Mercado de TV aberta via satélite desacelera e entra em nova fase

O mercado de TV aberta via satélite (TVRO) passou por uma verdadeira revolução desde o leilão de 5G foi realizado, em 2021, com a previsão de investimentos de parte dos recursos arrecadados no financiamento da migração dos receptores de banda C (cujas frequências podiam interferir com o 5G) para a banda Ku (onde a interferências não ocorre). Esta política pública não só mudou a realidade de quem foi diretamente afetado com a recepção gratuita de kits (cerca de 5 milhões) como induziu o surgimento de um mercado novo.

O resultado depois de três anos de política foi histórico: hoje, perto de 14 milhões de domicílios recebem hoje o sinal da chamada "nova parabólica", com mais de 80 canais abertos digitais, em alta definição (ou 160 canais, se considerados os sinais regionais das redes de TV aberta).

Os números de kits de recepção instalados no mercado ainda são imprecisos (fala-se em algo entre 13,5 milhões e 15 milhões) porque dependem da metodologia de contagem. Mas como consequência do movimento, a maior prova de sucesso é que as principais emissoras de TV puderam desativar as transmissões analógicas e digitais na banda C e adotarem uma plataforma atualizada de distribuição, com qualidade digital, controle de acesso (assegurando os espaços de atuação das geradoras locais) e dados muito mais precisos sobre o tamanho do mercado. Esse movimento é histórico.

Antes da migração para a banda Ku, estimava-se em mais de 20 milhões de domicílios dependentes das parabólicas, o que acabou não se confirmando, mas os números mostraram-se muito positivos, na avaliação das emissoras de TV ouvidas por este noticiário.

Esse processo trouxe uma grande movimentação no mercado de instaladores, fabricantes de kits de recepção viram uma onda gigantesca de equipamentos comercializados nos primeiros dois anos, varejistas descobriram um novo produto (o receptor de TV digital em banda Ku), o mercado de satélites passou por mudança… Mas esse ciclo de transformação do mercado de TV via satélites pode estar chegando em uma nova fase.

Parada brusca

Nos últimos dias, o mercado foi inundado por uma onda de notícias sobre fechamento de fábricas, redução de preços para diminuição dos estoques, demissões de equipes e desmobilização de instaladores. Segundo apurou este noticiário, muito disso de fato está em andamento, mas ao que tudo indica faz parte de um processo de adaptação para esse novo ciclo. Os estoques de kits de recepção de banda Ku de fato estão elevados epodem atender a demanda até o final do ano, no ritmo atual. Isso fez com que linhas de produção tenham sido suspensas e equipes dispensadas. Outro problema desta "freada de arrumação do mercado" é que as margens no varejo também diminuíram, pela queda nos preços, pela liberação dos estoques. E obviamente houve demissões.

Mas isso não que dizer que esse mercado de TV aberta via satélite em banda Ku tenha acabado. O que aconteceu é que ele de fato entrou em uma desaceleração provocada, por um lado, pela conclusão dos trabalhos da primeira fase da Fique Antenado (tecnicamente conhecida como EAF, que é a empresa que faz a distribuição gratuita dos kits de banda Ku para beneficiários do cadastro único) e, de outro, por um desaquecimento do varejo (também provocada por uma diminuição nas campanhas de mídia da EAF e uma saturação de mercado em alguns centros mais populosos).

Na fase mais intensa, entre setembro e outubro de 2024, chegaram a ser instalados 700 mil kits por mês, sendo 300 mil pela EAF (política pública) e 500 mil de vendas no varejo. Hoje, a EAF está em fase de finalização das suas obrigações da primeira fase, mas o varejo ainda vende entre 200 mil e 300 mil aparelhos por mês. Em 2024 e 2025 foram instalados mais de 9 milhões de kits, que se somam aos instalados em 2022, chegando aos 14 milhões ou 15 milhões estimados no mercado. O número exato depende de uma depuração que precisa ser feita a partir do número de ativações, porque alguns equipamentos mais antigos, que operavam em banda C e banda Ku que eram utilizados no serviço de TV digital SatHD podem ter sido ativados duas vezes.

tabela EAF

Nova fase da EAF

Agora, espera-se que a EAF entre uma nova fase, o que deve representar uma aceleração das instalações, dando um fôlego adicional ao mercado de banda Ku. No começo de abril, o Ministério das Comunicações determinou que as sobras de recursos da EAF fossem direcionadas para a instalação de mais kits, agora atendendo qualquer beneficiário do Cadastro Único, e não apenas os que já tinham parabólicas de banda C.

Na semana passada, o Gaispi, que dá as diretrizes para a EAF, definiu que serão instalados mais 600 mil kits, em 322 cidades. O critério de escolha foram municípios com uma ou duas retransmissoras terrestres de TV digital aberta. MAs a ordem de distribuição será a ordem de chegada. Depois dessa fase, não deve haver novas instalações de kits pela política pública, apenas nas vendas em varejo. Seguindo a proporção atual, seriam mais 1 milhão de kits a serem vendidos no varejo, fazendo com que o mercado de TV aberta em banda Ku chegue perto de 17 milhões, nas contas de especialistas ouvidos por este noticiário. Não é pouco para um mercado que não existia há cinco anos atrás.

A partir daí, segundo os mesmos especialistas ouvidos por este noticiário, o mercado se estabilizará a entrará em uma fase de renovação natural da base, com troca de aparelhos mais antigos por aparelhos mais novos com novas funcionalidades. Aposta-se em receptores que tenham algum grau de conectividade, capacidade de processar imagens em 4K e, futuramente, a integração com a TV 3.0 (mas esse debate está apenas começando a acontecer).

 

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