Uma semana após a estreia de sua leva final de episódios, em 21 de agosto, a produção original nacional da Netflix “De Volta aos 15” já celebrava um marco: a terceira e última temporada da série protagonizada por Maisa e Camila Queiroz alcançou o terceiro lugar no Top 10 Global de séries de língua não-inglesa mais vistas da plataforma, com mais de 8.4 milhões de horas assistidas. A obra, que conta ainda com nomes como João Guilherme, Klara Castanho e Larissa Manoela no elenco, ficou também em primeiro lugar no ranking de séries mais vistas no Brasil na última semana, com a primeira e a segunda temporadas igualmente figurando no Top 10 Nacional.
Em “De Volta aos 15”, aos 30 anos, Anita está infeliz com os rumos de sua vida e acaba descobrindo, sem querer, uma forma de voltar no tempo e tentar consertar as coisas no passado. Na terceira temporada, ela está de volta não mais aos 15, mas aos 18 anos, na época da faculdade, e vai encarar a última chance de retomar o controle de sua vida. A série tem direção geral de Dainara Toffoli, com direção de episódios de Marina Person, Vitor Brandt e Gautier Lee. Os roteiros são de Vitor Brandt (chefe de sala), Amanda Jordão, Gautier Lee, Luiza Fazio e Ray Tavares, com André Hanks como assistente. É uma produção de Carolina Alckmin e Mayra Lucas, da Glaz Entretenimento.
Para Alckmin, “De Volta aos 15” tem muitos fatores que ocasionaram esse sucesso dentro e fora do Brasil. “Tem esse lado da nostalgia, que conecta em muitos pontos. O nosso audiovisual já está maduro o suficiente para ser decodificado e entendido em diferentes lugares. O ‘young adult’ é um gênero que faz sucesso. E temos muitos talentos envolvidos, na frente e atrás das câmeras, como os atores com suas bases de fãs, roteiristas, diretores, produtores. Atendemos a todos os ingredientes”, disse a produtora em entrevista exclusiva para TELA VIVA.
Ela acredita, inclusive, que essa percepção de que o audiovisual brasileiro está cada vez mais maduro como indústria e que o mercado nacional é sólido seja um dos grandes aprendizados que a série deixa. “Estamos cada vez mais fortes, e não só com ‘De Volta aos 15’. Temos muitas séries que foram bem lá fora. E isso diz sobre os nossos talentos, na frente e atrás das câmeras”, afirmou.
E ainda refletindo sobre esse trabalho, ela observa: “Não podemos esquecer que o audiovisual é um canhão de informação e emoção. Pensando nisso, quais informações e emoções queremos passar para o público? Qual é a nossa realidade hoje? Não basta pegar o algoritmo e tirar uma foto – porque essa seria uma foto de agora pra trás. Não podemos esquecer de olhar o entorno. Hoje, as pessoas estão um pouco desestimuladas, deprimidas e sem esperança. A geração Z precisa lembrar da importância de ter vínculos, amigos e afetos. Eles estão muito ansiosos. Então vejo ‘De Volta aos 15’ como um grito de esperança nesse sentido, e não apenas um conteúdo feel good”.
Do lado da Netflix, Haná Vaisman, diretora de conteúdo para séries de ficção da plataforma no Brasil, ressalta a força do título: “A série é mais uma comprovação de que temos histórias incríveis para contar no Brasil, para todos os gostos. São histórias que, independente do gênero, geram conexão com os brasileiros, e que muitas vezes ultrapassam fronteiras porque são ao mesmo tempo universais. É o caso também de outras séries nacionais como ‘Sintonia’ ou ‘Pedaço de Mim’. Às vezes essas histórias são ideias originais para o audiovisual, mas às vezes estão em livros como o ‘De Volta aos 15’, da Bruna Vieira, com um ótimo potencial de adaptação para a tela. O público ama, busca e deseja ver mais tramas como essa, que dão um quentinho no coração”.
Liberdade criativa
Conforme pontuado por Vaisman, a série audiovisual é baseada no best-seller homônimo da autora Bruna Vieira, cujos direitos de adaptação foram assinados pela Glaz Entretenimento há alguns anos. Na época, a Netflix buscava um projeto para a atriz Maisa, e a produtora fez alguns ajustes para atender a essa demanda. “O livro tem mais história da personagem aos 30 anos do que aos 15. Então fizemos esse trabalho de ‘virar’ o livro e termos mais tempo de tela aos 15 anos, mudando esse ponto de vista. Foram cerca de três semanas nesse processo, até que apresentamos a premissa para a Maisa, já junto da Netflix, e tivemos o OK. Contratamos as roteiristas Janaina Tokitaka e Alice Marcone para a primeira temporada, que trazia essa conexão direta com o livro”, lembrou Alckmin.
