A Penna Filho Produções, produtora independente de Santa Catarina, celebra três décadas de atuação no audiovisual brasileiro com o lançamento de três filmes neste ano. A data marca também os dez anos da ausência de Penna Filho, cineasta e fundador. Criada em 1995, a produtora estreou com o curta "Naturezas Mortas", de 1996 – obra que ganhou prêmios no Brasil e no exterior, como o Troféu Margarida de Prata, Melhor Curta no Festival de Gramado e Melhor Documentário Internacional no Festival de Algarve, em Portugal. Nessa produção, Fabi Penna participou ativamente do processo ao lado do pai, iniciando uma trajetória que mais tarde a levaria à direção da empresa. Desde então, a produtora consolidou uma filmografia que une arte e reflexão, com obras que já abordaram desde a história da pintura brasileira até lutas indígenas e greves operárias.
A empresa também ganhou destaque com as obras "Fendô – Tributo a uma Guerreira" (2000), que se tornou uma referência em pesquisas acadêmicas sobre a causa indígena; "Um Craque Chamado Divino" (2006), longa sobre a trajetória do jogador Ademir da Guia; e "Doce de Coco" (2009), vencedor do Prêmio Cinemateca Catarinense.
"No início da produtora, em 1995, os filmes eram rodados em 35mm ou 16mm. As janelas de exibição eram, primeiramente, as salas de cinema e festivais. Era um vai e vem com as latas dos filmes! O mercado de vídeo para locação também representava uma opção de mercado. A partir de 2004 nossas produções começam a fazer parte da programação de canais abertos e fechados", relembrou Fabi Penna em entrevista exclusiva para TELA VIVA. "O longa-metragem 'Um Craque Chamado Divino' foi, alguns anos depois, nossa primeira produção licenciada para a Netflix. Desde então, ao desenvolver novos projetos, temos que prever o potencial de mercado de cada obra, por haver uma verdadeira 'explosão' na oferta do streaming", explicou.
Atualmente, por exemplo, a empresa conta com dois longas-metragens de ficção – "Das Profundezas" e "Achados não Procurados" – e o curta-metragem "Desassossego" disponíveis em várias plataformas, como Now, Amazon, Vivo, Microsoft Br, Itunes Br, Box Brazil e Looke, além de canais de TV como CineBrasil TV e Film & Arts. Já o longa documental "O Último filme de meu pai" está na programação da CineBrasil TV.
Histórico
Em 2014, Penna Filho se despediu das telonas com o filme "Das Profundezas", que retratou a luta dos mineiros de carvão no sul de Santa Catarina e foi premiado quatro vezes. A obra foi realizada em meio às minas de carvão, enquanto o cineasta enfrentava um câncer. Após a morte do pai, Fabi Penna assumiu a direção da produtora e passou a ampliar o alcance dos filmes em festivais e plataformas contemporâneas, sem deixar de lado o legado do pai.
"O olhar crítico é uma constante em nossas produções. O cinema que a gente faz continua sendo autoral. É possível identificar nossa autoria através dos temas abordados e também certa peculiaridade na escolha de planos na direção de cena e direção de arte. Mantemos o interesse em projetos que abordam questões relevantes à nossa sociedade – inclusive, esse é o legado deixado por Penna Filho. Os projetos mais recentes trazem as minhas experiências e inquietações como profissional do cinema e mulher", refletiu a cineasta.
Nos últimos anos, Penna Filho Produções se destacou com títulos como "Esplendidezas" (2016), "Está tudo aqui em algum lugar" (2018), "Desassossego" (2020) e "Achados Não Procurados" (2021). O último lançamento foi o documentário "O Último Filme de Meu Pai", de 2023, que resgatou a trajetória do cineasta Penna Filho a partir de depoimentos e imagens de arquivo – em uma história que, além de contar a trajetória de um grande cineasta brasileiro, também fortalece o cinema independente.
Fabi Penna destacou que esse filme foi viabilizado pelo Prêmio Catarinense de Cinema e Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e contou que esperou cinco anos para realizar a obra acreditando que conseguiria o distanciamento necessário. "Inclusive convidei Daniel Obeid, que não o conheceu, para dividir o roteiro comigo. Começam aí as buscas por pessoas, arquivos e filmes. Muito além da minha vontade de homenageá-lo, meu desejo era realizar um filme que desvendasse pelo menos um pouco os passos desse cineasta, sem nenhuma formação acadêmica, mas com o cinema nas veias desde a adolescência".
