"Enquanto eu puder abrir portas para mulheres, farei isso", diz Juliana Algañaraz, CEO da Endemol Shine Brasil

CEO da Endemol Shine Brasil desde 2016, Juliana Algañaraz é a responsável por desenvolver novos modelos de negócios e setores como o Branded Content, Licenciamento de Marcas e Personagens e Digital, reposicionando a empresa a uma das principais marcas de produção audiovisual e entretenimento do país. Recentemente, a executiva foi destaque na lista de protagonistas de 2020 do mercado de entretenimento no Prensario Internacional e ainda homenageada no Variety's International Women's Impact Report – lista da Variety, uma das mais respeitadas publicações de entretenimento do mundo, que destaca as 50 mulheres mais importantes e inspiradoras do mundo em diversos segmentos, levando em consideração suas conquistas e realizações no último ano. 

"Para mim foi uma honra ser destaque como uma pessoa que fez a diferença no mercado em 2020, porque foi um ano que fez diferença na minha vida também. A pandemia me ensinou que tudo o que a gente planeja tem que ser repensado e readaptado", comenta Algañaraz em entrevista exclusiva para TELA VIVA. "Eu nasci na Argentina mas me sinto muito brasileira. E digo que sou do Brasil e digo de coração. Foi tudo muito emocionante. Eu tenho muito orgulho de ser mulheres nesse mercado porque eu ocupo esse espaço com muito trabalho há quase 30 anos. Sou uma mulher que veio para conquistar isso. E se esse título dá destaque também ao Brasil, que é o país que eu escolhi e me acolheu, me dá duas vezes mais orgulho", acrescenta. 

Mulheres no audiovisual 

"Claro que ainda temos muito espaço para ocupar – e é importante que ocupemos", pontua a executiva em relação à presença feminina no setor. "Quando você pega a audiência dos conteúdos, não importa em qual plataforma, as mulheres consomem muito, gostam de muitas coisas. Então precisamos ter o olhar feminino, precisamos ter mulheres fazendo negócios, precisamos de mais diversidade para enriquecer o mercado. Temos que empoderar as meninas e mulheres que estão vindo", reforça. 

Algañaraz conta que vem de uma criação na qual sua mãe batalhou para que ela ocupasse esse lugar, ensinando a não ter medo, o que ela espera passar ainda com mais ênfase para suas filhas. "Enquanto eu puder abrir portas para mulheres eu farei isso, porque não acredito que salário deva ter a ver com sexo; não acredito que um cargo tenha a ver com gênero ou orientação sexual; eu só acredito na capacidade e na vontade de fazer acontecer. Eu espero que cada vez mais pessoas lutem por isso e comprem essa ideia. Existem muitos homens em lugares de poder e eles estão tendo que aprender a lidar com a gente, pois estamos ocupando cada vez mais cadeiras – mas ainda não todas que deveríamos ocupar", analisa. 

Trabalho na pandemia 

Apesar de ter sido um ano desafiador, em 2020 a Endemol seguiu entretendo e engajando públicos e clientes, tendo realizado a produção de 17 séries originais e, pela primeira vez, produzido versões locais de títulos consagrados para o mercado de streaming, ao lado de plataformas como Netflix, Amazon Prime Video e Globoplay, além do mercado de televisão, onde conquistou uma indicação ao International Emmy Awards pelo trabalho realizado no "Canta Comigo", da Record TV. 

"Você pode ser um CEO muito competente, mas você não estava preparado para uma pandemia. Ninguém estava. Nenhum diretor, dono de comércio, empregado. Quem é resiliente conseguiu se levantar mais fácil, mas todos ainda estão sofrendo as consequências disso porque ainda não voltamos ao normal. A vacina chegou mas, até que todos estejam vacinados, ainda temos que enfrentar essa realidade", afirma Algañaraz. A CEO diz que, uma vez que não era possível lutar contra o coronavírus, o que a empresa fez foi aprender a viver com ele, a produzir dentro dessa realidade e, principalmente, a proteger e cuidar das pessoas. "Aprendemos que todos precisam ser responsáveis e não podem relaxar. As equipes são extremamente controladas e sabemos que todos precisam do nosso apoio e suporte porque também estão com meso, mas precisam sair para garantir o sustento da família", avalia. 

Apesar das dificuldades, 2020 foi um ano excelente financeiramente para a Endemol Shine Brasil, que ultrapassou em 50% o EDTDA da meta do ano. "Isso diz o quanto nossa equipe dá o seu melhor em qualquer situação e nós respondemos a isso – é uma relação recíproca. Mostra também que nossos clientes acreditam que somos sérios e por isso confiam em nós, pois nenhuma marca gostaria de ter seu nome atrelado e uma produção que tenha problemas durante uma pandemia. E está tudo lindo e sendo entregue!", comemora. "Em 2021, trazemos todos esses aprendizados e vamos continuar trabalhando. Não relaxamos com os protocolos, continuamos testando todos os funcionários e temos uma equipe de profissionais de saúde maravilhosa que nos acompanha e nos aconselha", complementa. 

Nesse sentido, a CEO faz questão de elogiar o trabalho de Nani Freitas, VP de Produção: "Ela incorporou brilhantemente e fez dos protocolos um processo a mais na produção. São mais de dois mil profissionais realizando nossas ideias, mesmo com a pandemia. Hoje, acho que a Nani virou uma referência no mercado, de como produzir atendendo a todos os protocolos e dentro do orçamento. Acredito que esse aprendizado vá ficar para sempre – algumas coisas que foram implementadas nos nossos processos não vão mudar mesmo depois da pandemia". 