Mas, depois do sucesso da primeira temporada, e acompanhando as reações do público, o projeto foi se desenvolvendo com certa liberdade. “Uma coisa em que precisávamos ficar ligados era qual a sensação que a série trazia para as pessoas. Entendemos que gostaram da nostalgia, das músicas, do universo da escola, de um ou outro casal. Temos que escutar isso. O audiovisual é fruto da sua época, então o público tem que ser ouvido. A partir daí, e do que a obra audiovisual tinha proposto na primeira temporada, tomamos uma liberdade – e sempre trazendo a Bruna Vieira para perto, porque, como autora, ela sabe quem são aqueles personagens. Apesar de a história não seguir aquele caminho, os personagens estão ali”, explicou. Como exemplo dessas criações, ela citou a personagem Camila, que não existia no livro e, na série, foi ganhando cada vez mais espaço. “E na minha opinião é uma das tramas mais bonitas”, apontou a produtora. “Demos liberdade criativa para os autores e acho que fizemos isso bem, e de uma maneira muito emocionante. Uma coisa que gostei muito de ouvir na segunda temporada e que se repetiu agora é que as pessoas sentem que é uma série leve, mas que passa uma mensagem. Bate em algum lugar no coração. E é exatamente isso que queremos”, completou.
Emoção em primeiro lugar
Esse viés pela emoção também foi uma premissa seguida na sala de roteiro. Luíza Fazio, roteirista que chegou ao time agora na terceira temporada, diz ser uma pessoa muito lógica e que, portanto, esse lado da série de ficção científica, que fala de viagem no tempo, era importante pra ela: “Às vezes eu ia muito para a parte da logística. Mas o Vitor Brandt, chefe da sala, nos guiava com maestria, e sempre relembrava que o mais importante nessa série especificamente era a emoção e a amizade. Então ele me cobrava muito no sentido do impacto que aquele acontecimento teria no personagem de maneira emotiva, qual seria o conflito. Primeiro, a emoção, e depois como isso afeta a parte lógica. O quinto episódio, que foi o que eu escrevi, fala justamente sobre isso: como esse ir e voltar no tempo causa uma exaustão emocional na Anita”.
Fazio revela que sempre quis escrever para a Maisa e que já gostava de “De Volta aos 15” desde a primeira temporada. Sendo a única “novidade” na equipe de roteiro na temporada final, ela avalia que chegou com olhos de espectadora, e não só roteirista. “Quando a gente fica muito tempo trabalhando numa coisa, a gente fica apegada a situações, aos personagens, a pontos que, às vezes, nem batem tanto no público. Então eu vim com esse olhar de público, trouxe novas impressões. E, como agora havia essa nova proposta dos personagens na faculdade, eu vim pensando em como poderíamos mudar algumas coisas, trazer essa maturidade dos 18 anos, mas sem perder a essência da série. Foi um desafio conjunto para todo mundo. Para isso, pensamos nas nossas próprias experiências, mergulhamos realmente nas nossas nostalgias. Foram meses de terapia coletiva”, brincou. “Quando vou escrever, faço muita pesquisa, mas ‘pra fora’, conversando com pessoas. Dessa vez, fiz uma pesquisa interna”, detalhou.
Legado para a indústria
Para Vaisman, “De Volta aos 15” foi uma experiência única para todos os envolvidos – Netflix, Glaz, elenco, equipes. “Em uma produção com várias temporadas, é importante o entendimento e a constante avaliação de quais são os pilares fundamentais da história, o que precisa ser consistente ao longo dos anos, mas sem deixar de lado a inovação. O balanço entre o que fica e o que muda na história, a cada temporada, foi um aprendizado importante. A série inclusive tem personagens que o livro não tem, mas que o público amou, como a Camila, vivida por Nila e Alice Marcone. Algumas tramas também tomaram rumo diferente na tela por causa da química do elenco, formado por talentos como Maisa e João Guilherme, em quem acreditamos muito”, relata.
“Após três temporadas, um dos legados que fica é a parceria e a colaboração para o aprimoramento de expertises e desenvolvimento de talentos. A série se despede do público, mas deixa profissionais ainda mais preparados para contar novas grandes histórias”, conclui a executiva.