GNT promove debates sobre documentários

Vai até esta sexta-feira, dia 8, o Brasil Documenta – II Fórum Internacional de Documentários, produzido pelo canal GNT e que acontece no Rio de Janeiro. O evento é voltado aos produtores de conteúdo documental e visa discutir os rumos deste gênero de programação. Na platéia, diretores e produtores, além de estudantes da PUC-RJ, onde acontecem os painéis. O grande destaque do fórum são os convidados internacionais, que trazem cases e experiências em documentários para TV e cinema. Na abertura, segunda-feira (dia 4), o cineasta mexicano Carlos Bolado falou de sua experiência ao trabalhar com documentários e ficção.

Painéis

Na terça-feira, 5, primeiro dia dos painéis, houve espaço para a discussão da produção latino-americana, com representantes de Chile, Argentina e Cuba, além do Brasil. No segundo painel do dia, sobre ética no documentário jornalístico, o destaque ficou para a participação dos estrangeiros: o norte-americano Gary Scurka e o britânico Alex Holmes. O primeiro trouxe seu próprio case de experiência de guerra. Ele foi ferido durante as filmagens ao cobrir o que acontecia no Afeganistão durante a ocupação americana. Diante da questão se deveria ou não levar ao ar seu drama pessoal, achou que não exibir sua história seria privar o espectador de informação primordial. A opção foi não espetacularizar o incidente, abordando o ocorrido de forma secundária diante da tragédia maior que era a própria guerra.
O representante da BBC, Alex Holmes, também exaltou os méritos do jornalismo investigativo através de documentários. Para ele, a tecnologia vem evoluindo e com ela, as técnicas documentais. Holmes acha que, para se contar uma boa história, são válidos tanto os recursos de dramatização quanto de câmeras escondidas. Enquanto isso, os brasileiros – escaldados com programas como "Ratinho" e de jornalismo mais popularesco – se mostram preocupados em poupar o espectador de imagens chocantes. Sylvia Sayão, editora-chefe do Globo Repórter, relatou "cases" do programa nos quais a direção preferiu não expor personagens abordados em situações-limite. Para ela, o exemplo a ser seguido é o dos irmãos Gedeon, que filmavam no World Trade Center no 11 de setembro e decidiram não registrar as cenas mais estarrecedoras, para não expor o sofrimento humano. Gabriel Priolli, diretor da TV PUC e mediador, lembrou que para o jornalismo documental brasileiro ficou a lição das filmagens do incêndio do Edifício Joelma, quase 30 anos atrás. Na ocasião, as câmeras registraram os corpos que se jogavam diante do desespero do fogo, cenas de impacto inédito. Do ponto de vista do documentarista da BBC, imagens assim têm valor documental além do sensacional, uma vez que podem transmitir informações importantes, como por exemplo, a falta de equipamentos dos bombeiros.

Reality Shows

Outro painel que gerou discussão foi sobre os reality shows. Nick Curwin, que fez o polêmico "The Human Zoo" (reality show no qual seres humanos eram confinados numa jaula como os animais num zoológico) para a britânica ITV, acabou perdendo espaço para a discussão dos nacionais "Big Brother Brasil" e "No Limite". Na mesa de debates estavam os globais Zeca Camargo (apresentador de "No Limite" e do "Fantástico") e o diretor Luiz Gleiser (responsável pelo formato multiplataforma de "Big Brother" e responsável pelo "Fama"). Camargo ressaltou o envolvimento da Central Globo de Jornalismo no projeto "No Limite", tirando-lhe a abordagem clássica de um programa de puro entretenimento. Gleiser destacou os complexos aspectos operacionais de um reality show, como por exemplo seu gerenciamento editorial. Com tantas horas de material captadas, ele lembrou que foi necessário o desenvolvimento de um software específico para facilitar a decupagem das imagens. As demais debatedoras – a professora universitária Ivana Bentes e a jornalista Dorrit Harazim – abordaram aspectos filosóficos e antropológicos dos reality shows, levando o debate a uma discussão quase acadêmica sobre a era da exposição individual na TV.

MV Bill

O rapper MV Bill, numa entrevista em evento paralelo aos painéis, aproveitou para polemizar sobre o filme "Cidade de Deus". O músico, que estreou como documentarista com "Di Menor" e que mora na favela, afirma que o filme não é fiel à vida que se leva ali. MV Bill teve, no ano passado, seu projeto de documentário "Di Menor" laureado com o prêmio de R$ 100 mil dado pela Brasil Telecom (patrocinadora do Brasil Documenta). Trata-se de um documentário sobre os meninos angariados pelo tráfico para atuar na criminalidade.

Na TV

Até o último dia serão discutidos temas relacionados à estética e conteúdo dos documentários, possibilidades técnicas com a digitalização, novas estratégias a partir da Ancine e as perspectivas no mercado internacional. Os cineastas Eduardo Coutinho e Carlos Bolado, a assessora da presidência da Ancine, Vera Zaverucha, e o executivo Nikc Fraser (da BBC) são alguns dos debatedores a marcar presença nos painéis. Correm ainda um laboratório de projetos, para os quais foram selecionados dez documentários, uma mostra e um workshop de vídeo digital desenvolvido por profissionais da Casablanca e do próprio GNT.
O canal exibe um especial sobre o Brasil Documenta no próximo dia 17, às 22h.

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