PetitFabrik, estúdio amazonense de tecnologia e entretenimento, já tem confirmado para 2025 o desenvolvimento de dois novos jogos, quatro longas-metragens e uma série animada. Os produtos se juntarão ao portfólio já composto por "Kukoo Lost Pets", "Trolls Remix Rescue" e "Miraculous: Paris Under Siege", games lançados em 2022, 2023 e 2024, respectivamente, além de "Lupita", série que foi vencedora do prêmio de Melhor Animação Infantil do Conexões Gramado Film Market e finalista de outros prêmios importantes, como Academia Brasileira de Cinema e Festival comKids – Prix Jeunesse Ibero-American.
Fundado em 2007, em Manaus, onde permanece até hoje, o estúdio é de cinco sócios – Olímpio Neto, Estevão Queiroga, Humberto Rodrigues, Glaubert Oliveira e Adriano Rezende – que são focados em empreendedorismo e criação e também trabalham para conscientizar as esferas pública e privada sobre como o investimento na indústria de entretenimento audiovisual amazonense pode ser o grande vetor de crescimento econômico na região, com geração de empregos e qualificação de mão de obra sem que sejam necessários quaisquer desmatamentos ou manejo florestal – práticas industriais comuns na região. "Começamos como um estúdio de animação ainda com outro nome, fazendo animações para propaganda e institucionais para empresas. Em 2012, já passamos a nos chamar PetitFabrik e formamos o grupo de sócios atual, que vem liderando a empresa nos últimos 13 anos. Ao longo destes 18 anos atuamos em centenas de projetos para clientes, entre animações, sites, apps e jogos, além de projetos proprietários originais da PetitFabrik", relembrou Olímpio Neto, CEO da PetitFabrik, em entrevista exclusiva para TELA VIVA.
A empresa já produziu dezenas de projetos entre IPs, jogos e animações para gigantes globais e locais do setor, com um time que, hoje, é composto por mais de 80 profissionais, todos brasileiros. Falando em mão de obra, uma das grandes questões dos estúdios que produzem animações e jogos é a ida de grandes talentos para fora, atrás de oportunidades em empresas internacionais. "Essa é uma característica muito marcante da nossa indústria criativa. Como é uma indústria totalmente globalizada, nós concorremos todos os dias pela mesma mão de obra com estúdios de fora, que pagam em dólar ou euro, e esse é um grade desafio", assume o CEO. "Mas acredito que a PetitFabrik tem sido um lugar onde as pessoas sentem que estão trabalhando ao lado de outros profissionais muito talentosos, participando de projetos audaciosos e criativos, o que faz com que o time goste do trabalho e sinta que está crescendo na carreira, mesmo trabalhando em um estúdio brasileiro".
Destaque fora do eixo
É claro que ser da região Norte, que é geograficamente afastada do chamado "eixo Rio-São Paulo", é parte importante da história da PetitFabrik. Neto avalia: "As dificuldades de criar um negócio como o nosso no Amazonas vão desde a infraestrutura da região, como a falta de internet de qualidade e de profissionais qualificados, até o isolamento geográfico, que eleva muito os custos logísticos para visitar clientes e frequentar as feiras de negócios. A principal vantagem é estarmos literalmente no meio da Floresta Amazônica. Isso leva, principalmente para empresas de fora, a enxergarem que a qualidade do nosso trabalho extrapolou a bolha do eixo Rio-SP".
Mas a distância nunca foi um impeditivo para que o estúdio se aproximasse de outros negócios espalhados pelo país. Prova disso é a série "Lupita", que é uma coprodução com a Druzina Content, de Porto Alegre/RS. O executivo contou como se deu o encontro: "Eu e a Lú Druzina nos conhecemos em 2008, durante uma edição do Animamundi, e desde então temos trabalhado juntos como empresas parceiras em diversos projetos de audiovisual. A parceria aconteceu pelo nosso alinhamento de valores, por ambos estarmos também fora do 'eixo Rio-São Paulo', pela nossa paixão por criar IPs e também porque a Lú, além de ser uma das melhores e mais competentes produtoras do Brasil, é uma pessoa extremamente generosa, e deu atenção para uma pequena empresa do Amazonas quando ainda não tínhamos nada além de uns sonhos e uns PDFs com ideias".
Falta de investimentos
Apesar das boas experiências em coproduções, o CEO destaca a falta de investimentos: "Na minha visão, o investimento privado no audiovisual amazonense é algo perto de inexistente, semelhante à maior parte do Brasil. Quando falamos da esfera pública, podemos notar a presença maior de investimentos, principalmente os provenientes de recursos federais, que possuem por exemplo sistema de cotas para a região Norte. Já os de âmbito municipal ou estadual ainda são bem iniciantes – precisamos que os governantes percebam mais claramente o potencial do audiovisual na região amazônica. Ambos os formatos de investimento ainda têm muito espaço para crescer".
