Documentário tem bom retorno financeiro

Mais da metade da produção nacional de filmes é de documentários, segundo a Ancine. O país é destaque mundial no gênero, com indicações ao Oscar como "Sal da Terra" e "Lixo extraordinário".
Mas, apesar da enorme produção, poucos são os filmes com performance comercial, e aqueles que se destacam não são reconhecidos pelas linhas de fomento comercial / automática.
De acordo com pesquisa publicada pelo AFM (American Film Market), avaliando filmes de baixo orçamento (abaixo de US$ 3 milhões) produzidos de 2000 a 2015 e com pelo menos US$ 10 milhões de receita liquida do produtor, os documentários estão entre as quatro categorias de melhor performance financeira (as outras são terror, "feel good" e "awarded drama").
O destaque nos documentários são as histórias fortes para públicos cativos. Alguns exemplos são "An inconveniente thruth" e "Marley".
Ainda, em relação a outros segmentos que se destacaram comercialmente, os documentários com sucesso comercial tiveram ótimas criticas e revisão de público (diferente de filmes de terror, por exemplo).
Em relação à fonte de receita, destaque-se que 75% vem do mercado de home vídeo e VOD, e 60% vem do mercado internacional, demonstrando o grande potencial para exportação deste gênero.
Considerando estes dados, percebe-se a necessidade de linhas de fomento e linhas automáticas que considerem a rentabilidade obtida em outras janelas e no mercado internacional com o mesmo peso que o da rentabilidade advinda do cinema. Esta é a mesma constatação obtida no artigo anterior (leia aqui), que trata da distribuição do longa metragem de animação "Menino e o Mundo", que obteve taxa de retorno superior a 120% em relação ao orçamento com receita advindo especialmente de vendas internacionais e outras mídias.
Vamos analisar agora os diferentes segmentos de exploração de mercado e suas características.

Cinema

Poucos são os documentários que obtém um público superior a 10 mil espectadores no cinema. No primeiro trimestre de 2016, porém, três documentários figuram entre os 20 filmes de maior bilheteria (nacional). São eles: "Chico – Artista brasileiro" (28 mil), "Nos passos do mestre" (10 mil) e "Eu sou Carlos imperial" (2 mil).
Documentários musicais com fortes personagens merecem destaque. A Elo por exemplo lançou em 2016 diversos documentários em cinema, como "Espaço Além – Marina Abramovic e o Brasil", com bilheteria já superior a 16 mil espectadores (filme ainda em cartaz). Além da grande qualidade de direção e produção, a personagem conhecida do público frequentador do circuito de arte faz com que haja demanda natural por este tipo de produto.
Ficam então algumas dicas para potencializar o documentário
– Personagens fortes e de preferência com uma legião de fãs. Música funciona!
– A premiação em festivais internacionais ajuda a divulgação
– Menos é mais. Vale acertar o circuito, calibrar o lançamento de acordo com o tamanho do público
– Branded também é uma boa alternativa. Procure marcas que compartilhem dos valores apresentados no filme

TV

O surgimento dos canais brasileiros trouxe uma grande oportunidade para os documentaristas, com destaque para o Arte1, Curta! e o tradicional Canal Brasil, que apesar do foco em longas de ficção tem em seu histórico a exibição de excelentes documentários.
Novidade no mercado é a entrada da GloboNews e Globo Filmes no segmento, com modelo similar ao utilizado em longas de ficção e investimento em produção de documentários com foco em current affairs. A GloboNews tem inovado e apresentado documentários de alta qualidade todo final de semana. São 52 títulos no ano.
Algumas dicas para trabalhar com estes canais:
– Conteúdos ligados ao mundo da arte têm afinidade com o Arte1 e o Curta!; current affairs (atualidades) para GloboNews; documentários biográficos ou musicais para Canal Brasil.
– É recomendável desenvolver uma versão televisiva (seriada ou única de 52')
– Cuidado com os direitos de imagem e música.

VOD

O Brasil é o terceiro maior mercado da Netflix no mundo, o segundo do YouTube e um dos maiores mercados de mídias digitais. Alguns players como Amazon ainda não estão presentes no país, mas a demanda por conteúdo nacional já se apresenta, e os documentários têm seu espaço garantido.
A Netflix por exemplo tem em seu catálogo diversos documentários nacionais, como "Ônibus 174", "Em busca de Iara", "Amazônia Eterna" entre outros.
No mercado internacional, as plataformas têm inclusive financiado a produção de documentários original como "Chef's table", "Making a murderer", "Mission blue" e o incrível "What happened Miss Simone". É um segmento com ótimo retorno para o produtor.
Dicas para trabalhar com as plataformas VOD:
– O momento é de valorização do ineditismo e da exclusividade. Negociações com exclusividade podem ter valor alto. Os canais de pay TV também valorizam estes direitos, então é necessário escolher bem.
– Ficar atento ao surgimento de alguns serviços especializados, como o Curiosity Stream, que exibe apenas documentários
– O mercado internacional já está com grande foco nas produções finalizadas em 4k
– Vale inovar na distribuição com a redução de prazo entre janelas

Mercado internacional

Devido à crise internacional e aumento do número de canais/buyers, o mercado de venda de conteúdo tem crescido nos últimos anos. E, claro, a produção internacional também.
Em relação ao mercado potencial para documentários nacionais, algumas considerações são relevantes:
– Distribuição em cinema no exterior é extremamente difícil e apenas para filmes premiados em festivais nível A ou com personagens/temas internacionais.
– Para a venda para TV, é essencial a versão "international broadcast version". Versão longa não vende.
– Atenção aos deliveries e direitos regularizados, inclusive E&O (erros e omissões)
– Assuntos relevantes: natureza, arqueologia, viagens
– Assuntos que não vendem: sociedade brasileira, favela, assuntos muito locais, personagens locais.
– Coprodução internacional ajuda e muito!

Bons negócios!

Sabrina Nudeliman Wagon é CEO da distribuidora Elo Company. Formada em administração de empresas na FEA-USP, com dois semestres de International Business na FIU. Foi aluna especial de mídias digitais na ECA-USP e tem especialização em liderança em curso do Insper/Instituto Rottemberg (Israel). Iniciou sua carreira na consultoria Mckinsey&Co e em 2005 fundou a Elo com Ruben Feffer e Flavia Prats Feffer. Contato: sabrina@elocompany.com
Sabrina Nudeliman Wagon é CEO da distribuidora Elo Company. Formada em administração de empresas na FEA-USP, com dois semestres de International Business na FIU. Foi aluna especial de mídias digitais na ECA-USP e tem especialização em liderança em curso do Insper/Instituto Rottemberg (Israel). Iniciou sua carreira na consultoria Mckinsey&Co e em 2005 fundou a Elo com Ruben Feffer e Flavia Prats Feffer. Contato: sabrina@elocompany.com

sabrina@elocompany.com

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