Manoel Rangel aponta desafios para o audiovisual brasileiro

A participação de Manoel Rangel, presidente da Ancine, no Riocontentmarket foi uma defesa do legado da política audiovisual dos últimos 15 anos, bem como um alerta sobre a complexidade dos desafios postos à frente para o setor. Antes de ser ovacionado pelo público presente, Rangel lembrou que ainda tem 2,5 meses de trabalho à frente da agência reguladora, que "segue a pleno vapor". O mandato de Manoel Rangel chega ao fim em maio. "Tive enorme alegria de poder, ao longo desses anos, dar a minha contribuição ao setor audiovisual", disse o presidente da agência reguladora, que foi ovacionado no evento.

Manoel Rangel enumerou cinco temas que demandam e demandarão no futuro próximo uma atenção especial do setor e dos agentes políticos e regulatórios:
* o marco regulatório para o vídeo sob demanda;
* alternativas para minimizar a distância entre os grandes e pequenos lançamentos cinematográficos;
* a expansão do parque exibidor de cinema para cidades de médio porte;
* um cuidado com o mercado de licenças garantindo equilíbrio na relação entre canais de TV e produção independente;
* um papel maior dos estados e dos municípios no desenvolvimento do audiovisual regional.

VOD

Segundo Manoel Rangel, o não-linear vem se firmando como uma das principais formas de fruição audiovisual. Ele apontou que a Netflix já tem cerca de 7 milhões de assinantes no Brasil, "número muito próximo ao da Net, a operadora líder na TV por assinatura brasileira", com receitas superiores "à vice-líder da TV aberta".

"O novo marco regulatório precisa permitir a construção de grandes catálogos. Ele precisa garantir a isonomia e a segurança aos prestadores. Precisa ter um compromisso forte com o conteúdo brasileiro de produção independente" disse. "Essas regras dependem de lei", completou.

Alguns dos pontos mais importantes no projeto de lei são a adequação dos provedores à legislação brasileira, com a recomendação de que as operações comerciais sejam realizadas a partir do Brasil; Condecine baseada nas receitas e não mais sobre a oferta de títulos, o que inibe a formação de grandes catálogos; simetria com a TV paga nas cotas de conteúdo, bem como a criação de mecanismos de investimento em produção independente; obrigações de destaque visual e publicitário das obras brasileiras, o que, segundo ele, é o equivalente ao horário nobre da TV; responsabilidade editorial.

Distribuição

O presidente da Ancine lembrou que as distribuidoras brasileiras são responsáveis por mais de 80% dos títulos em cartaz nas salas de cinema. "Seu fortalecimento é um dos vetores estratégicos da política para a colocação de filmes brasileiros", disse, destacando que a produção de filmes brasileiros quadruplicou nos últimos anos, demandando mais da distribuição.

Alguns dos pontos a serem debatidos para ampliar as alternativas de distribuição, segundo o presidente da agência reguladora do setor, são o estímulo o risco de investimento das produtoras na distribuição; o incentivo à organização de nova distribuidoras; remodelar a cota de tela para focalizar sessões, ao invés da exibição por dias; o estímulo a nova estratégias de distribuição.

Exibição

Na exibição cinematográfica, o avanço foi grande nos últimos anos, "mas ainda é uma relação (de habitantes por salas) muito aquém do desejado". Em 2010, a relação era de 89 mil habitantes por sala. esse número caiu para 65 mil por sala em fevereiro de 2017. O número de salas incorporadas ao parque exibidor saltou, neste período, de 71 pra 177 por ano. A expectativa é que, em 2017, o Brasil supere seu recorde histórico de número de salas, mas sem a mesma capilaridade na cobertura geográfica.

Segundo Rangel, os pequenos exibidores podem ser um segundo motor de expansão de cinemas em salas construídas nas cidades médias e zonas urbanas populares.

Licenciamento de conteúdo

Foram exibidos na TV por assinatura em 2016, 87.902 horas de conteúdo brasileiro independente, de acordo com dados da Ancine apresentados no evento. O volume representa 10,9% da programação dos canais de espaço qualificado, contra 1,4% em 2009, portanto antes da política de cotas e do fomento criados pela Lei do SeAC.

Segundo Rangel, a demanda e o financiamento deram a nova dinâmica do setor. No entanto, há um desafio à frente, que é dar uma sobrevida às obras com a fruição entre as janelas. "As produções independentes não terão sustentabilidade se ficarem confinadas ao canal inicial de exibição", disse. A proposta principal é que defina uma estatuto único para os direitos sobre os conteúdos com financiamento público, do Fundo Setorial do Audiovisual e incentivos fiscais.

Regional

O último ponto crítico apontado por Rangel foi a regionalização da produção. Desde o início das políticas de regionalização nos editais, com cotas para projetos de fora do eixo Rio-São Paulo, o FSA passou a contemplar muito mais empresas de outras regiões. Em 2009, 95% dos projetos aprovados no fundo eram da região Sudeste. O caiu para 56% em 2015.

Legado

A evolução do setor nos últimos anos, de acordo com Manoel Rangel, é um "desdobramento de um consenso construído com trabalho e equilíbrio. Ele destacou o papel do Conselho Superior de Cinema na aprovação do Plano de Diretrizes e Metas para o Audiovisual, na definição das diretrizes para o FSA, os programas Cinema Perto de VocÊ e Brasil de Todas as Telas; e na regulação da TV paga e do VOD.

"As políticas audiovisuais não são destaque apenas pelos resultados, mas pelos processos seguidos e o cuidado na sua construção. São reconhecidas porque refletem o amadurecimento do audiovisual brasileiro", finalizou.

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