Filme de Lawrence Wahba vence o Prêmio Mérito de Sustentabilidade no Wildscreen Festival, na Inglaterra

Ao longo dos últimos 30 anos, o documentarista de natureza Lawrence Wahba fez dezenas de expedições ao Pantanal. A 44ª delas, em março de 2020, foi, no entanto, a mais complicada. Enquanto realizava as primeiras filmagens sobre as belezas do Pantanal, numa área remota da maior planície alagável do planeta, o diretor foi surpreendido com o anúncio de que a OMS (Organização Mundial da Saúde) havia decretado a pandemia de Covid-19. No retorno emergencial para isolar-se em São Paulo, cidade onde reside, ao sobrevoar o Pantanal, Wahba foi surpreendido por focos de incêndio atípicos para aquele período do ano. Era o presságio de uma ameaça igualmente assombrosa: a escalada de queimadas jamais vistas, muitas delas de origem criminosa e que, entre junho e outubro de 2020, devastaram o Pantanal, deixando um saldo de mais de 15 milhões de animais mortos e um prejuízo ambiental sem precedentes.

Recluso em casa e desolado com o que via à distância, em agosto, Wahba idealizou a formação de uma brigada de incêndio que logo contou com o crescente apoio de voluntários. No começo de setembro, o documentarista ignorou os riscos da pandemia e decidiu partir para o Pantanal, a fim de se juntar ao grupo de profissionais e voluntários que, dia e noite e na contramão da omissão do Governo Federal, não media esforços para tentar combater o fogo, minimizar o impacto das queimadas e salvar animais. Chegando lá, ao se dar conta da dimensão da tragédia e do diminuto grupo destacado por órgãos governamentais para enfrentar o recrudescimento das queimadas, as maiores desde 2006, Wahba articulou novas frentes para ampliar as ações da brigada voluntária composta por ribeirinhos, pescadores, indígenas e fazendeiros, entre outros.

"A ideia de criar a Brigada Alto Pantanal foi minha, mas o personagem central para a sua construção foi o Coronel Ângelo Rabelo, do Instituto Homem Pantaneiro. Empregamos ribeirinhos com experiência no combate ao fogo e que estavam sem trabalho em meio à pandemia. A brigada continua ativa e a gente tem muito orgulho porque, dois anos depois, esses ribeirinhos estão treinados, uniformizados e capacitados, com salário e carteira assinada. Quando tem incêndio eles fazem o combate; quando não tem, visitam comunidades, ajudam no manejo das roças e dão orientações sobre o uso do fogo", conta. 

Em paralelo ao serviço voluntário que realizava, de câmeras em punho e contando com a ajuda de outros cinco cinegrafistas – Thamys Trindade, Diego Rinaldi, Mike Bueno, Ernane Junior e Cesar Leite – para dar conta da dimensão das queimadas, Wahba era também tomado pela consciência de que o filme que planejava fazer no começo de 2020, baseado em uma série de registros sobre a exuberante beleza do Pantanal, ganhava agora o caráter de um testemunho de horror. Concluído em 2021, "Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas", documentário que resultou dessa missão, foi exibido pela primeira vez na grade do Globoplay em 12 de novembro, o Dia do Pantanal. O filme, que foi coproduzido pela Wahba Filmes e Jefferson Pedace, segue disponível com exclusividade na plataforma de streaming. 

"'Jaguaretê-Avá' não é uma experiência fácil. E faço um destaque especial ao Marco Del Fiol e à Tatiana Lohmann, diretores de documentários mundialmente reconhecidos e premiados, que foram os montadores. Por causa deles, digo que o filme tem praticamente três diretores. Por duas semanas depois da estreia, o documentário foi o mais visto no Globoplay. Recentemente, quando algumas imagens dos incêndios foram usadas na novela 'Pantanal', voltou a subir o número de pessoas querendo assistir ao filme", comenta o diretor. 

Em 14 de outubro, "Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas" chega ao público internacional, quando será exibido em Bristol, na Inglaterra, na programação do Wildscreen Festival – a mais importante mostra de filmes documentais sobre natureza e meio ambiente. Com o impacto da exibição para o júri que selecionou os títulos que compõem essa edição especial da mostra britânica, que celebra 40 anos, "Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas" foi condecorado com uma premiação que enaltece seu forte teor de denúncia: o Mérito de Sustentabilidade.

"Minha expectativa é que esse prêmio possa ser uma alavanca para a gente espalhar a mensagem do filme. E vale dizer que uma grande porcentagem do que a gente arrecadar com a venda internacional do filme será doada. Quanto mais a mensagem se espalhar, mais a gente conseguirá manter as brigadas e os centros veterinários no Pantanal", conclui Wahba. 

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