Completando 20 anos, Elo Studios investe em branded entertainment e amplia lineup de projetos

Sessões de impacto de "Medida Provisória", filme de 2022 distribuído pela ELO Studios e H2O Filmes (Foto: Divulgação)

Em 2025, a Elo Studios completa 20 anos de existência. Ao longo de sua trajetória, a empresa enfrentou, como outras, diversos períodos desafiadores – entre eles, a pandemia de Covid-19, e trabalhou na reformulação de suas estruturas, num contexto em que o mercado apontava para um caminho que, mais tarde, veio a se concretizar: a necessidade de distribuidoras ampliarem suas expertises para outras áreas, como produção, captação e relacionamento com diversas empresas, tanto do próprio setor quanto fora dele.

A Elo começou como uma startup focada em distribuição de conteúdo, em especial para televisão, no Brasil e exterior. Foi em 2005, com a Lei do Audiovisual e a Lei Rouanet, que Ruben Feffer, um dos sócios da empresa, convidou Sabrina N Wagon, hoje CEO da Elo, para elaborar um plano de negócios com foco no mercado audiovisual. Juntos, identificaram uma oportunidade com o aumento de financiamento ao setor e o consequente aumento da produção.

Wagon vem do mercado financeiro, com passagem pela consultoria Mckinsey & Co, onde desenvolveu projetos com a Ashoka. Formada em administração pela FEA USP/ Florida International, com especialização em liderança e gestão no Insper/ Univ. de Haifa e FGV, a profissional tem 20 anos de experiência no mercado audiovisual, e foi responsável pela distribuição de mais de 500 títulos de todas as regiões do Brasil, incluindo filmes de bilheteria, distribuídos em mais de 100 países e premiados internacionalmente. Por vir de uma área diferente do audiovisual, a executiva tem uma visão sobre o mercado cultural e, ao chegar no segmento, pode utilizar diferentes aprendizados e habilidades no desenvolvimento – seu e da própria empresa. "Minha trajetória começou fora do audiovisual, em áreas como estratégia corporativa, inovação e comunicação. Esse background me deu ferramentas fundamentais para pensar o audiovisual não apenas como arte ou entretenimento, mas também como negócio sustentável, escalável e relevante para a sociedade", comentou Wagon em entrevista para TELA VIVA.

"Ao fundar a Elo Studios com meus sócios, eu trouxe essa visão integrada: como construir uma empresa que combine potência criativa com governança, inteligência financeira e estratégia de crescimento. Desde então, ajudei a estruturar a empresa para operar com clareza de metas, disciplina de execução e flexibilidade para se adaptar a um mercado em constante transformação. O audiovisual é, acima de tudo, um negócio de confiança – e isso só se constrói com consistência, transparência e relações duradouras. Tenho muito orgulho da sociedade que formamos na Elo: Ruben Feffer, Flavia Feffer e eu trazemos competências complementares e uma confiança mútua que é a base da solidez da empresa. Essa estrutura é o que permite à Elo operar com segurança – seja ao assumir riscos de produção ou ao negociar com grandes players globais", exemplifica.

Evolução e transformação no escopo de atuação

A CEO entende que, hoje, a Elo se posiciona como uma das principais produtoras e distribuidoras independentes do Brasil, com atuação reconhecida por sua solidez, inovação e confiabilidade. "Somos uma empresa que alia visão criativa a uma execução altamente profissional, o que nos permite construir parcerias duradouras com talentos, marcas, canais, plataformas e investidores", define. Ela ainda ressalta o vasto portfólio da empresa – que vai de comédias românticas a thrillers, passando por projetos com marcas e adaptações literárias – e o foco em projetos comerciais. Tanto como produtores quanto como distribuidores, eles estão comprometidos com o alcance e a relevância de cada obra.

Ao longo desses 20 anos, o mercado foi passando por uma série de mudanças – e a Elo, por sua vez, também passou por uma transformação profunda, sem deixar de lado o compromisso com a inovação, a diversidade e o impacto cultural. Wagon relembra: "Começamos como uma distribuidora voltada à valorização da produção brasileira e, com o tempo, expandimos nossa atuação para incluir criação, desenvolvimento e produção de narrativas originais e comerciais com alto padrão de execução. Nosso caminho foi construído em um setor dinâmico, mas também marcado por instabilidades. O mercado audiovisual no Brasil enfrentou desafios severos – da paralisação da Ancine ao impacto devastador da pandemia – o que nos exigiu uma capacidade constante de reinvenção, adaptação e diversificação de modelos de negócio. A Elo sobreviveu e cresceu nesse cenário justamente por sua agilidade, visão estratégica e resiliência".

