Focada em entregas para o digital, Beel Films abre sede nos Estados Unidos

Bruna Cassapietra e Laura Terra são sócias na Beel Films (Foto: Divulgação)

A Beel Films foi criada em 2016, em São Paulo, pela diretora Bruna Cassapietra e a produtora executiva Laura Terra. A empresa começou como uma pequena produtora de conteúdo audiovisual, com liderança 100% de mulheres e equipe predominantemente feminina também. Mesmo com o porte pequeno, ela logo passou a trabalhar com médias e grandes empresas e se transformou em uma casa de criação e produção de conteúdo, principalmente a partir do desenvolvimento de um núcleo criativo dentro da produtora, que possibilitou o contato direto com as marcas e um trabalho 360º, que abrange desenvolvimento, estratégia, criação, produção, pós-produção e finalização. Nesses oito anos de empresa, a Beel já trabalhou com clientes como H. Stern, Azul, Vult, Kraft Heinz, Lalamove, Latam, Cacau Show, OLX e Royal Canin, entre outros, até começar a atingir clientes fora do Brasil também. 

"Começamos em 2016 já com foco no digital – mesmo ele não sendo tão forte na época como é hoje. Isso aconteceu simplesmente por conta dos nossos próprios hábitos de consumo. Passávamos tanto tempo consumindo conteúdo no celular que não fazia sentido não fazer parte disso e nos dedicarmos ao ambiente digital. E, desde aquela época, buscamos nos adaptar ao que o mercado pedia. Como sempre tratamos direto com as marcas, logo entendemos que precisávamos da parte de criação dentro da produtora, e não só produção", contou a produtora Laura Terra em entrevista exclusiva para TELA VIVA, relembrando o momento em que a Beel passou a contar com um núcleo próprio de criação. 

"Nosso trabalho foi acompanhando as mudanças do mercado. Sempre que surgia uma nova plataforma, a gente estudava e entendia como as marcas podiam estar presentes ali. Assim vamos nos renovando para o mercado, não caímos no cômodo e somos reconhecidas por isso. O público vai mudando, assim como as formas de consumo. E cada plataforma digital tem um tipo de público – algo que muitas vezes as pessoas esquecem. Não dá para generalizar tudo em 'digital'. Sempre falamos isso para os clientes. O comportamento do público muda dependendo da plataforma em que ele está", ressalta. 

Nesse sentido, Terra pontua que uma das coisas mais essenciais do trabalho com o digital é constância: "Não é de um dia para o outro que aquele vídeo vai viralizar. É preciso pensar no público, adaptar o conteúdo para diferentes plataformas, testar ferramentas novas que as plataformas lançam… Se não der certo, vamos mudar, tomar outro caminho. É importante estar sempre se adaptando, e esse é nosso grande diferencial. Desde o início da pandemia já trabalhávamos com animação e captação à distância, por exemplo, porque sempre buscamos sair do conforto e nos atualizarmos". 

Para a diretora Bruna Cassapietra, essa facilidade de adaptação está muito relacionada ao fato da empresa já ter sido criada tendo o digital como core. "É internalizado dentro de nós que precisamos ser flexíveis. O público do digital é extremamente flexível. As pessoas mudam de comportamento de uma plataforma para outra. É preciso observar e passar isso para as marcas, reforçar o quanto essa flexibilidade é necessária. O trabalho no digital trouxe para nós a facilidade de estarmos abertas a ouvir o que está acontecendo e, aí, passar tudo isso para as marcas, que muitas vezes entram no modo automático, e é nossa função mexer nisso e explicar que não é por aí. Existe essa educação o tempo inteiro, mas para gente acabou sendo algo muito orgânico", afirmou. 

Processo de humanização das marcas

Os conteúdos de marca mudaram muito nos últimos anos – o mercado anunciante evoluiu seu comportamento e passou a falar com o público em primeira pessoa, adotando uma persona – que pode ser mais engraçada ou mais formal, por exemplo, de acordo com o perfil da marca e do seu público – e produzindo conteúdos que foram se aproximando cada vez mais do entretenimento. "Mas ainda existe uma grande resistência das próprias marcas em quererem ousar, serem mais livres mesmo. No Brasil enxergamos muito isso. Nos Estados Unidos, já existe mais liberdade", observa Cassapietra. "O mercado local é mais conservador. Existem muitas barreiras a serem quebradas para chegarmos a um processo de criação que seja mais livre e confortável – justamente o que a rede social pede, principalmente o TikTok, onde o público consumidor quer ver essa coisa mais informal. É interessante ver que, aos poucos, as marcas estão tentando quebrar essas barreiras. Quando isso acontece, tem uma resposta diferente do público", completa. 

Para a diretora, ao olhar para a evolução do mercado nos últimos anos é possível perceber essa quebra gradual das barreiras – mas ainda está longe do ideal. "A marca precisa lembrar que, na rede social, ela está disputando a atenção com outros indivíduos – sejam influenciadores digitais ou os próprios amigos da pessoa. Por isso essa humanização das marcas é tão importante. Quando você traz a marca em primeira pessoa, como indivíduo, acaba atraindo a atenção. É fundamental trazer esse lado mais humano, mostrar um pouquinho de bastidores, de repente. Um diálogo informal com o público mesmo. É claro que, no fim do dia, a marca quer conversão, todo mundo sabe disso. Mas sem esse histórico de estar todo dia ali, conversando com a audiência, essa conversão não vai acontecer. Essa parte de produção de conteúdo de marca no digital é muito intensa. Precisa estar online o tempo todo", enfatiza. 