O tamanho do setor de games no Brasil já está comprovado – em dez anos, essa indústria ficou sete vezes maior no país, com uma elevação de 695% do número de estúdios, além de um crescimento de 1.000% no número de pessoas envolvidas na área, segundo dados da Abragames (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais). E a tendência é seguir crescendo. A previsão da Newzoo, empresa que monitora o segmento, é que a indústria de games brasileira movimente US$ 3,5 bilhões em 2025.
Ainda assim, Neto aponta que fala-se muito pouco sobre esse mercado e seu potencial econômico para o Brasil: "Precisamos de políticas públicas de longo prazo que viabilizem de fato o amadurecimento da indústria desenvolvedora de jogos no país e o surgimento de grandes estúdios brasileiros com presença global. Especialmente falando da região amazônica, é vital para o desenvolvimento e preservação dela que o poder público entenda o potencial dessa matriz econômica, que na minha visão é uma das mais alinhadas às necessidades da Amazônia, gerando riquezas, emprego, transformação social e preservando a floresta". E acrescenta: "O Brasil tem se destacado ao longo dos últimos anos como uma região de estúdios muito criativos e de grande potencial internacional. Penso que mesmo com toda essa evolução, ainda estamos apenas na superfície de todo o nosso potencial como indústria desenvolvedora de jogos".
Criação de IPs e exportação de serviços
"Kukoos" foi o primeiro IP desenvolvido pela PetitFabrik, seguido pela animação "Lupita". A partir de 2022, a empresa amazonense foi lançando um jogo de console por ano – um feito importante para uma empresa nacional deste porte. "Nossa atuação vem sendo focada em atrair investimentos para IPs próprios e aumentar a exportação de serviços do estúdio. Quando desenvolvemos 'Kukoos Lost Pets', já prevíamos que o caminho seria criar produtos que permitissem a expansão para universos inteiros, e não apenas personagens pontuais", explicou o CEO.
Neto detalhou que o plano da empresa é se manter consistente nessa expansão de IPs já lançados, como os próprios "Kukoos" e "Lupita", aumentando a quantidade e a diversidade de conteúdos oferecidos ao público, "já que o volume de conteúdo disponível é um fator muito importante quando se trata de expansão de marcas", como ele reforça, ao mesmo tempo também mantendo consistência na criação e lançamento de novos IPs, de forma que a PetitFabrik ao longo dos anos tenha um portfólio sólido de marcas bem estabelecidas no mercado nacional e global. "Uma vez que essas marcas tenham volume e agradem seus públicos, pretendemos, sim, expandir para licenciamento de produtos", adiantou.
Em termos de volume de trabalho, o executivo estima que, em 2025, o estúdio se divida 50/50 entre as duas áreas – desenvolvimento de IPs próprios e exportação de serviços -, embora, sob o ponto de vista de receita, a parte de serviços ainda represente a maior fatia. "Queremos que, no médio a longo prazo, os IPs se tornem a principal fonte de receita da PetitFabrik".
E, ainda sobre os planos para este ano, ele revela uma agenda intensa: dois novos jogos, quatro longas-metragens e uma série animada, que devem ser tocados de forma simultânea. "Somos cinco sócios técnicos que se dividem entre suas áreas de atuação – produção, criação, arte, game design, CGI e desenvolvimento de software -, além da divisão por áreas de especialidade. Muitas vezes os sócios também se dividem na direção geral de projetos de prestação de serviços ou de IPs próprios. Nosso time sempre cresce em torno dessas áreas, e hoje contamos com uma equipe técnica muito qualificada e comprometida", garante.
Norte em evidência
Em 2025, Belém sediará a COP 30, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. A expectativa para o evento é grande. "Os olhos do mundo todo estarão ainda mais voltados para a Amazônia e suas matrizes econômicas, e eu acredito que será um momento especial para apresentar pro mundo o potencial da nossa indústria criativa como uma excelente alternativa ao desenvolvimento da região e preservação da floresta", diz o executivo, que analisa ser essa também uma oportunidade importante para o crescimento da exportação de seus produtos para empresas de fora do Brasil.
De modo geral, olhando para o futuro, Neto afirma que, como uma empresa de tecnologia e entretenimento, a PetitFabrik tem como principal objetivo continuar criando IPs que possam alcançar audiências globais – seja através de filmes, séries, games ou licenciamento de produtos. "Queremos contar nossas histórias e fazer parte da vida das pessoas de maneira positiva", conclui.