Misturando dramaturgia e experimento social, o julgamento de um caso fictício é o fio condutor do especial “Falas Negras” deste ano, que se propõe a discutir o uso do reconhecimento fotográfico de suspeitos e o encarceramento de pessoas negras. Com apresentação de Clayton Nascimento e direção artística de Antonia Prado, o especial vai ao ar em 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra.
O protagonista Wesley (Diego Francisco), um rapaz negro, é réu pela morte de Matheus, um adolescente de 16 anos, assassinado no estacionamento de uma loja de construção no Rio de Janeiro. A mãe da vítima o reconhecera em uma fotografia do “catálogo de suspeitos”, que lhe foi apresentado na delegacia, no momento do boletim de ocorrência. Esta se torna a principal prova para a acusação. No tribunal reproduzido pelo programa, no dia de seu julgamento, todos são atores, exceto os jurados. Formado por cidadãos comuns, o júri tem nas mãos a missão de dar um veredito que vai definir o futuro do réu.
Em meio ao julgamento de Wesley, a narrativa do especial é conduzida pelo ator e dramaturgo Clayton Nascimento. O programa conta com depoimentos de especialistas nas áreas de História, Direito e Psicologia. O episódio pretende provocar o público a refletir sobre o perfil das pessoas presas por reconhecimento fotográfico no Brasil e a questionar o uso do método diante das limitações da mente humana em situações traumáticas. Além disso, busca respostas sobre o impasse por trás do mecanismo que tem impactado a vida de tantas pessoas inocentes e se mostrado mais uma ferramenta que expõe o racismo no país. Nascimento, além de apresentador, é um dos criadores e roteiristas do especial.
Embasamento teórico
Um levantamento feito pelo Conselho Nacional das Defensoras e Defensores Públicos-Gerais (Condege) e pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ), em 2021, apontou que 83% dos presos injustamente por reconhecimento fotográfico são negros. E o perfil dos acusados é, na maioria dos casos, constituído por jovens pardos ou pretos, conforme a definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O episódio mostra como se desenrolam os trâmites processuais e ouve autoridades que discutem a validade do reconhecimento fotográfico de suspeitos. “O que veremos é um estudo sobre o tema, então será compartilhado como acontecem, dentro das salas dos tribunais, os julgamentos que podem levar diariamente jovens negros para o sistema carcerário. Se pelos números – que já são chocantes por si só –, a nossa sociedade não promove um movimento que exponha esse cenário, sinto que pela emoção que a narrativa promove conseguiremos enviar nossa mensagem de quão delicado, urgente e importante é falarmos das práticas, do modus operandi dos ‘catálogos de suspeitos”, explica Clayton Nascimento.
“Falas Negras” será exibido em 20 de novembro, em ocasião do Dia Nacional da Consciência Negra, após “Mania de Você”. Criado por Clayton Nascimento e Antonia Prado, escrito por Clayton Nascimento e Mariana Jaspe, o especial tem direção artística de Antonia Prado, direção de Felipe Herzog e Clayton Nascimento e direção de gênero de Mariano Boni. O programa tem produção de Ana Luisa Miranda e Fernanda Neves.
Eu mesmo tinha um empregado que trabalhava na minha fabrica que trabalhava a noite e foi reconhecido e preso por ter sido reconhecido e naquele momento estava trabalhando a noite na minha fabrica e só foi salvo porque eu tinha um relogio de ponto que as pessoas que trabavam na fabica assinavam o ponto e eu fui na frente d juiz testemunhar e levar o rolo com as assinaturas para provar que ele estava trabalhando na hora do ocorrido.
Luiz Carlos