Manuel Belmar, diretor de Produtos Digitais da Globo, participou de um rápido encontro com a imprensa durante a programação do International Academy Day, evento da Academia Internacional de Artes e Ciências da Televisão que a Globo recebe no Rio de Janeiro nesta semana.
Entre os pontos abordados pelo executivo, esteve o balanço financeiro de 2024 da Globo e o aumento não só de receita líquida, mas também de lucro. "Esse resultado não é só de 2024, e sim de um esforço de alguns anos que estamos fazendo desde a transição dos nossos modelos de negócio e que, agora, estamos colhendo os frutos. O ano de 2024 foi particularmente muito feliz porque tudo foi muito bem – Globoplay; Premiere; TV Globo; os canais lineares pagos dentro dos seus ambientes digitais de multi-distribuição que estamos fazendo; e as audiências. Além disso, a performance publicitária e o reconhecimento dos anunciantes da nossa capacidade de oferecer produtos em toda a cadeia do funil, de conhecimento até a conversão", analisou.
Ele esclareceu que os resultados ainda estão muito pouco influenciados pela compra da Eletromidia, uma vez que a aprovação do CADE se deu apenas em dezembro, já na reta final do ano. "Consolidamos um mês", detalhou. "É um negócio em que acreditamos muito, e muito complementar ao que a gente já faz. Temos boas perspectivas de crescimento", acrescentou. Sobre os números do último ano, ele diz não atribuir a um fator específico, e sim ao conjunto do trabalho. "Estamos muito focados no nosso negócio, no que sabemos fazer de melhor, que é conteúdo de qualidade. 2025 será um ano desafiador por tudo o que está acontecendo no mundo, e não apenas no Brasil. Estamos vigilantes na questão dos custos e, ao mesmo tempo, tentando construir novas receitas", ressaltou.
Breakeven do Globoplay
O Globoplay tem números de destaque – em 2024, aumentou sua base em 42%. Ao falar sobre breakeven, Belmar explica que a questão tem que ser analisada com cuidado. De forma direta, a resposta é sim: em 2025 a plataforma é breakeven tanto pela ótica econômica quanto pela ótica de caixa.
"Mas, até aqui, a pergunta era sempre pelo olhar do Globoplay como um produto dissociado dos outros que a gente tem. E eu tenho feito muito essa construção de olhar para os nossos negócios não por plataformas e distribuição, e sim por ofertas pagas, por publicidade e/ou assinatura, e ofertas gratuitas, monetizadas por publicidade. Digo isso porque pouco me importa se eu estou conseguindo assinantes vindos de modelos tradicionais de SeAC, boundle de canais, acordo de distribuidores – temos distribuição na Amazon, Claro, e discutindo com uma série de outros parceiros. A preocupação é a propensão do consumidor de pagar por conteúdo premium. Isso tudo confere um conjunto de receitas para além do streaming sozinho", observou. "Portanto, se a gente considerar nosso business de conteúdos pagos como um todo, que é tudo parte do Globoplay, a gente já está em breakeven há bastante tempo".
Bons resultados dos novos planos
Em novembro de 2024, o Globoplay apresentou novos planos de assinatura a preços mais competitivos: o Padrão com Anúncios, o Padrão e o Premium. A estratégia ajudou a impulsionar a plataforma e a alcançar os bons resultados citados acima. A verdade é que o serviço de streaming da Globo sempre teve anúncios, uma vez que existe a opção de consumo gratuita, para quem não é assinante, mas faz um login e, assim, compartilha dados com a plataforma e é impactado por publicidade, e também porque dentro do Globoplay são oferecidos os canais lineares da Globo, então também tem publicidade de certa forma.
"Mas é claro que a bifurcação que fizemos no fim do ano passado criando planos específicos com e sem anúncios foi um pouco reconhecendo essa demanda de mercado e da facilidade de um ponto de entrada mais acessível à renda das famílias brasileiras. Teve muito sucesso", revelou o executivo. Segundo Belmar, os números são "parecidos com os das plataformas concorrentes do setor": cerca de dois terços nos planos com anúncios e um terço sem anúncio. "E vamos fazer algumas mudanças em breve já a partir dos aprendizados que tivemos. Serão mudanças bem interessantes", adiantou.
Pirataria atinge todo o ecossistema
Por fim, o diretor falou sobre aquela que ainda é uma das grandes ameaças da indústria: a pirataria. Os preços mais competitivos do Globoplay são o que ele chama de uma "defesa natural" para essa questão – porque, dessa forma, a "desculpa" em relação ao preço fica relativamente coberta. Mas, para Belmar, a situação do Brasil com a pirataria é endêmica. "Não é só oferecer por um valor mais baixo. E falo de valor antes de falar de preço porque tem limite a nossa capacidade de oferecer um preço cada vez mais baixo. E estamos no caminho contrário, porque vemos hoje todo mundo aumentando preço. Essa estratégia da bifurcação de planos vem normalmente associada a um aumento de preço implícito. A gente nem tomou essa abordagem em respeito ao consumidor. Deixamos ele escolher; baixamos um preço e aumentamos o outro".
O Premiere é um dos produtos Globo que mais sofrem com a pirataria, numa relação de cinco para um, ou seja: para cada pagante, a empresa acredita que existem outros quatro consumidores que não pagam. "E não temos condições, com o preço dos direitos esportivos, de oferecer isso sem cobrar nada. É impossível. O limite caminha para ser um business inviável. As discussões que temos no futebol especificamente com os blocos que se organizaram para negociar os direitos é no sentido de pedir para que ajudem a gente a combater a pirataria. Porque nós estamos sozinhos nisso", lamentou.
É claro que, agora, existe um importante apoio governamental, conforme o próprio Belmar acrescentou. Mas é importante dizer que não se trata de um problema que atinge apenas o futebol e se estende, de forma mais macro, a todo o conteúdo digital. "Até então, tinha essa localização no esporte, mas está disseminado em todo o portfólio dos nossos produtos. A pirataria é certamente uma das grandes ameaças da indústria. Todo mundo tem que olhar isso de frente, encarar e tentar resolver. Se a gente reduzir alguma coisa, já é muito valor que destravamos para retroalimentar todo o ecossistema de produção, distribuição, talentos, formação e desenvolvimento", concluiu.