Branded Content: menos controle, mais organicidade

Algañaraz comentou sobre o trabalho da produtora com as marcas – hoje, as produções de branded content são destaques dentro do portfólio da Endemol. "O branded content também faz parte da diversificação de modelo de negócio, um departamento criado em 2016. Quando comecei, tínhamos só quatro clientes – Band, Globo, SBT e Record. Hoje são mais de 35, entre canais, OTTs, anunciantes e agências de publicidade", pontua. 

Se hoje a área segue em constante crescimento na produtora, a CEO acredita que seja porque lá atrás a equipe foi capaz de identificar que estava vindo uma onda do "branded moment": "Nós estamos vivendo um momento de branded. Quando ainda se falava só no digital, nós já estávamos enxergando além. Garantimos aos nossos clientes que sabíamos vender produtos – um exemplo disso é o reality 'Cabelo Pantene'. Nós temos uma linguagem que se ajusta perfeitamente a esse momento de multiplataformas, digital e dinâmica. As novas gerações não rejeitam marcas se elas trazem algo legal – para eles, não importa quem está pagando a conta, desde que entregue um conteúdo e qualidade e com a cara deles. Se a marca consegue abraçar isso, ela só tem a ganhar". 

Para a executiva, o branded content hoje está composto por mil estratégias – não é mais uma coisa só em uma única plataforma, não é uma única comunicação. O que, pra eles, é excelente, uma vez que a empresa conseguiu olhar pra esse momento em 2016, começar a falar essa linguagem e trazer a solução: "Algumas marcas tiveram a coragem para mudar, confiaram em nós para surfar esse momento e entenderam que produzir conteúdo é diferente de produzir uma campanha publicitária. Sabemos que com o conteúdo de entretenimento você tem menos controle, porém é mais orgânico. Fizemos uma parceria, praticamente um casamento com essas marcas, e as pioneiras a desbravarem isso ainda estão colhendo os frutos". 

Licenciamento de produtos como diferencial

A Endemol possui mais de 300 produtos oficiais licenciados no mercado brasileiro, de marcas como "MasterChef Brasil", "Simon's Cat", "Peaky Blinders" e "Black Mirror". "Entrar na área de licenciamento nos deu uma ferramenta maravilhosa e um negócio muito lucrativo. Trouxemos uma solução para os negócios, descobrimos um dinheiro que não era explorado, e isso é muito legal", observa a CEO. 

"A Fernanda Abreu, nossa Diretora de Licenciamento, é super experiente e criativa – conheço poucos profissionais que pensam tão fora da caixa quanto ela. Abreu encontra oportunidades onde ninguém mais enxerga. Se apropriar de uma marca faz muita diferença, e fazer isso com nossas marcas, elevou a Endemol Shine Brasil junto e nos fez crescer. As pessoas hoje associam 'MasterChef' a Endemol Shine, por exemplo, então nós também viramos uma marca, uma referência no mercado", comemora. "No licenciamento, entendemos essa estratégia de criar produtos e entender que adultos também gostam e consomem isso, não só crianças. Isso funcionou muito bem. Hoje somos a única produtora independente no Brasil que tem um departamento próprio de licenciamento. Eu decidi trabalhar isso internamente como parte da estratégia de diversificar o modelo de negócio. Somos nossa própria solução para a necessidade do mercado", conclui. 

Produtora de conteúdo 

Algañaraz defende que, desde 2016, quando tornou-se CEO, a Endemol Shine Brasil vem se reposicionando no mercado, deixando de ser uma produtora só de televisão e se transformando em uma produtora de conteúdo, uma vez que foi entendido que o entretenimento está em qualquer plataforma – por isso a empresa segue sempre aberta a novas ideias. Hoje, a produtora está à frente de conteúdos de sucesso para TV aberta, TV fechada e streaming – e estar sempre presente em todos esses meios é um dos seus grandes objetivos. "Temos que estar em todas as plataformas o tempo inteiro. Não podemos desperdiçar nenhum lugar que pode entrar conteúdo. Essa é a nossa forma de ver", garante a CEO. 

"Eu me lembro que em 2017 as pessoas já falavam no mercado que éramos a única produtora que estava em todos os canais de TV aberta ao mesmo tempo. Hoje, continuamos em todos os canais e também em todas as OTTs e principais plataformas. Quando você olha para a Endemol Shine Brasil, nós estamos onde o conteúdo está, nós ocupamos o centro e falamos com todos. Temos uma marca grande, criamos e identificamos o que funciona para o mercado brasileiro e, a partir disso, atraímos sócios estratégicos", explica. 

A Endemol tem exemplos, como o "Game dos Clones", que estava em TV aberta e streaming ao mesmo tempo, na Record TV e no Amazon Prime Video. Este ano também terá o "Canta Comigo" na Netflix e na Record. "Resumindo: trazemos soluções de qualidade para todas as plataformas porque a demanda é alta, as pessoas estão consumindo em uma velocidade desenfreada. Queremos ter o maior market share possível em todos os nossos IPs", declara Algañaraz. 

Expectativas 

Juliana Algañaraz olha para os próximos meses com uma visão otimista, mas realista: "Acho que 2021 será um ano fantástico. Falo 'acho' porque o coronavírus me ensinou que nada é certeza – tudo pode acontecer e não depende só de nós. Mas no que depender de mim e do meu time, vamos continuar entregando o melhor conteúdo de entretenimento e de negócios para os clientes, para os canais, para as OTTs e para todas as plataformas. E vamos continuar tendo muito orgulho, porque estamos muito felizes com tudo que estamos conquistando". 

Ao longo do mês de março, TELA VIVA celebra o Dia Internacional da Mulher e presta uma homenagem às mulheres de destaque no cenário audiovisual nacional. Acompanhe as próximas entrevistas.

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