Resolvida a questão do fluxo de liberação de recursos aprovados nos mecanismos de incentivo e no Fundo Setorial do Audiovisual, a Ancine se vê diante da necessidade de uma revisão na regulação do setor que passou por profundas mudanças desde a publicação do seu marco legal. O streaming, que já existia na publicação da Lei do SeAC, saltou de uma base incipiente para uma presença maciça nos lares brasileiros, enquanto a TV por assinatura, ou o SeAC, após um período de fartura, viu sua base despencar, empurrada pela conjuntura econômica e a própria concorrência com os streamings.
Ao mesmo tempo, a nova diretoria trabalha em uma mudança na lógica de fomento – que está em curso e que terá reflexos na forma como a produção audiovisual é incentivada.
Para o diretor-presidente da Ancine, Alex Braga, que falou no Pay-TV Forum 2022 nesta quinta, 4, a agência hoje busca meios de reduzir o abismo entre normas antigas e a realidade atual. Segundo ele, a nova diretoria – formada ainda por Vinicius Clay e Tiago Mafra, além da diretora substituta Carla Sobrosa Mesquita Monsores – declara simpatia pelo modelo sul coreano, que trata a indústria do entretenimento como um ativo para o desenvolvimento e fomenta a produção de filmes e séries através do investimento em infraestrutura, inovação e capacitação. Em 2019, em parceria com a servidora da Ancine Luana Rufino, Braga publicou artigo no qual analisa as políticas setoriais sul-coreanas da década de 1990. O artigo pode ser visto aqui.
O modelo de referencia sul coreano em relação ao desenvolvimento da indústria, para a diretoria atual da Ancine, é uma evolução à inspiração francesa que subsidiou a construção dos marcos legais no passado. "Queremos propor uma mudança de mind set, baseada no desejo de trabalharmos a indústria do entretenimento como política de Estado. Do ponto de vista estatal, da administração pública, enxergamos a atividade como indústria de inovação, de tecnologia", disse. "Para que ela alcance suas potencialidades, é preciso ter politicas de indução à produção, mas tem que ser em articulação com os agentes econômicos para que assim surjam novos modelos, oportunidades", completou.
De acordo com ele, tais ações devem ser combinadas com ações de infraestrutura – como estúdio, pós produção, realidade virtual – e com a capacitação e qualificação de pessoal. "Não adianta ter ideias que não serão postas em prática por escassez de infraestrutura ou mão de obra, isso seria impor barreiras à criação. Trabalhamos para que seja garantida a livre expressão de ideias e criações", diz Alex Braga.
Crédito foto: Marcelo Kahn/TELAVIVA