Associação dos Exibidores Brasileiros de Pequeno e Médio Porte pede inclusão nas políticas públicas federais

(Foto: Pixabay)

A AEXIB (Associação dos Exibidores Brasileiros de Pequeno e Médio Porte) redigiu nesta segunda-feira, dia 9 de dezembro, uma carta destinada ao MinC, à SAV e a Ancine acerca da necessidade da inclusão de pequenas e médias salas de cinema na política pública federal.

No texto, a Associação argumenta que, no Brasil, quase não há preocupação para a construção de política pública voltados para a exibição – Não se fala sobre a ocupação mínima do cinema brasileiro nas salas de cinema, não são mencionadas metas e resultados a serem atingidos para a construção de um mercado sólido e capaz de gerar renda e emprego e não se fala sobre quem paga a conta por essa baixa audiência dos filmes nacionais – com raras exceções, nas palavras da AEXIB. 

As demandas são, de forma mais ampla, por uma reconstrução da política pública para o audiovisual, visando metas e resultados. E, de forma mais específica, a associação defende que é preciso pensar em como manter as salas que exibem os filmes nacionais lançados e que não atraem público mínimo; no apoio às salas independentes, especialmente as de rua, as que estão longe dos grande centros urbanos e em cidades dos mais variados interiores. E, por fim, os exibidores brasileiros de pequeno e médio porte solicitam uma reunião com o Ministério da Cultura, Secretaria do Audiovisual do MinC e Ancine para debater o tema. 

Confira a carta na íntegra: 

"A AEXIB (Associação dos Exibidores Brasileiros de Pequeno e Médio Porte) representa mais de mil salas de cinema existentes em todos os estados brasileiros, sendo que muitas delas estão localizadas em cidades do interior. Trata-se de uma associação de empresas nacionais em um país tumultuado e nada previsível. Somos responsáveis pela manutenção de milhares de empregos diretos e indiretos, e da viabilização da ainda insubstituível experiência cinematográfica no Brasil. São incontáveis filmes, brasileiros e estrangeiros, vistos por milhões de espectadores em salas cuidadosamente construídas.

Ao longo dos anos, nós vivenciamos diversos cenários políticos e repetidas disputas pelo poder e verbas dentro do audiovisual nacional. Nas últimas semanas, foram publicadas diversas cartas abertas das mais variadas associações brasileiras. Infelizmente, percebe-se que quase não há preocupação para a construção de política pública voltados para a exibição no Brasil. Não se fala sobre a ocupação mínima do cinema brasileiro nas salas de cinema, não são mencionadas metas e resultados a serem atingidos para a construção de um mercado sólido e capaz de gerar renda e emprego e não se fala sobre quem paga a conta por essa baixa audiência dos filmes nacionais (com raras exceções).

A Ancine anunciou, há pouco tempo, cerca de R$ 1,2 bilhão para produção e distribuição. Nada para festivais, mostras e salas de cinema. Nem um centavo para a exibição. E onde todos os novos filmes serão exibidos? Para quem? De uma forma geral, sempre nos colocamos ao lado da produção feita no país, acolhemos quantidade grande de filmes e mostras de cinema. Em 2023, foram lançados e exibidos 266 longas brasileiros nas salas de cinema do país e foram registrados apenas 3,7 milhões de espectadores, algo em torno de 3% da ocupação do mercado. A renda total gerada pelo cinema brasileiro, nas salas de cinema, girou em torno de 278 milhões de reais.

No mesmo ano, foram lançados e exibidos 149 longas estrangeiros para uma renda total de cerca de R$ 2 bilhões. Quantidade muito menor de filmes e uma renda estrondosamente superior. Exibir tantos filmes com tão baixa ocupação gera forte prejuízo para os exibidores.

A Lei Paulo Gustavo, que deveria amenizar os danos causados pela pandemia, se tornou um pesadelo para muitos exibidores uma vez que os editais limitavam a participação das nossas empresas. Por outro lado, boa parte dos recursos foi destinado aos próprios entes públicos ou a projetos de exibição itinerantes. O resultado foi ruim para as salas, escancarando que a exibição nos cinemas não é uma preocupação para o setor e mesmo para as autoridades.

Vale lembrar, ainda, que o último PEAPE – Programa Especial de Apoio ao Pequeno Exibidor realizado em 2022, destinou parcos R$ 8,5 milhões e que foram repartidos entre 260 complexos. Os valores para cada um variavam entre R$ 21.346,06 e R$ 46.961,33 e não chegavam perto de cobrir um mês dos nossos custos com água, aluguel, folha de pagamento, consumo de energia e outras despesas.

Além disso, vale ressaltar que desde a pandemia, as salas ainda não recuperaram sua ocupação normal. Além disso:

– Salas de cinema enfrentam desleal concorrência do streaming;

– Há uma diminuição preocupante no tempo de janela entre lançamento nas salas e no streaming. É necessário a criação de uma Lei; 

– O custo de energia para o exibidor é exorbitante;

– Custos estratosféricos de novos equipamentos (um novo projetor profissional possui custo a partir de R$ 250 mil reais), pois são importações com alta carga de impostos;

– Pirataria jamais combatida e cada vez mais forte;

– Falta de visão de muitos produtores e distribuidores, que não pensam no momento crucial da carreira de um ?lme: a comercialização; 

– Gratuidades diversas e benefícios aleatórios (a meia-entrada, por exemplo) que afetam a receita das empresas sem que nenhuma contrapartida para o custeio da manutenção das salas tenha sido criada.

Lembramos também que a produção do cinema nacional é majoritariamente subsidiada, com algumas exceções. Ou seja, não há risco de prejuízo para produtores, diretores e distribuidores caso um filme não tenha público. Para a exibição, as linhas de financiamento são muito limitadas e contam com restrições bancárias para aprovação de projetos de salas de pequeno porte. É preciso ressaltar que tais linhas não são a fundo perdido e ampliam ainda mais os compromissos financeiros fixos mensais dos nossos negócios. Para a exibição, sempre há o risco do negócio.

A verdade é que falta uma logística e organização que promovam de forma incessante o nosso cinema. Faltam estratégias gerais para o cinema nacional, mas também falta investir de forma inteligente e articulada na comercialização dos filmes realizados. Falta investir na formação de um novo público e dar garantias para que as salas se mantenham aliadas ao cinema brasileiro. Falta investimento público para a exibição.

A Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB) é um possível caminho para apoiar, no curto prazo, a exibição. É necessário, contudo, um olhar especial para esse sentido, tentar corrigir ou amenizar as falhas ocorridas na execução da Lei Paulo Gustavo, cujo a regulamentação, distorceu conceito de Sala de Cinema de Rua, e gerou transtorno para todo o setor.

É preciso, com urgência, construir uma política pública para o audiovisual. Nós propomos trabalhar com metas e resultados. É preciso pensar como manter as salas que exibem os filmes nacionais lançados e que não atraem público mínimo. É preciso pensar no apoio às salas independentes (as de rua, as que estão longe dos grande centros urbanos e em cidades dos mais variados interiores). Temos a convicção de que sem pensar a exibição ficaremos sempre distantes de gerar um verdadeiro mercado para o audiovisual. Subscrevemos essa carta ao tempo em que solicitamos reunião com o Ministério da Cultura, Secretaria do Audiovisual do MinC e Ancine para uma ampla discussão sobre as pequenas e médias salas de cinema no Brasil". 

 

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