"Sintonia" chega ao fim deixando legado social e de valor de produção para o audiovisual do Brasil 

(Foto: Divulgação/ Netflix)

A quinta e última temporada da série "Sintonia" estreou na Netflix na última quarta-feira, 5 de fevereiro. A produção, que é a maior franquia original da Netflix no Brasil, alcançou o primeiro lugar no Top 10 Global de séries de língua não-inglesa em 2023. O título possui o maior número de temporadas de qualquer série original já produzida pela Netflix no Brasil. A temporada inédita já está no topo da lista das séries mais vistas da plataforma no país.

Os episódios da produção que retrata a periferia de São Paulo concluem as histórias dos amigos Nando (Christian Malheiros), Rita (Bruna Mascarenhas) e Doni (Jottapê). A nova temporada se passa quatro anos após os últimos acontecimentos: Nando, Rita e Doni enfrentam desafios que podem mudar o rumo de suas vidas. Enquanto Nando faz mais um corre arriscado, Rita realiza seu sonho de advogar e enfrenta um dilema profissional. Doni se surpreende com uma visita do passado e precisa tomar uma decisão crucial para os negócios da gravadora VA Records. A amizade do trio será colocada à prova pela última vez.

"Gravar a quinta e última temporada de 'Sintonia' teve um gosto diferente. É claro que todas as temporadas trazem uma grande responsabilidade, mas essa tinha um pouco mais, por ser a última, que vem para encerrar um ciclo de sete anos. Ao mesmo tempo, tinha um certo luto também, por sabermos que está acabando. São sete anos trabalhando – nem sempre com a mesma equipe, mas muitas pessoas que estavam na primeira temporada seguiram juntas até a última, então é claro que acabamos tendo, para além da relação profissional, uma relação pessoal. Com os atores também, eu conheci a Bruna, o Chris e o Jottapê novinhos, eles foram amadurecendo com o passar do tempo. Nessa temporada, a gente ia filmando e parava pra pensar, principalmente nas últimas diárias deles, e passava um filme na cabeça", comentou o diretor geral e diretor de episódios Johnny Araújo em entrevista exclusiva para Tela Viva.

O número de cinco temporadas não é mais tão comum para as séries. Para Araújo, a longevidade de "Sintonia" está relacionada com a sua autenticidade. Ele explica: "A gente sempre buscou esse olhar de dentro pra fora, nunca de fora pra dentro. Nunca olhamos para esse universo por uma luneta. Claro que é uma ficção, e não um documentário, que fosse mostrar a vida como ela é o tempo todo. Mas a autenticidade tem um peso grande, foi esse lugar que sempre buscamos. E acho que o público se identificou com isso. A periferia de São Paulo já tinha sido retratada de outras maneiras, mas 'Sintonia' trouxe um retrato mais profundo, e principalmente sem julgamento nenhum".

O diretor também acredita que as histórias dos três amigos tenham sido responsáveis por criar essa conexão forte entre a série e o público. "As pessoas se identificam com essas relações de amizade. Isso eu senti muito. E houve um amadurecimento natural. Na primeira temporada, a coisa da música era muito forte. A gente nunca perdeu isso – a música sempre teve papel importante. Mas abrimos o leque, exploramos outros lugares. É uma série muito humana, que trata de questões muito humanas, e eu percebia que o público sentia isso quando conversam comigo ou eu escutava comentários a respeito. Já vieram falar comigo de 'Sintonia' no táxi, na rua. Quando a gente filmava na rua acontecia muito das pessoas virem falar com a gente. É curioso isso que aconteceu, é um fenômeno muito parecido com o das obras de televisão aberta em termos de alcance. E é uma obra fechada, dentro de um canal pago. Mas a Netflix também cresceu muito nesse tempo, se estabeleceu no Brasil, e por isso acabamos tendo esse retorno muito parecido com o da TV aberta. Das pessoas falarem com os atores usando os nomes dos personagens até".

