EiTV expande atuação para os EUA com foco no padrão ATSC 3.0 e recebe prêmio por solução de broadcast

Rodrigo Cascão, da EiTV. (Crédito: Divulgação)

A EiTV iniciou suas atividades nos Estados Unidos há três anos com a abertura de um laboratório para pesquisa e desenvolvimento de soluções para o padrão ATSC 3.0. A decisão, classificada por Rodrigo Cascão, fundador da EiTV, como um "grande desafio" e "acertada", envolveu investimentos em eventos locais e associação a entidades como o ATSC e SMPTE, com participação em grupos de trabalho. A experiência da empresa no Fórum SBTVD, especialmente na coordenação da implementação da suíte de testes do DTV Play (perfil D do middleware Ginga) e na concepção da TV 3.0 brasileira, foi um fator importante nesse processo.

A EiTV USA lançou no ano passado uma linha de soluções para o ATSC 3.0, que recentemente conquistou o Prêmio Produ como a melhor solução de broadcast das Américas. A empresa já conta com clientes nos Estados Unidos. Um dos projetos de destaque envolveu o envio e recepção de alertas de emergência pelo sinal de TV em parceria com a rede PBS no estado do Novo México, nos Estados Unidos.

Histórico

Rodrigo Cascão detalha que a fundação da EiTV, em 2005, coincidiu com o início da televisão digital no Brasil. O viés de pesquisa e desenvolvimento sempre esteve presente, impulsionado inicialmente por financiamentos da Finep e Fapesp, que permitiram a formação da equipe e o desenvolvimento dos primeiros produtos. "Sempre tive esse lado de pesquisa, de olhar o que está acontecendo, e a gente, na medida que a televisão foi evoluindo e as outras tecnologias de TV, baseadas em streaming foram evoluindo, nós fomos procurando sempre estar na vanguarda", afirma Cascão.

A decisão de estabelecer um laboratório nos Estados Unidos e estudar o ATSC 3.0 surgiu da percepção de uma tendência de o Brasil observar o padrão americano para a sua TV 3.0, aliada a um desejo pessoal de Cascão e sua família de se mudarem para o país. "Eu comecei a ver que realmente tinha uma tendência de que o Brasil olhasse bastante para o que estava acontecendo aqui nos Estados Unidos, em termos de padrão", relata. A EiTV montou uma estação de laboratório completa e buscou associar-se ao ATSC para ter acesso às normas e aos trabalhos em desenvolvimento.

No mercado americano, a EiTV identificou uma oportunidade para desenvolver uma solução que atendesse tanto emissoras menores quanto maiores em fase de implantação e testes do ATSC 3.0. "Eu observei que seria interessante desenvolver uma solução que eu chamo de LabStation, mas na verdade ela é uma solução que tem vários componentes que são usados numa operação real", explica Cascão. Essa solução integra multiplexação (baseada no padrão Route) e geração de sinalização do sistema, oferecendo uma alternativa mais compacta e de menor custo em comparação a adquirir múltiplos equipamentos. "Ela não tem tantos recursos como as outras mais caras, mas ela tem o que é necessário para você colocar um sinal para testar, testar aplicativos, testar modelos de negócio", complementa.

Do lado da recepção, a EiTV desenvolveu um analisador profissional utilizando hardware de set-top box, uma abordagem de menor custo. Após estudar os receptores existentes e identificar fabricantes de hardware na China, a empresa obteve acesso a kits de desenvolvimento (SDK) e implementou o stack do ATSC 3.0 com foco em uma ferramenta para uso profissional. Este produto foi certificado pela A3SA, entidade responsável pela segurança do sistema ATSC 3.0, permitindo a decodificação de sinais criptografados.

A solução de transmissão da EiTV pode ser utilizada tanto para estações de teste quanto para a operação comercial de emissoras, especialmente afiliadas e locais. O desenvolvimento principal é em software, que pode ser instalado em servidores próprios da emissora ou na nuvem, integrando-se a equipamentos de modulação de sinal.

Desafio americano

Questionado sobre a limitação de espectro nos Estados Unidos para o ATSC 3.0, onde canais de 6 MHz são frequentemente compartilhados por várias emissoras, Cascão reconhece o desafio. Isso impacta a qualidade do conteúdo, limitando a oferta de conteúdo para 1080p, e reduz a capacidade para outros serviços como data casting. No entanto, ele aponta que é possível sinalizar serviços entregues pela internet através do sinal de transmissão, contornando a limitação de espectro, dado que a maioria dos televisores já é conectada.

