Skybound, de "The Walking Dead", quer trabalhar com produtores brasileiros

Jon Goldman, managing director da Skybound (Foto: Divulgação/ gamescom latam)

David Alpert, CEO da Skybound, produtor executivo e um dos criadores de séries como "The Walking Dead" e "Invincible", e Jon Goldman, managing director da Skybound e media advisor de empresas na área de games, participaram como os primeiros convidados internacionais do "Café com Pixel", programa do canal do YouTube da TELA VIVA produzido em parceria com o escritório CQS/FV Advogados. Na conversa, eles deram detalhes sobre o modelo de negócios da Skybound, empresa norte-americana de entretenimento multiplataforma que trabalha com produtores de conteúdo para diferentes mídias e formatos, e reforçaram o interesse de trabalhar com a indústria audiovisual brasileira

De passagem pelo Brasil para a gamescom latam, realizada em São Paulo, os executivos conheceram um pouco mais do mercado brasileiro e enxergaram um grande potencial aqui. "Nós achamos que existe um banco de talentos incrível no Brasil. A criatividade e a produtividade são acima da média. O mundo está pronto para um momento do Brasil. Já tivemos outros de destaque – na música, nos esportes, no cinema, na TV – isto é, momentos em que o Brasil quebrou barreiras e foi muito bem sucedido. Mas precisa ter aquele momento que a Coreia do Sul teve recentemente. Ganhando Oscar, com série no número 1 da Netflix, bandas em destaque, tudo ao mesmo tempo. Do mesmo jeito que a Coreia passou de fora do radar para o grande sucesso da atualidade, o Brasil precisa passar também", avaliou Alpert. 

E nesse sentido, ele ressalta que um dos objetivos da Skybound é ajudar os criadores brasileiros a alcançarem esse nível de sucesso. "Acreditamos que podemos usar nossa força e conhecimento em distribuição para torná-los bem sucedidos mais rapidamente. É bom para nós, porque temos acesso a grandes talentos no Brasil, e bom para eles, porque serão capazes de sair do ecossistema mais cedo e mais rápido", explicou. 

Alpert conhece a produção audiovisual nacional especialmente por conta de títulos mais antigos – como "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite". Para ele, foi com esses filmes que o mundo notou que havia uma "vibe, um tom, uma textura e um estilo" nas produções brasileiras que nunca tinham sido vistos antes. "O Brasil começou a crescer novamente, mas ainda precisa furar a bolha", opinou. "Sei que é uma questão que dialoga com algumas restrições econômicas que o país enfrenta. Assim, acreditamos que nosso modelo de negócios pode ajudar esses grandes criadores e diretores", enfatizou. 

É claro que o mercado dos Estados Unidos ainda é muito importante para o conteúdo – no entanto, os produtores não acham que seja necessário criar produtos audiovisuais pensando especialmente nessa audiência. "Pela primeira vez na história, os norte-americanos estão assistindo a conteúdo internacional com legendas e adorando. Conteúdos que não foram feitos ou adaptados para lá e, mesmo assim, tiveram sucesso. É claro que isso ajuda no sucesso em outros mercados também", pontua Goldman. Alpert acrescenta: "Não acho que toda série brasileira será apropriada para fazer sucesso global e estourar. Mas acho que seria um erro tentar mudar o estilo para agradar ao público internacional. O que torna o produto exclusivamente brasileiro é o que deve ser abraçado. Não tentar adaptar o que funciona fora ou imitar. Não faz sentido". 

Importância dos direitos de propriedade

Goldman contou que a Skybound estabeleceu uma estratégia visando principalmente reter os direitos sobre as suas propriedades – algo que é importante pontuar que tem sido especialmente difícil no Brasil, considerando a relação de prestação de serviços que a grande parte das plataformas de streaming estabeleceu com as produtoras independentes – e que isso foi muito importante para eles. "Foram anos de luta. Quando nós retemos nossos direitos de séries como 'The Walking Dead' e, agora, 'Invincible', podemos pegar esses direitos e criar videogames, cruzeiros temáticos ou até um vinho". O exemplo não é aleatório: eles realmente produziram um vinho de "The Walking Dead", que trazia conteúdos em realidade virtual no rótulo, e venderam mais de seis milhões de garrafas. "Essa retenção de direitos fornece uma rede de segurança não só para nós, como negócio, mas também para os nossos parceiros criativos. Nós podemos ajudá-los não só a ganhar mais dinheiro, mas também a ter mais controle sobre as decisões criativas que acontecem em um programa de TV", observou. Para ele, esse modelo tem sido a grande chave do sucesso da empresa. 

A dupla está atrás de grandes negócios com o Brasil. Com uma visão mais voltada para a indústria de games, Goldman afirma que há oportunidades de adaptação para franquias e propriedades por aqui. "Estamos procurando. Há muitos talentos no Brasil – e estamos tentando encontrar alguns deles". Alpert salientou: "Espero que encontremos um grande parceiro no Brasil para fazer o próximo hit global". 

A "era de ouro" das adaptações de games para o audiovisual

Olhando para o futuro do mercado, Goldman diz estar vendo um pouco da mesma luta que aconteceu no cinema e na TV começando a acontecer nos videogames. "A Microsoft acabou de comprar a Activision, colocaram 'Call of Duty' gratuitamente na plataforma e estão tentando criar um modelo 'comoditizado' como o que está acontecendo na TV. Será muito difícil de fazer, mas é uma questão que terá impacto nos criadores do mundo inteiro", prevê. 

Outro caminho que eles apostam é em mais franquias de games migrando para o audiovisual, como aconteceu com "The Last of Us". Goldman destaca que o grande público que os jogos têm, com pessoas que passam centenas de horas consumindo as franquias, ajuda na hora de destacar o título quando ele vai para o cinema ou para a TV. Alpert concorda e analisa: "Agora que os jogos evoluíram e há muitos mundos imersivos e narrativas de personagens ricas e profundas, temos um cenário ideal para adaptações. Está começando, e acho que estamos perto de ver a era de ouro das adaptações de videogames para o audiovisual". 

Assista à entrevista na íntegra no canal do YouTube da TELA VIVA ou abaixo: 

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