E para além dessa boa troca com a audiência, Araújo destacou a parceria com a Netflix e a produtora Gullane. "Essa parceria foi muito legal porque a gente ia conseguindo ajustar as coisas. Assistíamos às temporadas anteriores, ouvíamos o feedback do público, identificávamos o que funcionou bem, outras coisas que nem tanto. E acho que os roteiros também foram amadurecendo e ficando cada vez mais focados na história dos três". Para o diretor, está aí outro trunfo do projeto. "Um personagem nunca atrapalhou o outro. Tínhamos que contar três tramas diferentes na série, e a gente conseguiu. Isso se deve muito à longevidade de 'Sintonia'. Conseguimos encontrar a melhor maneira de contar três histórias simultâneas sem atrapalhar as tramas de outros personagens. Contar essas três histórias sem se perder e carregar esses personagens de uma menina super equilibrada foi um diferencial", aposta.

(Foto: Divulgação/ Netflix)

Valor de produção e legado

"Sintonia" acompanhou, nos últimos sete anos, o amadurecimento da produção audiovisual de séries para streaming no Brasil. E, para além de fazer sucesso no país, levou esse legado para fora e mostrou o valor da produção brasileira para o mundo, alcançando o primeiro lugar no Top 10 Global de séries de língua não-inglesa na Netflix. "Essa foi para nós uma resposta muito impactante. Quando chegou para nós esse dado foi muito bacana. Se a gente conseguiu esse lugar, é porque a nossa história teve uma leitura em outros países. A gente conseguiu, para além de São Paulo e do Brasil, uma identificação de pessoas de outros lugares, outras culturas. Isso, mais uma vez, acredito que venha desse lugar de retratar esses três jovens e suas questões, suas histórias. E é muito bacana termos alcançado esse lugar de 'Sintonia' mais universal. Eu fico muito feliz por 'Sintonia' ter tido esse resultado e por termos produzido cinco temporadas – mas eu comemoro esses feitos assim como comemoro os de outras séries brasileiras também. Para o país, é muito importante que as nossas séries performem bem e tenham longevidade. Para o nosso mercado, é extremamente positivo, pois reforça que, sim, a gente consegue produzir entretenimento e principalmente a longo prazo", ressaltou Araújo.

"E o mais bacana é que a gente nunca teve essa preocupação, isto é, não foi uma série feita para agradar o público de fora. É uma série brasileira. Nunca pensamos em como iríamos abordar algum tema que fosse universal. Mas entendemos que muitos dos nossos assuntos e das nossas histórias causam interesse em outras culturas e em outros países", completou.

Produzida pela Gullane, "Sintonia" é baseada em uma ideia original de Kondzilla e foi criada em conjunto com Felipe Braga e Guilherme Quintella. A direção geral da quinta temporada é de Johnny Araújo e a direção dos episódios é de Johnny Araújo, Daniela Carvalho e Denis Cisma, com produção executiva de Caio Gullane e Fabiano Gullane. Confira abaixo um vídeo dos bastidores da série divulgado em primeira mão pela Tela Viva:

Evento 

A Netflix comemorou a quinta e última temporada de "Sintonia" no último sábado, 1º de fevereiro, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Mais de 10 mil fãs estiveram presentes no "Sintonia – O Último Baile", um festival gratuito de dez horas de duração. O evento celebrou o fechamento da série com shows de nomes de peso da cena do funk, rap e trap, batalhas de rimas e atrações especiais.

Integrantes do elenco como Christian Malheiros (Nando), Bruna Mascarenhas (Rita), Jottapê (Doni), Julia Yamaguchi (Scheyla), MC M10 (Formiga), MC Rhamon (Pulga), Jefferson Silvério (Rivaldinho) e Júlio Silvério (Jaspion), junto dos diretores Johnny Araújo, Daniela Carvalho e Denis Cisma e dos produtores executivos Caio Gullane e Fabiano Gullane, se reuniram com convidados especiais como Negra Li, Sant, N.I.N.A, MC Soffia, Drik Barbosa, Bivolt, Jup do Bairro, MC Tha, Afreekassia, Ananda Morais e Eduardo Suplicy para curtir o baile.

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