Terra concorda e acrescenta que as marcas precisam ter em mente, especialmente na hora de dividir os orçamentos que vão para cada janela, que a concorrência dentro do digital está cada vez maior – tanto direta, com outras marcas, quanto indiretamente, no caso de influenciadores e amigos – e que, por isso, é essencial ter uma estratégia muito bem elaborada, "senão não fará sentido qualquer investimento que seja feito ali, seja de tempo ou de verba", diz. Segundo a produtora, o mercado local ainda está passando por esse processo de compreender o que é o digital e o porquê de investir nele

"Além disso, estamos num momento em que há muitas gerações diferentes dentro das plataformas, e cada uma com seus hábitos específicos. É desafiador entender como conversar com todos elas – pensando no seu consumidor de agora e no do futuro também, que é aquela pessoa que, hoje, não consome o seu produto, mas que no futuro pode vir a consumir. Isso é muito comum com marcas de luxo, por exemplo. Hoje, uma pessoa de 18 anos não é cliente dessa marca, mas futuramente talvez seja. Então é muito importante criar uma lembrança de marca. A conversão, que é o que todas buscam no fim do dia, pode demorar a acontecer, mas tem a ver com essa lembrança de marca". 

De maneira mais objetiva, Cassapietra exemplifica: atualmente, há marcas de luxo que estão trabalhando com o segmento de games, por exemplo. O que elas fazem ali? "Estão justamente buscando criar essa lembrança de marca nos seus futuros consumidores. Existe uma linha de raciocínio por trás; nada é por acaso. Para trabalhar assim, podemos contar com as informações que o digital oferece. Temos hoje muito mais material informativo do que tínhamos antes. Conseguimos coletar esses dados para desenvolver essas linhas de raciocínio a longo prazo". 

E, falando em longo prazo, Terra salienta que, no digital, apesar de a resposta do público – se gostou ou não gostou – ser imediata, os resultados dos investimentos não necessariamente serão: "Existe aquele mito de achar que vai publicar um vídeo e no dia seguinte ele vai explodir na rede. O retorno do público pode ser rápido em termos de resposta, mas o retorno do investimento acontece a longo prazo. No momento de separação de verba tem que pensar a longo prazo – senão, só haverá frustração, do tipo 'investi tanto e só consegui alguns likes'. É um trabalho feito de degrau em degrau, e a todo momento. É muita produção mesmo. O público mudou, todo mundo assiste vários vídeos no celular, todos os dias. Esse volume de conteúdo ainda é um desafio para o mercado – as marcas que entenderam, já saíram na frente. Os resultados não são imediatos mas, quando acontecem, são consolidados". 

Expansão para os Estados Unidos

Neste ano, a Beel Films abriu uma sede em Miami, nos Estados Unidos – por lá, a empresa se apresenta como Studio Beel. "Levamos nossa excelência e experiência do mercado brasileiro para fora, com liderança feminina e agilidade de comunicação digital", define Terra. "Essa novidade vem muito do nosso processo de entender as necessidades do mercado. Nós trabalhamos com muitas marcas que são multinacionais e esbarramos em questões burocráticas e estratégicas de trabalho. O digital alcança tudo, então se a gente conseguir ir se expandindo, conseguimos alcançar e entregar de uma maneira melhor". 

Nesse processo, a dupla já enxerga grandes diferenças de cultura e consumo. "Nesses oito anos de história no Brasil, entendemos como é o digital e como ele funciona aqui. Agora, com a maturidade que criamos nesse tempo, decidimos nos desafiar para abraçar outros lugares – onde já temos um leve conhecimento, mas precisamos entender os hábitos, a cultura e talvez até outras plataformas que sejam mais usadas por lá do que são no Brasil. Foi um processo natural irmos para os Estados Unidos, que é uma cultura um pouco mais próxima da nossa do que a Europa, por exemplo. Fomos para Miami porque alguns clientes já têm sede lá. Fizemos um planejamento interno para abrir esse leque – mas sempre respeitando as diferenças culturais que encontramos no meio do caminho", observou a produtora. 

Para Cassapietra, uma das principais diferenças é na parte de comunicação, que é muito mais "agressiva" nos EUA, no sentido de ser mais explícita e direta mesmo: "No Brasil, gostamos de contar uma história. É parte da nossa cultura. As novelas contribuíram muito para isso, pegamos gosto pelo storytelling. Consequentemente, a publicidade e o conteúdo digital aqui acabaram indo um pouco por esse caminho. E lá, isso não aconteceu. O papo é mais sério, não faz curva. Essa é a maior diferença e o maior choque que tivemos".

A Beel Films segue existindo no Brasil, com a operação acontecendo em paralelo a dos Estados Unidos. Na nova fase, a produtora espera conseguir uma comunicação ainda mais certeira para as marcas com as quais já trabalha e que têm clientes nos EUA, especialmente multinacionais, assim como expandir e conquistar novos clientes, nesse mix de objetivos.

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