Olhando para trás, a executiva aponta alguns marcos da trajetória da empresa – como a entrada no mercado de lançamentos cinematográficos em 2012. Desde então, ela já levou mais de 130 filmes aos cinemas de todas as regiões do Brasil, incluindo bilheterias como "Medida provisória", de Lázaro Ramos, em 2022. Internacionalmente, foram mais de 500 títulos comercializados para mais de 100 países, como "O menino e o mundo" (2014), indicado ao Oscar. A partir de 2019, eles ampliaram a atuação como produtora, com projetos como "Caindo na real" (Globo/Telecine), "Desafio impossível" (Disney+), "Brasil de imigrantes""(A&E), "Trace trends" (Globoplay) e o documentário internacional "Você não é um soldado" (Max), além de campanhas e conteúdos de impacto como "Contar para viver", em parceria com a Unesco. Essa trajetória culminou na transição da antiga Elo Company para Elo Studios, refletindo o amadurecimento da empresa.

Crescimento, fortalecimento de marca e ampliação de lineup 

Conforme os anos passaram, os desafios também foram mudando. Hoje, um dos principais, na visão de Wagon, é crescer com independência e sustentabilidade em um setor ainda impactado pelos efeitos da pandemia e pela paralisação da Ancine. "Isso nos levou a fortalecer um modelo de operação que não dependa exclusivamente de recursos públicos. Quando esses recursos existem, utilizamos com estratégia – mas seguimos com a consciência de que é preciso operar mesmo em ciclos de escassez", pontuou. Outra estratégia é buscar reduzir a dependência de apenas quatro grandes players de mercado – o que, para a executiva, exige visão de longo prazo, inovação e construção de parcerias diversificadas. "Diversificação, para nós, é pilar de resiliência e crescimento".

Desafio constante é ainda fortalecer a presença da Elo no B2C – tornando a marca cada vez mais reconhecida e relevante também para o público final. "Para isso, estamos investindo em redes sociais, canais proprietários e estratégias de engajamento direto com as audiências", explica. "Nesse processo, temos ampliado o uso de big data e inteligência artificial para embasar nossas decisões criativas e de marketing. Utilizamos dados de comportamento e consumo para desenvolver projetos mais alinhados ao desejo do público e também para otimizar nossas campanhas, especialmente nos lançamentos em cinema. Isso tem sido fundamental para entender como levar o público certo para cada filme, no lugar certo, no momento certo", detalha.

Além disso, a Elo está complementando seu lineup de lançamentos com conteúdos alternativos nos cinemas e segue com o desafio de atrair e manter talentos criativos e executivos, "para garantir que nossa operação continue ágil, estratégica e de alto nível".

Projetos de gêneros, formatos e orçamentos variados

E, falando em projetos, a cartela para este ano é variada, com branded entertainment, docs-reality, adaptação de peça de teatro e livro, dramédia e thriller. Sobre essa diversidade, Wagon avalia: "O que mais gostamos de fazer na Elo Studios é contar boas histórias – que entretenham e, ao mesmo tempo, gerem impacto, trazendo temas relevantes para a sociedade independente do gênero ou do formato. Essa diversidade não é apenas criativa, mas também estratégica: ela nos permite dialogar com públicos distintos, testar modelos e nos adaptar à realidade de um mercado em constante transformação".

A variedade também está presente nos orçamentos – a faixa é ampla, com produções que vão desde investimento público ou com players com recursos mais limitados até grandes produções financiadas diretamente por marcas, plataformas ou grupos de mídia. "Nosso compromisso é sempre o mesmo: entregar com qualidade, dentro da realidade de cada projeto". Nesse sentido, Wagon reforça que a Elo opera seguindo um modelo de produção que é ágil e flexível, com padrão de execução e equipes que se moldam às necessidades específicas de cada parceiro: "Somos uma produtora estratégica, orientada pela demanda e pelo desafio criativo de cada cliente e projeto. Isso vale tanto para obras de ficção quanto para conteúdos desenvolvidos em parceria com marcas".

Atualmente, a Elo trabalha em dois longas-metragens de ficção com orçamentos entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões, além de duas séries de ficção com investimentos ainda maiores. Ao mesmo tempo, desenvolve uma série documental e projetos de branded entertainment com valores menores. "Essa amplitude mostra nossa capacidade de adaptação e entrega em diferentes escalas". Além disso, a empresa está cada vez mais ativa em coproduções internacionais, que fortalecem seu posicionamento como uma ponte entre talentos brasileiros e audiências globais, ampliando o valor e a circulação de suas histórias no mercado mundial.

