Um painel realizado nesta segunda-feira, 9 de setembro, durante a 28ª edição do Festival Internacional de Cinema Florianópolis Audiovisual Mercosul – FAM 2024, recebeu representantes do Fórum dos Festivais para debater a importância desses eventos para a indústria audiovisual, a formação identitária da população e ainda para outras áreas, como o turismo e a economia dos locais onde eles acontecem.
O Fórum tem 24 anos de história – foi criado em 2000 com o objetivo de unir organizadores de eventos audiovisuais e fortalecer a produção cinematográfica brasileira. Ele luta por reconhecimentos, direitos e sustentabilidade financeira. Em 2023, foram realizados aproximadamente 400 festivais no Brasil, entre eventos que exibem exclusivamente filmes brasileiros, os que exibem filmes brasileiros e estrangeiros e mais diversos recortes, que passam por gênero, faixa-etária, região e temáticas, entre outros. Atualmente, o Fórum conta com pouco mais de 60 festivais associados, em uma representação ampla, nas cinco regiões do Brasil, e segue aberto e interessado em trazer novos eventos para se associarem.
Josiane Osório, integrante da diretoria do Fórum dos Festivais e que passa a assumir a associação nesta semana, ressaltou o papel dos festivais na formação de público pela experiência da grande tela, além de serem esse espaço de socialização. “É um conceito que precisamos guardar quando pensamos na infância e nos novos aparatos tecnológicos que promovem a individualização. Os festivais nos remetem a pensar o cinema naquele grande lugar do encontro. Essa vivência que eles promovem, além de mudar a vida de diretores, cineastas, programadores e curadores, entre outros profissionais, tem um aspecto formativo importante, e também nesse lugar de pensar a carreira dos filmes dos diretores, que exibem seu primeiro curta, depois o segundo. Conseguimos enxergar essa espécie de cauda longa da própria obra do diretor. São dimensões múltiplas dos festivais. Os ambientes de mercado que eles organizam também ajudam no desenvolvimento dos projetos e proporcionam encontros de possíveis coprodutores”, analisou.
Hoje, um dos principais desejos do setor de festivais é retomar algumas linhas de políticas públicas, como do FSA, que existiam e se perderam. “Estamos atualmente num exercício de diálogo e construção de um associativismo colaborativo para uma participação mais direta dentro do setor, na cadeia econômica e produtiva do audiovisual. Conversamos com outras entidades, como a APAN, e ainda com o Conselho Superior de Cinema, o Comitê Gestor do Fundo Setorial, o MinC e a Ancine, e tentando ainda um contato com o BNDES. Precisamos de um espaço de diálogo mais íntimo e direto com base na importância que temos dentro do mercado”, citou Osório, mencionando ainda o objetivo de ajudar na formação de novos cineclubes, festivais e mostras e a busca por captar novos recursos. “Devemos pensar na diversificação das fontes de recursos para esses festivais. Desde Lei Rouanet, leis municipais e emergenciais e fomento direto”.
Principais objetivos
A diretora apresentou quais são os próximos passos do Fórum dos Festivais. Conforme ela destacou, o fortalecimento das políticas públicas junto do MinC, a filiação de novas entidades, a retomada das linhas de financiamento com recursos do FSA e a união e um maior diálogo entre os festivais e destes com as outras associações e demais setores da cadeia audiovisual estão entre as prioridades. “Nós, enquanto festivais, não podemos todos ano começar tudo de novo, isto é, viver com incerteza. Temos recurso para garantir a sustentabilidade dos festivais – e esses recursos estão no FSA. Esse é nosso grande norte, onde enxergamos que precisamos ter uma atuação mais agressiva agora. E por isso é tão importante que seja feito junto de outras entidades, uma vez que temos interesses em conjunto”, enfatizou.
Outro objetivo futuro é a criação de um Prêmio Nacional do Fórum dos Festivais, que reunirá um time de curadoria e, depois, um júri para premiar filmes que participaram de festivais, tanto curtas quanto longas, com prêmios em diferentes categorias.
Novos desafios
Márcio Blanco, que está de saída da presidência do Fórum dos Festivais, também participou do encontro e refletiu que, atualmente, os festivais passam por uma certa crise existencial, após acontecimentos como a pandemia, um longo e difícil processo político, a ascensão do digital e das plataformas de streaming e a mudança nas formas de consumo de audiovisual, que passa ainda pelo desafio da volta do público às salas de cinema. “Mas são desafios que temos que encarar com otimismo. Festivais são o passado, o presente e o futuro do audiovisual do Brasil. Não somos somente janelas de exibição e eventos que fazem essa produção brasileira chegar ao público, mas também lugares de encontro – e isso é muito importante. Festivais são lugares de encontro mediados pelo cinema. Um dos grandes papéis dos festivais é promover encontros qualificados entre o público e o cinema brasileiro. Nós sabemos fazer isso, mas temos encontrado problemas. Precisamos de um diálogo mais fluido com as políticas públicas”, defendeu.
Reflexões necessárias
O encontro do Fórum dos Festivais encerrou com um caloroso debate, que trouxe questões e provocações do público presente acerca das curadorias, que em muitos casos acabam sendo feitas sempre pelas mesmas pessoas, o que pode não trazer a diversidade e a representatividade que o cinema pede e que deve garantir; e também em torno da acessibilidade, uma vez que muitos desses eventos não trazem recursos como legendas para surdos e ensurdecidos, janela de libras e audiodescrição, por exemplo, e que tais medidas, por não serem obrigatórias, são frequentemente deixadas de lado com o argumento de que são muito caras de implementar. “O Fórum é importante justamente para entendermos essas questões, fazermos diagnósticos e pensarmos juntos em formas de resolver esses problemas”, apontou Osório.