“Arca de Noé”, animação produzida pela Gullane Entretenimento inspirada nas músicas de Vinicius de Moraes, estreia nos cinemas no próximo dia 7 de novembro. Na 23ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, que teve início nesta sexta-feira, dia 11 de outubro, o produtor Fabiano Gullane apresentou os bastidores do processo de produção desse filme, que ele torce para que seja a animação brasileira mais vista ao redor do mundo. “Estamos pensando muito fortemente nesse trabalho de soft power. É levar para o mundo uma animação de qualidade. Trata-se de um projeto colossal”, definiu.
A Gullane é uma produtora que surgiu nos anos 90 e sempre teve o entretenimento como core – ao contrário de muitas outras produtoras, ela nunca trabalhou com publicidade ou outros formatos. “É o lugar onde nos sentimos à vontade”, comentou o produtor. A empresa já teve algumas boas experiências com projetos de animação, como o filme “Uma História de Amor e Fúria”, e também com conteúdo infantil, como a série “Senninha na Pista Maluca”, outra animação, esta em coprodução com o canal Gloob, o Instituto Ayrton Senna e o NIP. Mas “Arca de Noé” será a grande virada de chave nesse sentido.
As primeiras ideias do que mais tarde viria a se tornar o projeto do filme começaram há muitos anos, quando Suzana de Moraes, a filha mais velha do Vinicius de Moraes, procurou o cineasta brasileiro Walter Salles com esse desejo de transformar os poemas do pai em um filme. Salles chamou o diretor Sérgio Machado para o projeto e, juntos, eles chegaram à Gullane. “Vínhamos dessa animação bem sucedida, que foi ‘Uma História de Amor e Fúria’, que ganhou o Festival de Annecy em 2013, e tínhamos feito a série do Gloob, então nos sentimos bem preparados para avançar num projeto como o ‘Arca’. Ele já nasceu como um projeto grande. Sempre tivemos a ambição de que o filme, para além de levar a poesia, a cultura e a importância do Vinicius para o mundo, também contasse com essa perspectiva comercial”. A Gullane então trouxe os produtores de animação Daniel Greco e Felipe Sabino, do NIP, produtora especializada no desenvolvimento, planejamento e gestão de projetos de longa duração para cinema e TV, com quem eles já tinham trabalhado anteriormente. “Eles são o braço da Gullane quando vamos fazer projetos de animação”, contou.
A dupla apresentou para a produtora um quadro com animações em 3D. Do outro lado, a Gullane pensou em frames 2D, de projetos mais autorais, como seu próprio “Uma História de Amor e Fúria”, para entenderem juntos onde estaria “Arca de Noé”. O produtor contou que a decisão foi pelo meio do caminho, digamos assim, com a qualidade e a arte dos personagens em 2D, mas num ambiente todo feito em 3D. “Esse foi o nosso desafio”, pontuou.
Como financiar um projeto colossal
Para fazer o filme, a Gullane montou um “grupo brasileiro”: o longa nasce em coprodução com a produtora VideoFilmes, de Salles, junto ainda do NIP, que já atuava com produção executiva dos projetos de animação da Gullane, além da Globo Filmes, o Telecine e a Imagem Filmes, que é a distribuidora. Mas, aos poucos, o time foi ampliando, de forma a dar conta do tamanho do projeto.
No roteiro, dois ratinhos – Tom e Vini – são cantores e, um dia, andando na rua voltando de um show, eles assistem ao exato momento em que Noé está falando com Deus sobre a construção de uma arca para salvar os animais, e da ideia de colocar um macho e uma fêmea de cada espécie na embarcação. Os dois, que são machos, começam então a criar estratégias para garantir que ambos entrem na arca – se disfarçam, mas no final não conseguem. O Vini fica fora e acaba entrando no barco dos animais rejeitados – onde estão baratas, piolhos, lombrigas… Depois de alguns acontecimentos, a pequena arca acaba tendo que salvar a arca oficial. “O filme tem essa mensagem sobre união de minorias, aceitar as diferenças, entender o papel de cada um… Além de ter um conteúdo de entretenimento e diversão, também tem mensagens bonitas. Que vieram mais do nosso roteiro mesmo do que propriamente das músicas ou da história bíblica”.
A partir da história, veio então a animação de fato. “O Brasil tem um parque 2D gigante, super bem instalado. Mas, como tínhamos essa expectativa de fazer em 3D, começamos a pensar se conseguiríamos dar conta dessa missão no Brasil. O país faz 3D, mas com o volume de coisas que tínhamos para fazer, além do prazo, teríamos que deixar uma ou duas casas produtoras de 3D no Brasil fechadas exclusivamente para esse projeto. Isso não era viável comercialmente”, explicou Gullane. Daí surgiu a necessidade de um coprodutor internacional. Passando por mercados internacionais, a produtora fechou um acordo no Ventana Sur – “é super importante a presença dos nossos projetos antes de prontos nesses eventos e festivais, onde tomamos chancelas e encontramos potenciais co-financiadores” – salientou o produtor. Com um primeiro projeto feito no Brasil, eles conhecem a empresa norte-americana CMG (Cinema Management Group), especializada em animações com orçamentos de cinco a dez milhões de dólares – ou seja, nem as pequenas nem as gigantescas – que é justamente onde “Arca de Noé” está. Foi ao lado da CMG que a Gullane passou a buscar ao redor do mundo onde esse projeto em 3D poderia ser feito.
A Índia foi o parceiro ideal. Depois de um longo processo de negociação, um acordo foi firmado entre a Gullane e o estúdio indiano Symbiosys, a partir da mediação do presidente da CMG. Assim, “Arca de Noé” se tornou a primeira coprodução Brasil-Índia da história. “Ultrapassamos nossas diferenças e fizemos um trabalho muito legal. No Brasil, fizemos as artes finais, os personagens, os cenários e os roteiros – tudo isso foi realizado por artistas e talentos brasileiros. Com esse material pronto, a Índia entrou com a ‘hard animation’, que é o processo de repetir quadros, fazer a imagem do filme. Fizeram a luz, efeitos especiais, esqueleto dos bonecos 3D… Quando o processo finalizou lá e retornou para o Brasil, concluímos as dublagens, música, créditos e toda a parte que não era animação, além da pós-produção”, detalhou. Falando na dublagem, vale dizer que o filme conta com um grande elenco de atores e atrizes brasileiros, como Rodrigo Santoro, Lázaro Ramos, Alice Braga, Ingrid Guimarães, Seu Jorge e Laila Garin, entre outros.
O projeto nasceu com um orçamento de 6.3 milhões de dólares – com cerca de 50% do valor arcado com recursos do Brasil mesmo, cerca de 25 a 30% da Índia e o restante veio dos Estados Unidos – mais especificamente das pré-vendas. Antes de pronto, o filme já começou a ser pré-vendido no mercado internacional pela norte-americana CMG e teve uma ótima aceitação, com acordos firmados com mais de 60 países, como Alemanha, Suíça, Turquia e China. Ainda faltam três países que Gullane considera importantes: Estados Unidos, Canadá e Japão. “As músicas da ‘Arca de Noé’ rodaram o mundo todo, então existe um awareness em torno do filme”.
Por fim, o produtor revelou que a equipe já está escrevendo o “Arca de Noé 2” e trabalhando ainda em uma série na qual os ratinhos do filme saem em turnê pelo mundo.
Arca de noé do Vinícius ,grande! uma coisa nossa e universal