Para executivos e produtores, momento é de mudanças, mas também de boas oportunidades 

(Foto: Pixabay)

Mauro Garcia, presidente-executivo da Bravi; Débora Ivanov, sócia da Gullane e diretora da distribuidora Gullane+; e Marcio Yatsuda, presidente da Movioca Content House, participaram de um bate-papo sobre o audiovisual nacional na manhã desta quarta, 9, no evento de lançamento do Crie Audiovisual, iniciativa que integra o Polo de Referência Nacional em Economia Criativa liderado pelo Sebrae/SP e que será executada pela Bravi (Brasil Audiovisual Independente).

Ivanov celebrou a iniciativa, que "pegará na mão" das produtoras e, assim, ajudará no crescimento do audiovisual como um todo: "Eu, que tenho quase 30 anos de mercado e comecei do zero, sei da importância desse passo". A produtora destacou como as oportunidades hoje são diversas, considerando especialmente um cenário onde há incentivos fiscais; o FSA; a possibilidade de regulação do VoD, que poderá tornar o fundo setorial ainda mais robusto; o PNAB, com investimentos para todo o setor cultural, incluindo o audiovisual; os acordos bilaterais entre países, com oportunidades de alavancar coproduções; entre outras possibilidades. "A perspectiva de crescimento do audiovisual é de mais de 7% ao ano no mundo porque cada vez mais se consome conteúdo e cada vez mais queremos novidades. O ambiente é muito promissor", definiu.

Apesar disso, ela ressaltou como o mercado é competitivo. "Hoje, temos muitas produtoras. A capacitação, apropriação de todos os detalhes legais, financeiros e oportunidades é o que permitirá às empresas disputarem espaço e permanecerem de forma longeva. Se não souberem de tudo isso, edital vira voo de galinha", brincou. "Tudo começa com um projeto, mas depois você precisa pensar na empresa, numa carteira de projetos e nessa sustentabilidade. Aí entra a gestão. Sem gestão, não dá para crescer", pontuou.

Cenário de mudanças drásticas 

Yatsuda concorda e diz que esse novo programa elevará o apoio que o Sebrae já faz ao empreendedorismo a outro patamar – tanto do ponto de vista de abrangência quanto de profundidade. E, falando do cenário atual, ele destaca as drásticas mudanças em modelos de negócio e mercado de modo geral. "Estamos no meio de uma guerra global comercial que gerará impactos. Há a possibilidade de a China retaliar os Estados Unidos proibindo filmes americanos. São essas as armas que estão na mesa. Para além das coisas que já vínhamos experimentando de mudanças, principalmente trazidas pela digitalização e o streaming, o que está acontecendo agora terá impacto para todas as indústrias – inclusive o audiovisual brasileiro", ressaltou.

"Mas acredito que desafios geralmente trazem oportunidades. Temos que pensar nessa ascensão da China como grande potência, que deverá vir antes do que esperávamos. Outro ponto é a inteligência artificial. Ao mesmo tempo em que representa riscos para algumas coisas, é inexorável, teremos que aprender a lidar com ela. A regulação da IA é super importante, existe um projeto de lei em fase de tramitação que é importante acompanharmos. Temos que aprender a utilizar porque ela impactará em todas as cadeias produtivas, e o audiovisual não será diferente", alertou o produtor.

Criatividade x Gestão

Ele também refletiu sobre esse equilíbrio entre o lado criativo e o de gestão, tão essencial para os produtores do audiovisual na atualidade. "O público brasileiro está cada vez mais exigente em relação ao que quer ver na tela. Isso gera demandas – que, em última análise, pedem por mais recursos financeiros. O mercado vai se especializando, subindo o sarrafo mesmo. Mas as fontes de financiamento não crescem na mesma proporção. Até 2018, tínhamos as linhas de fluxo contínuo no FSA. Hoje não tem mais porque o recurso não é suficiente. Além disso, o próprio recurso que vem do FSA também não é mais suficiente para o projeto inteiro, é necessário compor com outras fontes. Na Bravi, buscamos ainda trazer cada vez mais a iniciativa privada para a indústria audiovisual. Ou seja, esse é um grande desafio em termos de modelo de negócio: praticar modelos híbridos de projetos. Com diferentes recursos e diferentes formatos".

Para muito além da demanda criativa, o produtor enfatiza a importância de entender a vocação da empresa – para qual mercado ela se encaixa e de que forma ele é financiado. "Formar fontes de financiamento é uma engenharia. E isso tende a ficar mais complexo. Não acho que vá simplificar".

Sustentabilidade passa por encontrar melhor caminho

Tudo isso tem a ver com sustentabilidade, isto é, garantir a permanência e o crescimento das empresas no mercado. Garcia lembrou que, depois da Lei do SeAC, houve um boom de produtoras brasileiras, e a associação foi pioneira em abrir espaço para produtoras de todas as regiões. "Aí entrou o desafio da permanência. Nosso trabalho foi e continua sendo buscar equilíbrio, porque cada uma quer uma coisa. Buscamos aquilo que nos une, e não onde divergimos. E aí conseguimos um caminho", comentou. Nesse sentido, ele citou o substitutivo ao PL do streaming apresentado pela deputada Jandira Feghali (PCdoB/RJ) na última terça, 8. "Ali está uma posição que não cria ruído entre nós. Não é um consenso, mas é onde não divergimos. Tem alguns eixos inegociáveis, como a questão da proteção da produção e propriedade intelectual. Não foi fácil, mas chegamos", exemplificou, mostrando como encontrar caminhos em comum é possível mesmo que existem diversos atores envolvidos.

Na Bravi, as produtoras têm diferentes vocações. Das mais de 670 associadas, cerca de 115 estão no projeto de internacionalização junto da Apex. "É um extrato grande, mas nos mostra que nem todo mundo tem essa vocação. Diariamente enviamos informes com tudo o que está acontecendo. Isso já é uma capacitação, e que ajuda a possibilitar que cada um encontre seu espaço. Existem diversas possibilidades para além das plataformas de streaming. Na TV paga por exemplo, tem canais de diferentes nichos e tamanhos. A gente orienta. Não só a parte criativa, claro, mas dando informações que permitam que cada um encontre seu caminho", concluiu.

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