Documentário "Chorão: Marginal Alado" narra a trajetória do vocalista do Charlie Brown Jr.

Nesta quinta-feira, dia 8 de abril, o documentário "Chorão: Marginal Alado", com direção de Felipe Novaes, estreia nos cinemas e nas plataformas digitais NOW, Google Play, Apple TV, Vivo Play, Looke e YouTube. O documentário conta a história repleta de extremos do vocalista da banda Charlie Brown Jr., que ficou marcado como um dos maiores astros do rock nacional tanto pelas inúmeras letras que compôs quanto pela sua voz e atitude no palco. No dia seguinte da estreia, 9 de abril, o músico faria 51 anos. 

"Por ter crescido em Santos, sempre tive uma proximidade afetiva com a história do Chorão. O país ficou muito chocado com a morte dele, especialmente com a forma como ele morreu e com o fato de ter sido precoce. Mas o que mais me chamou a atenção foi como a figura do Chorão mexia com as pessoas pelos extremos – ou elas o endeusavam muito ou o demonizavam. Então, fiquei instigado a entender melhor quem era aquela pessoa. Estávamos acostumados a vê-lo na mídia, como pessoa pública, mas eu queria entender quem era o Chorão por trás de tudo isso, como se deu aquele final trágico e quem realmente era aquela figura que mobilizava tanto as pessoas, e pessoas tão diferentes", declarou o diretor Felipe Novaes em coletiva de imprensa virtual realizada nesta segunda-feira, 5 de abril. 

O filme revela várias nuances de Chorão, com entrevistas de familiares, amigos, parceiros de banda, do skate e influentes do mercado fonográfico. Os depoimentos abordam a relação conturbada com o amigo e companheiro de banda, Champignon, a paternidade, o amor, a relação com os fãs, os trabalhos sociais, o perfil businessman e o vício que acabou levando o artista a uma morte precoce que chocou o país. Para estruturar a narrativa, foram usadas imagens de arquivos de emissoras de TV, e gravações inéditas do dia a dia de Chorão feitas pelo cinegrafista Jerri Rossato.

"Felipe (o diretor) começou a busca de imagens no Youtube, onde há muito material, coisas dos fãs mesmo, e nas emissoras de TV também. Já tínhamos cerca de 600 horas de material quando entramos em contato com o Alexandre, filho do Chorão, pedindo vídeos caseiros, tanto da vida pessoal quanto dos bastidores do Charlie Brown Jr., e ele apareceu com uma caixa de mais de 700 fitas. Ali, havia muita coisa pessoal do Chorão, coisas que ele gravava em suas turnês, gravações, nos estúdios. Aí sim vimos que conseguiríamos transbordar o nosso espectador com um material riquíssimo", contou Fabio Zavala, produtor do projeto. "O Felipe e os pesquisadores tiveram um papel fundamental de decupagem de mais de mil horas de material, a fim de entender o que era importante, o que fazia sentido, o que nos tocava. Depois, fui atrás dos direitos musicais e de imagem. Mas essa decupagem foi fundamental para que, depois, eu pudesse fazer meu trabalho", completou. 

Novaes explicou que o trabalho foi minucioso por conta da quantidade de material: "Chorão era muito presente nas emissoras e tinha fãs muito engajados, que cuidavam de todos esses registros. Mas é claro que não cabe a vida de alguém em uma hora e vinte minutos – tínhamos que partir desse pressuposto. A partir daí, entender o que fazia sentido estar no filme. Para mim, os momentos 'entre shows' agregam muito – nas estradas, camarins, hotéis. São momentos em que o artista está mais desarmado para a câmera". 

Personalidade polêmica 

O diretor ressaltou que Chorão não era uma pessoa muito diferente de todos nós. "Mas por ele ser um rock star, a gente reparava mais. Os termômetros são mais quentes", pontuou. "Às vezes, a gente esquece que os ídolos são pessoas normais. As polêmicas também mexiam com ele, o deixavam para baixo. O Chorão enfrentava questões como todo mundo. Era uma pessoa intensa e talentosa que se via com dificuldades de lidar com essa massa se sentimentos", descreveu. 

Para Hugo Prata, produtor ao lado de Zavala e que também assina o roteiro com Felipe Novaes e Matias Lovro, o Chorão foi o último "rock hero" no Brasil: "Deixamos claro o porquê dele ter morrido tão cedo, o lado pai, a culpa que carregava consigo e a pressão de seguir produzindo e, consequentemente, dando trabalho e sustento para diversas famílias que dependiam do Charlie Brown para sobreviver. Muito legal, porém muito triste. É um personagem com todos os valores". Prata ainda contou que viu no vocalista do Charlie Brown Jr. um personagem muito rico. "Entrei no projeto como produtor e depois comecei a trabalhar no roteiro também. Percebi então que muitas regras que eu vinha estudando para a dramaturgia de ficção podiam ser abordadas ali. É um personagem controverso, que tem essa dualidade do herói, traça a jornada do herói. Chorão era uma figura tão rica que foi nos oferecendo isso. Existe um arco dramático, além de episódios de dificuldades, conflitos, personagens antagonistas", apontou. 

Chorão faleceu em 6 de março de 2013, aos 43 anos, em São Paulo. Seis meses depois, o baixista da banda e um de seus melhores amigos, o Champignon, se suicidou. Ele tinha 35 anos. "Tivemos uma preocupação muito grande em abordar as mortes de forma honrosa e respeitosa", enfatizou Novaes. A morte de Champignon se deu apenas sete dias após ele ter concedido uma entrevista ao diretor. Os depoimentos do músico fazem parte do longa-metragem.

Lançamento

A estreia do filme foi adiada em um ano por causa da chegada da pandemia de Covid-19 ao Brasil. "Esse adiamento criou uma atmosfera muito diferente em torno do lançamento – a situação da pandemia, o Governo, mudou completamente o cenário do país. Por isso acho importante o lançamento agora. O Chorão sempre foi um farol atento e combativo diante da hipocrisia da sociedade – e isso é e sempre será muito importante. Acho que nesse momento de perseguição à cultura, será importante chacoalhar essa árvore. É oportuno trazer a história desse cara agora", opinou Prata. 

Igor Kupstas, diretor da O2 Play, distribuidora do documentário, também esteve presente na coletiva virtual e falou sobre a estreia: "Seria muito legal ter os fãs nas salas de cinema, aproveitando o filme juntos. Estamos pensando em ações para o lançamento digital para poder conversar com a plateia que vai finalmente assistir ao filme. Queremos muito levar a experiência do coletivo para o digital. É um filme muito especial para nós". 

"Chorão – Marginal Alado" é uma produção da Bravura Cinematográfica, com coprodução da MTV e distribuição da O2 Play. O filme foi eleito Melhor Documentário Nacional no Voto Popular na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2019, e, no mesmo ano, também participou do Festival do Rio. A direção é de Felipe Novaes, os roteiros são de Novaes, Hugo Prata e Matias Lovro e os produtores são Prata e Fabio Zavala. 

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