A Elo Studios, empresa que nasceu como uma startup focada em distribuição de conteúdo, em especial para televisão, no Brasil e exterior, ampliou seu escopo de atuação no mercado audiovisual e, hoje, celebra 20 anos de história, sendo uma das principais produtoras e distribuidoras independentes do Brasil, e que segue crescendo com o objetivo de conectar histórias com público.
É claro que, por estar há tantos anos no mercado, a Elo já enfrentou uma série de desafios – especialmente no âmbito financeiro, uma vez que o financiamento para o setor audiovisual no Brasil não segue uma linha estável. No momento, inclusive, ele passa por grande incerteza. "Apesar da sinalização de que há recursos disponíveis via FSA, a lentidão na liberação dos editais tem comprometido seriamente o planejamento da produção e da distribuição nacional. Isso afeta a previsibilidade, reduz o apetite de risco e impacta diretamente na capacidade de o setor manter uma produção constante", diz Sabrina N Wagon, CEO da Elo Studios, em entrevista exclusiva.
Ela acrescenta que, para além disso, a concentração de players e a ausência de uma regulamentação efetiva para o vídeo sob demanda agravam esse cenário, gerando um gargalo que limita o acesso ao financiamento e ainda reduz a diversidade de vozes e narrativas.
Diversificação de fontes
Diante desse cenário, a Elo tem buscado diversificar suas fontes de investimento de forma estruturada, combinando recursos públicos com investimento direto de marcas, fundos privados, Funcines, BNDES, coproduções internacionais e parcerias com plataformas e grupos de mídia. Hoje, a empresa tem no seu lineup projetos de grande escala, incluindo séries de ficção com orçamentos robustos, comparáveis às maiores produções já realizadas no Brasil, que exigem uma engenharia financeira sofisticada desde a fase de desenvolvimento. "Na Elo, sempre operamos com essa lógica de diversificação desde o início", salienta a executiva.
"A nossa capacidade de gerenciar obras complexas com alto valor de produção não vem só da experiência criativa, mas da estrutura estratégica e financeira que construímos ao longo desses 20 anos", completa. Wagon, que vem do mercado financeiro, com passagens por grandes consultorias, montou na empresa uma equipe multidisciplinar, que consegue operar com rígido controle orçamentário, planejamento de fluxo de caixa e segurança na execução de grandes projetos. "Isso nos posiciona como uma parceira sólida para plataformas, marcas e investidores que buscam escala com controle e qualidade – seja em filmes, séries ou conteúdos híbridos", pontua.
A CEO afirma que, se o Brasil quiser seguir ocupando espaço no Oscar e nos grandes festivais, e ao mesmo tempo fortalecendo a presença nas bilheterias nacionais, é fundamental ter uma política pública perene, transparente e previsível. "Não dá mais para vivermos em um ciclo de incerteza, sem saber quando ou se haverá edital", lamenta.
A urgência da regulamentação
É claro que, no momento, é impossível falar em políticas públicas para o audiovisual sem mencionar a regulamentação das plataformas de streaming, que Wagon entende ser uma urgência estratégica para o setor. Para ela, a ausência de uma regulamentação clara é hoje um dos principais gargalos estruturais da indústria brasileira. "O mercado mudou completamente, com o streaming ocupando uma posição central na distribuição e no consumo de conteúdo, mas a legislação ainda não acompanhou essa transformação. Enquanto países como França, Alemanha e Coreia do Sul já implementaram modelos eficazes de regulação e cota de investimento em produção local, o Brasil segue sem um marco legal claro. Isso gera insegurança jurídica, o que inclusive afasta investimentos robustos de grandes players internacionais, que têm dificuldade de fazer planos de longo prazo no país sem saber quais serão as regras do jogo", analisa.
A executiva reforça que a regulamentação do VOD é fundamental não só para estimular a produção nacional, mas também para equilibrar o mercado. "Hoje, empresas brasileiras seguem regras rígidas de cota, investimento e prestação de contas, enquanto plataformas globais operam aqui com liberdade total. Essa assimetria prejudica a competitividade do setor nacional e compromete o crescimento de novos talentos e empresas. Além disso, estamos falando de um mercado imenso e altamente relevante: o Brasil é um dos maiores consumidores de conteúdo audiovisual do mundo. Temos uma potência criativa reconhecida globalmente – e precisamos de uma política que proteja, estimule e potencialize esse valor", alerta.
A regulamentação pode trazer impactos concretos. Entre eles, Wagon cita maior investimento em produção local; mais previsibilidade para a cadeia produtiva, desde o desenvolvimento até a exibição; e o fortalecimento da soberania cultural brasileira, especialmente diante de movimentos recentes, como o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano), sobre tarifas para filmes estrangeiros, em "uma sinalização clara de que o mercado internacional também está se reconfigurando sob uma lógica de proteção estratégica".
Ela garante que a Elo opera com visão de longo prazo e está preparada para esse novo cenário, com estrutura sólida, capacidade de execução e governança. "Mas sabemos que uma política pública moderna e bem implementada é essencial para que o setor como um todo cresça com consistência. Mais do que uma obrigação regulatória, trata-se de uma oportunidade para o Brasil assumir protagonismo, garantindo que as histórias que contamos aqui continuem circulando no mundo com escala, identidade e autonomia", conclui.