Descaso com educação e cultura é a "velha política brasileira colonial", diz Conselho da Acerp

O Conselho de Administração da Acerp – Associação de Comunicação Roquette Pinto fez um duro manifesto apontando indignação com o abandono da Roquette Pinto e da Cinemateca Brasileira. Em carta, intitulada "Para Prevenir Uma Nota De Falecimento (E não é somente por conta da Pandemia)" o conselho afirma que a situação da Cinemateca Brasileira e da Roquette Pinto é "uma calamidade".

A Acerp, vale lembrar, além de ser responsável pela Cinemateca e pela TV Escola, é também a instituição que faz a TV para todos os surdos do Brasil – a TV INES (Instituto Nacional de Educação dos Surdos). Na carta, o Conselho de Administração destaca que serviços fundamentais e fornecedores estão sem receber, todos "esperando a decisão do poder público de como vão encaminhar a situação".

O conselho endurece com o Governo Federal: "Este descaso com a educação e cultura é a mais velha política brasileira colonial. Evita-se a emancipação do cidadão e a soberania do povo sobre seu governo ao negar-lhe educação e cultura. Em que pese a Covid-19, nada justifica o abandono dos trabalhadores abnegados, já sem salários, não por causa da pandemia, mas por conta da interrupção abrupta do contrato de gestão por parte da União. Suas famílias precisam de comida, casa e saúde!".

E segue adiante: "Justo agora que é fundamental uma televisão educativa pronta a prover educação a distância e com anos de experiência em comunicação educativa. Com os alunos em casa, como seria bom termos uma televisão pública educativa de qualidade distribuída a todos os brasileiros! Auxiliar os alunos de Ensino Médio a se prepararem para o ENEM era o que a TV Escola – emissora de televisão da Roquette Pinto – mais fazia. E a solução está disponível, basta retomar o planejamento abandonado no final do ano passado. A crise só se torna oportunidade para quem tem olhos para ver".

Por fim, diz que o poder público dispõe de todos os meios para resolver a situação. "É chegada a hora derradeira, antes que tenhamos que ler mais uma nota de falecimento, e não é somente por conta da pandemia. Poder público, sociedade brasileira, vamos salvar a Roquette Pinto e a Cinemateca Brasileira!".

Veja a carta na íntegra:

PARA PREVENIR UMA NOTA DE FALECIMENTO 
(E não é somente por conta da Pandemia)

Nós do Conselho de Administração da Roquette Pinto estamos indignados com o abandono da Roquette Pinto e da Cinemateca Brasileira. 

Em 1923, Quando Edgar Roquette Pinto criou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, com fins educativos e primeira rádio do Brasil, não sonhava com este futuro melancólico. Em 1936, quando ele doou sua rádio educativa ao Governo Federal, foi para que este pudesse resguardar a instituição e o Estado viesse a prover mais educação e cultura para o povo. Em 1937, Quando Roquette Pinto delega a Humberto Mauro a tarefa de realizar cinema educativo no recém criado INCE (Instituto Nacional do Cinema Brasileiro), ele não esperava que o acervo do cinema brasileiro hoje estivesse exposto a incêndios. Em 1956, quando Paulo Emilio Salles Gomes assume a direção da Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo, embrião da Cinemateca Brasileira, queria exatamente o oposto dessa destruição.

Em 1967, quando Gilson Amado liderou a criação da Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa (FCBTVE), dando origem à TVE, não era esse destino que ele desejava. Em 1972, quando o Ministério da Educação, juntamente com a Embratel viabilizam o sinal de satélite para formar uma rede de televisão educativa para todo o Brasil, sob a articulação do próprio Gilson Amado, não era esse o desfecho do projeto que imaginavam. Em 1996, quando o Governo Federal cria a TV Escola no Ministério da Educação e oferece sua gestão a Fundação Roquette Pinto, casa da TVE do Rio de Janeiro, não era esse desmazelo que estava no horizonte. 

A ACERP – Associação de Comunicação Roquette Pinto e a Cinemateca Brasileira são essas mesmas instituições, herdeiras diretas, netas de Edgar Roquette Pinto, Humberto Mauro, Gilson Amado, Paulo Emilio Salles Gomes – apenas para citar os seus principais heróis.

Este descaso com a educação e cultura é a mais velha política brasileira colonial. Evita-se a emancipação do cidadão e a soberania do povo sobre seu governo ao negar-lhe educação e cultura. Em que pese a Covid-19, nada justifica o abandono dos trabalhadores abnegados, já sem salários, não por causa da pandemia, mas por conta da interrupção abrupta do contrato de gestão por parte da União. Suas famílias precisam de comida, casa e saúde!

Justo agora que é fundamental uma televisão educativa pronta a prover educação a distância e com anos de experiência em comunicação educativa. Com os alunos em casa, como seria bom termos uma televisão pública educativa de qualidade distribuída a todos os brasileiros! Auxiliar os alunos de Ensino Médio a se prepararem para o ENEM era o que a TV Escola – emissora de televisão da Roquette Pinto – mais fazia. E a solução está disponível, basta retomar o planejamento abandonado no final do ano passado. A crise só se torna oportunidade para quem tem olhos para ver.

A situação da Cinemateca Brasileira e da Roquette Pinto é uma calamidade. Mesmo sem salários, a produção está de pé, reduzida aos esforços dignos de aplauso dos trabalhadores dessas instituições, estes sim, responsáveis e cientes da herança que carregam nas costas. Não podemos nos esquecer que a Roquette Pinto, além de ser responsável pela Cinemateca e pela TV Escola, é também a instituição que faz a TV para todos os surdos do Brasil – a TV INES (Instituto Nacional de Educação dos Surdos). Água, luz, telefone, satélite e demais fornecedores, sem receber, todos estão esperando a decisão do poder público de como vão encaminhar a situação. A Diretoria se esforça por pedir solução ao Governo Federal, mas desde o começo do ano, nada foi resolvido.

O Poder público deveria se apresentar para resolver a situação, pois dispõe de todos os meios para tal. Ainda dá tempo! É chegada a hora derradeira, antes que tenhamos que ler mais uma nota de falecimento, e não é somente por conta da pandemia. Poder público, sociedade brasileira, vamos salvar a Roquette Pinto e a Cinemateca Brasileira! É agora que o Brasil precisa de mais educação, de mais cultura. Um trabalho destes não deve parar, ele deve melhorar! Expandir!

Conselho de Administração da ACERP – Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto

1 COMENTÁRIO

  1. Palavras de uma nobreza única. De um cabimento único. São, igualmente de modo único, a manifestação dos valores que permanecerão, os da decência, da moral e da ética. Ainda temos os bastiões de resistência da Educação e só temos a aplaudir e agradecer por isto! Obrigado, ACERP!

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