"Los Silencios", coprodução entre Brasil, França e Colômbia, estreia no Brasil

"Los Silencios", de Beatriz Seigner, estreou na Quinzena dos Realizadores do 71º Festival de Cannes, na França, e, nesta semana, chega às salas de cinema do circuito comercial do Brasil e de outros territórios, como Suíça, Alemanha, México, Espanha e China. A obra conta a história de Amparo (Marleyda Soto), que foge com seus filhos pequenos do conflito armado colombiano e encontra o pai das crianças (Enrique Diaz), que estava desaparecido, vivendo numa ilha povoada por fantasmas no Rio Amazonas, na fronteira entre a Colômbia, o Peru e o Brasil. Em sua carreira internacional, já faturou prêmios na Suécia, Índia, Peru, Espanha, Cuba, França, entre outros. No Brasil, foi destaque no Festival de Brasília, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e de São Luís, no Festival do Rio, no Janela Internacional de Cinema em Recife, no Panorama Coisa de Cinema, em Salvador, e no Pachamama Cinema de Fronteira, no Acre.

Para o roteiro, que também é assinado por Beatriz, a diretora conversou com cerca de 80 famílias colombianas vivendo no Brasil e na região da fronteira. "Em geral, as histórias que mais me chamaram a atenção eram aquelas que retratavam essa coexistência com os mortos, uma relação muito interessante, e também os modos de organização comunitária de resistência na Ilha da Fantasia.", conta Beatriz em entrevista exclusiva para TELA VIVA. Ao filmar na região amazônica, a diretora e sua equipe enfrentaram uma série de percalços. "Amazônia é um ser vivo, gigantesco, quente, imprevisível. Desde chuvas que aconteciam no meio do dia, do nada, até tempestades que quase levavam os cenários embora, muitas eram as questões. Fora o calor, sinal de internet, falta de energia…", relembra. "E eu estava amamentando durante as filmagens, meu filho estava com nove meses. Fui para lá quatro vezes para concluir o filme. Ao final, ele já tinha dois anos e um mês. E não apenas eu – a diretora de arte e a figurinista também estavam com crianças pequenas. Criamos uma estrutura, levamos acompanhantes e tivemos que organizar muito os horários.", completa.

As mulheres, por sinal, eram maioria na equipe de filmagem. "Todas as cabeças das equipes são mulheres, de praticamente todos os departamentos. Diretora de fotografia, de arte, montadora, figurinista, maquiadora… Não necessariamente a equipe inteira, mas as cabeças sim. E na produção priorizamos muito a população de Manaus, fazendo questão de contratar locais. Isso também foi muito importante. Como contamos primordialmente a história de uma mãe, é interessante ter mulheres tomando as decisões de produção, trazendo esse olhar e esse cuidado, que é bastante único. Ter mulheres atrás das câmeras faz diferença na percepção de diversas maneiras.", justifica a diretora, roteirista e produtora do longa.

O trabalho de "Los Silencios" é fruto de uma coprodução que começou a ser arquitetada em 2012, em Cannes. Desde o início do desenvolvimento do projeto, a diretora queria coproduzir com a Colômbia, por se tratar de uma história originalmente colombiana. "Na minha visão, era muito importante ter uma equipe de lá envolvida no filme. Então esse processo foi muito orgânico.", afirma. "Mas a coprodução mesmo acabou se dando pela França, porque em 2012 eu estava lá, no Festival de Cannes, com o projeto, e conheci o Thierry Lenouvel, produtor francês que já fez muitas coproduções com a Colômbia, e ele me apresentou o Daniel Garcia, com quem já trabalhava. Assim formamos a equipe de produção.", explica. Para Beatriz, coproduções são importante para internacionalização dos filmes, uma vez que a maioria dos títulos que são vendidos para outros territórios e entram em grandes festivais são coproduções com países europeus. "Além de já garantirmos essa exibição fora do país, também aumentamos a potência criativa da obra. Meus produtores da França e da Colômbia leram diversas vezes o roteiro e deram palpites. Então desde o início tínhamos olhares de diversos lugares para o mesmo assunto, o que é muito enriquecedor.", analisa. "É claro que existem desafios, como nos adequar à legislação de cada país, trabalhar com variação cambial, compor equipes que falam línguas diferentes e têm modos de produção diferentes. Mas é muito importante também para acessarmos fundos de outros lugares. Acredito muito na coprodução e nesses mercados internacionais, como esse que participei em Cannes em 2012, onde encontrei os parceiros.", conclui.

A Miríade Filmes e a Enquadramento Produções assinam a produção de "Los Silencios" junto da produtora francesa Ciné-Sud Promotion e a colombiana DíaFragma Fábrica de Películas; e o Canal Brasil, a coprodução. O filme é uma codistribuição entre a Vitrine Filmes e Descoloniza Filmes.

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