Grande vencedor do Festival de Gramado 2021 dos Kikitos de Melhor Filme, Melhor Direção de Arte, Melhor Som, Melhor Trilha Sonora, e também do Prêmio Especial do Júri para a atuação de Matheus Nachtergaele, "Carro Rei" fez sua estreia mundial no Festival de Roterdã de 2021 e, desde então, tem acumulado críticas positivas e participações em mais de 30 festivais nacionais e internacionais.
"'Carro Rei' é uma fábula sobre a condição humana num mundo cada vez mais antinatural e tecnológico. Quando nossa realidade parece se tornar cada vez menos verossímil, talvez não seja de todo absurdo a possibilidade de se vislumbrar no fantástico uma forma potente de fabulação crítica da realidade. O estranho, bizarro ou improvável, e também o que desperta o riso, são os principais aspectos políticos do meu filme", diz a diretora Renata Pinheiro ("Amor, Plástico e Barulho") sobre seu longa, que chega aos cinemas em 30 de junho com distribuição da Boulevard Filmes.
Passando pelos festivais Raindance – Inglaterra (Melhor Roteiro), Feratum – México 2021 (Melhor Filme de Ficção Científica Latino-americano), CineFantasy – Brasil (Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Filme Juri Popular), Fantasia (Canadá) e Fantastic Festival (EUA), entre outros, "Carro Rei" acumula em sua carreira, até o momento, 16 prêmios.
A trama aborda o transhumanismo dentro de uma narrativa pop, que ainda combina sci-fi, comédia e traz crítica social. A história é protagonizada por um jovem chamado Uno (Luciano Pedro Jr.), nome dado pelos seus pais em homenagem ao carro em que ele nasceu a caminho da maternidade. O nascimento dentro da máquina lhe deu um dom fantástico: ele consegue se comunicar com carros. Durante a infância, Uno e o carro eram melhores amigos, até que um evento trágico muda seu destino – um acidente mata a mãe de Uno e o carro é exilado no ferro-velho da família.
Dez anos se passam; Uno, com 19 anos, tem aversão a automóveis. Ele é um ciclista apaixonado pela natureza. Junto com sua amiga Amora ingressam na faculdade de Agroecologia para o desgosto do seu pai, que deseja tê-lo ao seu lado na empresa de táxi. Tudo estava indo bem na vida de Uno, até que uma nova lei é implementada na cidade: os carros com mais de 15 anos não podem mais circular, ameaçando a frota de táxi do seu pai. Uno precisa tomar uma decisão. Ele vai para o ferro-velho onde vive seu tio Zé Macaco (interpretado por Matheus Nachtergaele), um estranho mecânico de automóveis, e repleto de ideias mirabolantes. Juntos, eles modificam a aparência do antigo melhor amigo de Uno, transformando-o em um super carro que agora pode falar com todos, o Carro Rei.
O táxi Carro Rei consegue burlar a fiscalização. O negócio da família sobrevive, mas Carro Rei se torna cada vez mais inteligente e ambicioso. Proprietários de carros velhos da classe trabalhadora começam a chegar pedindo ajuda. Carro Rei (voz de Tavinho Teixeira) se torna um mito. Com palavras de ordem contra a injustiça, exalta uma estranha revolta, além de também se apaixonar por Mercedes (interpretada pelo ator transgênero – não binário – Jules Elting), uma artista feminista que vandaliza símbolos de poder masculino. Uma gangue é formada, roubando carros para manter a linha de montagem improvisada. Carro Rei atrai mais e mais seguidores. Uno lamenta ter criado um monstro. Ele tenta escapar do esquema, mas é tarde demais.
"É um filme sobre a luta de classes, que se utiliza da fantasia para adentrar numa realidade de um país destroçado por um governo de extrema direita. O automóvel é o personagem chave dessa narrativa, presente nos sonhos de consumo da sociedade brasileira e de seus governantes que insistem em planejar os espaços urbanos priorizando sempre os automóveis privados. Nos meus filmes, qualquer coisa pode se transformar em personagem, e a linguagem visual é tão importante quanto o diálogo. Aqui, esses objetos inanimados, os carros, são trazidos para a vida real, ao lado dos humanos. Mas seus sonhos são maiores do que seu espaço de armazenamento", conclui a diretora.