No mercado, a EiTV tem se inserido através de parcerias com empresas americanas como a HVS, que atua na implantação de estações de TV. Um projeto relevante foi a implementação de um sistema de alertas de emergência para a PBS no Novo México, integrando a solução da EiTV com a Digital Alert Systems, empresa homologada pelo governo americano. "Hoje toda alerta que chega já vem automaticamente para o nosso equipamento e a gente consegue transmitir esse alerta", diz Cascão. A empresa também desenvolveu uma aplicação para processar esses alertas nos receptores, lidando com variações nas implementações dos fabricantes de televisores.

A EiTV mantém um bom relacionamento com grandes players como One Media e Sinclair, participando de eventos de interoperabilidade para aprimorar a integração entre diferentes soluções do ecossistema ATSC 3.0. A empresa também atende emissoras locais, como a TV Connect em Orlando/FL, nos Estados Unidos. "Sentimos que conseguimos romper aquela barreira inicial, que é de entrar no mercado, que é muito difícil quando você chega e você não é conhecido", avalia Cascão, destacando o "timing bom" por o mercado americano ainda estar em fase inicial de adoção do ATSC 3.0.

Sobre data casting, Cascão menciona que a EiTV possui um produto já utilizado no Brasil para entrega de conteúdo educacional em escolas pelo ar, mas que ainda não foi lançado no mercado americano, aguardando a identificação de uma oportunidade.

Brasil

A experiência nos Estados Unidos reflete diretamente na atuação da EiTV no Brasil. "Todo esse trabalho também vai ser muito útil para o Brasil, porque a gente agora consegue chegar muito rápido no mercado brasileiro. As adaptações que nós temos que fazer são pequenas", afirma Cascão. Ele ressalta que a codificação de vídeo VVC e o áudio já foram incorporados ao padrão americano, o que facilita a oferta de soluções para a TV 3.0 brasileira. A EiTV já está apta a atender emissoras no Brasil interessadas em montar estações piloto de TV 3.0 e trabalha com fabricantes de televisores e set-top boxes no desenvolvimento do middleware para a nova geração. A empresa também está envolvida na discussão sobre a adoção da TV 3.0 no TVRO (transmissão via satélite), aproveitando sua experiência com clientes como a Century.

Paralelamente, a EiTV possui uma plataforma de streaming desenvolvida desde 2012, que evoluiu para atender diversos segmentos, como ISPs e o setor educacional, contando com mais de 200 empresas utilizando seus aplicativos. Clientes como Canal Saúde, TV Cultura (Cultura Play), Univesp e SPCine (SPCine Play) utilizam a plataforma. Para ISPs, a EiTV oferece um catálogo de mais de 200 canais de TV e mais de 12 mil horas de filmes e séries.

Com foco no DTV Play, o middleware presente na maioria dos televisores atuais no Brasil (perfil D do Ginga), a EiTV integrou à sua plataforma de streaming um módulo para gerenciar aplicativos DTV Play. Um equipamento chamado EiTV Playout, instalado na emissora, gera um carrossel de dados com o aplicativo DTV Play, permitindo a medição de audiência e a criação de interatividades, como enquetes. Cascão informa que estão investindo na monetização por anúncios nesses aplicativos. "Muita coisa do que a gente vai poder fazer na TV 3.0, a gente já pode fazer agora, no DTV Play. E é isso que a gente está tentando levar para as emissoras. Não precisa esperar chegar a TV 3.0", conclui. Ele estima que cerca de 50% dos televisores conectados no Brasil possuem DTV Play, enquanto os demais possuem versões anteriores do Ginga, que também permitem a medição de audiência, embora com interatividade limitada.

A estratégia da EiTV de internacionalização, com foco no desenvolvimento de soluções para o padrão ATSC 3.0 nos Estados Unidos, tem gerado resultados positivos, incluindo a conquista de prêmios e a aquisição de clientes. Essa experiência, aliada à sua atuação no Brasil com a TV digital e plataformas de streaming, posiciona a empresa para as futuras implementações da TV 3.0 no mercado brasileiro, ao mesmo tempo em que explora as potencialidades do DTV Play já existente.

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