Segundo ela, "O Último Filme de Meu Pai" traz referências de cinco décadas do cinema brasileiro independente que, além de preservar essa importante memória, incentiva às novas gerações, reforçando a luta, e a paixão pela arte de fazer cinema. A diretora pontua que não conseguiu o tal distanciamento ao fazer o filme, mas se esforçou para isso. "Acredito que consegui traçar uma linha do tempo da vida profissional de meu pai. Só estou dentro do filme por insistência do parceiro roteirista: segundo ele, o fato de eu dar continuidade ao legado de meu pai acrescenta uma camada interessante. E assim foi e assim está: agora sou eu quem dorme e acorda pensando em como viabilizar meus filmes", observou.
Em 2025, o compromisso da Penna Filho se renova. O ano marca uma virada histórica para a produtora, que anuncia o lançamento de três novos títulos: "Não Dá Pra Esquecer" (longa-documental), "Luzes Diversas" (longa-documental) e "Manhã Vazia" (curta de ficção) – todos eles viabilizados por editais estaduais e municipais e pela Lei Paulo Gustavo.
Próximos projetos
O longa-metragem "Não dá pra Esquecer" será lançado no final de junho. O projeto é uma coprodução com a Grão Filmes, produtora comandada por César Cavalcanti e Janete Magnago. A obra já foi finalizada e é a primeira parceria da Penna Filho com a Grão Filmes, que também faz um trabalho crítico e de impacto social. "O filme revisita memórias, direitos humanos e os impactos da ditadura no Brasil. A obra traz uma importante reflexão de como a sociedade se articula através dos tempos da história política de nosso país. Estruturado em três atos – 'Memórias do esquecimento', 'A geração que queria mudar o mundo' e 'Vozes diversas' -, o filme ultrapassa as fronteiras de Santa Catarina para ouvir intelectuais e ativistas dos movimentos sociais que relatam as lutas pela salvaguarda de seus direitos durante o período de redemocratização".
O segundo longa é o "Luzes Diversas", que será lançado em agosto. O projeto começou em 2023, sendo complementado em 2024 e, agora, está na etapa final de pós-produção. "Esse filme é o primeiro de uma trilogia de minha autoria onde pesquiso o universo das mulheres em diferentes faixas etárias", detalhou Fabi Penna. "É um mergulho nos coletivos femininos pesquisados em Florianópolis, com foco em ações e resistências de mulheres maduras. Durante a produção, conhecendo e ouvindo muitas mulheres, nasce a ideia de dois outros projetos: a série 'Sementes de Luz', que trata sobre coletivos femininos que cuidam de meninas e adolescentes, e o longa 'Álbum da Avós: Mulheres Invisíveis', que nos leva diretamente ao colo de nossas ancestrais e as reverberações de suas vidas através dos tempos", revelou.
Por fim, está o curta-metragem de ficção "Manhã Vazia", que será lançado em setembro e encontra-se em fase final de pós-produção. "O curta traz um olhar sensível sobre a síndrome do ninho vazio, com narrativa intimista e reflexiva. A protagonista, Úrsula, interpretada pela atriz e produtora Vanusa Ferlin, é uma artista plástica que vivencia a solidão e se depara com suas frustrações e alegrias. Com uma direção de arte delicada da Bruna Granucci, pouco a pouco conhecemos e até nos enxergamos nos dilemas vivenciados por Úrsula", adiantou.
"Mais do que estreias, esses filmes reafirmam o fôlego criativo da equipe e a continuidade de uma missão iniciada há três décadas", afirmou a diretora sobre os próximos lançamentos. "Ao longo dessa trajetória, passaram pela produtora excelentes profissionais – tanto iniciantes quanto experientes – que hoje seguem atuando no mercado audiovisual. Isso nos enche de orgulho e reforça a certeza de que, mesmo diante dos desafios, contribuímos para a formação e a permanência de talentos no setor. A cada nova produção, seguimos lado a lado com outras produtoras independentes do país, reafirmando que vale muito a pena o investimento em toda cadeia do audiovisual brasileiro", concluiu.