos festivais de cinema. "O momento político pede união entre nós, para que possamos estabelecer parcerias e difundir o cinema latino-americano.", afirmou Alejandro Fuentes, do Fenavid – Festival Internacional de Cine Santa Cruz, da Bolívia.

Marcos Santuário, do Festival de Cinema de Gramado, concorda com Fuentes: "Precisamos cada vez mais dessa união. Não é uma competição – ela acontece somente entre os filmes e, mesmo assim, não deve ser o foco principal, e sim a participação nos festivais, que já é de grande importância. O Brasil tem quase 500 festivais e mostras de cinema. Eles precisam ter, como função principal, abrir espaço para que o público conheça produções que, inicialmente, não teriam tanto espaço.". Já Claudio Navarro, do FICViña – Festival de Cinema de Viña del Mar, do Chile, reforça que os festivais provocam a circulação de películas latino-americanas nos países, e citou como exemplo os recém-lançados "Bacurau", do Brasil – que inclusive abriu o Festival de Gramado deste ano -, e "Monos", da Colômbia. Ambos foram exibidos em eventos do tipo e, com isso, atraíram mais público para seus lançamentos em circuito comercial. O próprio FAM, inclusive, inovou na edição deste ano ao levar filmes mais artísticos, como documentários e longas autorais, para as grandes salas de cinema no circuito comercial da cidade – as sessões do Festival de 2019 aconteceram no Beiramar Shopping.

Matías Njirjak, do Oberá em Cortos, da Argentina, contou que o festival delá nasceu de forma pequena, a partir de um grupo de realizadores, e que cresceu a partir do objetivo de integrar novos realizadores e ajudar na formação dos mesmos. Para Njirjak, a fase atual do audiovisual na América Latina pede para que cada vez mais festivais e eventos de arte sejam criados, e não o contrário, apesar da falta de incentivos cada vez maior. "Fazer um festival é entender que cinema é militância. É claro que passa por deixar de lado algumas coisas e fazer concessões, mas com um objetivo claro, é possível fazer.", disse.

Para Wanderlei Silva, do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, os números comprovam que há cada vez mais produções para serem exibidas em festivais. "Neste ano, recebemos inscrições de 512 curtas e 189 longas, número 12% maior na comparação com a edição passada. Santuário, de Gramado, acrescenta: "Temos visto tanto a quantidade quanto a qualidade de produções aumentando. Gostaríamos de aumentar o número de filmes que exibimos no Festival, mas ainda não temos janela para isso. Apesar disso, garanto que assistimos todos os filmes. Os produtores não precisam ter receio de mandar.". Com a fala, o curador fez menção ao diretor Allan Deberton, de "Pacarrete", premiado com oito troféus em Gramado, que contou a ele que cresceu ouvindo o boato de que o Festival de Gramado não exibia filmes do Nordeste.

Marilha Naccari, diretora de programação do Florianópolis Audiovisual Mercosul, no entanto, pondera: "Os festivais hoje precisam repensar seus conceitos e rever o que, atualmente, significa fazer um festival. Devemos encontrar nossos nichos, e também nossas diferenças, para que possamos nos complementar.". A diretora completa: "Os dados de pesquisa dizem, pelo menos no Brasil, que os filmes nacionais ainda não encontram tantas telas de exibição nem nas salas comerciais nem nas artísticas. Talvez seja o momento de repensar nossa produção para que ela, de fato, se comunique com o público e seja plural.".

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