Entre os títulos previstos para este ano, estão o roteiro adaptado do teatro e livro "5 Julias", dirigido por Matheus Souza e com Jade Picon no elenco; a dramédia "(Des)controle", com Carolina Dieckmann no papel principal; o thriller "#Salverosa", com Klara Castanho e Karine Teles; e o projeto de branded entertainment "Mulheres no comando", com apresentação de Fabi Saad. "Para o futuro, seguimos apostando na diversidade com estratégia, com foco especial em ficção seriada de apelo comercial, filmes para o cinema com potencial de público e conteúdos híbridos, que conectam entretenimento, propósito e inovação", adianta a CEO.

Investimento em branded entertainment 

Produção de branded entertainment é uma frente que a Elo enxerga como tendência, por trazer não apenas oportunidades criativas e de linguagem, mas também ampliar as possibilidades de financiamento e distribuição. "Atuamos com esse tipo de projeto não como uma oportunidade pontual, mas como uma linha de negócios estruturada, com linguagem própria, foco em impacto e compromisso com o público", esclarece Wagon. "Em um cenário de economia da atenção, em que os consumidores são expostos a milhares de estímulos diariamente, contar boas histórias se torna a forma mais eficaz e desejada de gerar conexão. Segundo a Nielsen (2023), 75% dos consumidores preferem marcas que proporcionam experiências, e não apenas anúncios. A Harvard Business Review reforça que narrativas autênticas geram até 22 vezes mais engajamento do que a publicidade tradicional. Esses dados dialogam diretamente com minha experiência anterior em estratégia e comunicação na McKinsey e na Edelman, onde pude ver de perto a força da comunicação que gera valor real", ressalta.

A Elo então aplica essa visão no desenvolvimento de conteúdos que buscam ser, antes de tudo, relevantes para o público. Projetos como "Mulheres no comando" com Fabi Saad, sobre empreendedorismo feminino, e "Contar para viver", campanha de impacto com a Unesco e a Cappuccino Digital, são exemplos. Para Wagon, ambos mostram que é possível unir propósito, narrativa e retorno de marca. A empresa também está em pós-produção de um projeto com Fernanda Menegotto, que é referência na área, entre outros projetos em parceria com diferentes marcas. "Um dos diferenciais da Elo é sermos também distribuidores. Isso significa que não apenas criamos conteúdo de branded entertainment com padrão criativo, mas também garantimos sua circulação e visibilidade. Levamos esses conteúdos a múltiplas plataformas – TV, VoD, cinema, redes sociais e imprensa – o que amplia o alcance e assegura um impacto real e mensurável para nossos parceiros", salienta.

Nesse sentido, Wagon entende que veremos um envolvimento cada vez maior de marcas em projetos audiovisuais – isto é, empresas que não são nativas do setor patrocinando projetos e até se envolvendo criativamente com eles. "Estamos vendo um movimento de aproximação entre marcas e o audiovisual que deve se intensificar nos próximos anos. E não só em formatos menores ou periféricos – cada vez mais empresas que não são nativas do setor estão buscando se envolver de forma profunda e estratégica em grandes projetos, incluindo longas-metragens e séries".

De acordo com a executiva, esse movimento tem muito a ver com a transformação do marketing. Conforme ela disse anteriormente, em um cenário de excesso de informação e dispersão de atenção, as marcas que realmente se conectam com o público são aquelas que contam histórias com propósito e relevância cultural. "A publicidade tradicional está dando espaço para o casamento entre narrativa, impacto e valor de marca – e o audiovisual é o terreno ideal para isso", aponta.

Na Elo Studios, isso tem sido testemunhado na prática. No lançamento de "Medida provisória", eles realizaram mais de 160 sessões de impacto em comunidades, escolas e ONGs, com o apoio direto de marcas como L'Oréal e Magalu, entre outras. Já no lançamento de "Viva a vida", a Genera, uma empresa de testes genéticos, apoiou a campanha de marketing conectando o filme à reflexão sobre identidade e pertencimento, em um exemplo de como marcas podem entrar na conversa cultural. Para Wagon, esse tipo de colaboração vai muito além do patrocínio: "As marcas estão buscando fazer parte do processo criativo, co-criar com realizadores, gerar engajamento autêntico com suas audiências e ampliar sua presença cultural".

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