Em novembro do ano passado, o Canal UOL, que já existia no ambiente digital, estreou na TV. Com a Stenna como parceira de distribuição, a marca já está em diversas operadoras e plataformas, como Claro, Sky, Vivo, Oi, TVRO Embratel, Samsung TV Plus, Zapping e UOL Play. E, apesar da curta trajetória de pouco mais de três meses, o canal já fez movimentações, como a transmissão de esportes ao vivo e o desenvolvimento de novos estúdios, visando aprimorar a qualidade dos conteúdos audiovisuais. Para este ano, os principais objetivos são expandir a presença em diferentes meios de comunicação e investir em produção e criação de conteúdo, sempre mantendo sua tecnologia atualizada.
Em entrevista exclusiva para TELA VIVA, Paulo Samia, CEO do UOL, falou sobre as motivações por trás da criação do Canal UOL e sua chegada na televisão – mesmo num cenário de constante transformação, fragmentação e crise, especialmente pensando em TV paga. "Foram duas as motivações principais. A primeira é que entendemos que a TV ainda é um ambiente relevante para o consumo de conteúdo. A tendência de todos os meios é uma maior fragmentação, claro, mas nossa estratégia é estar presente em cada vez mais lugares, para que as pessoas consumam o conteúdo do UOL onde quer que elas estejam consumindo conteúdo. Apesar de a TV ser um meio que está diminuindo, principalmente a TV a cabo, em termos de base de assinantes, ela ainda é relevante. E qualquer meio é um meio importante para as pessoas consumirem conteúdo do UOL", explicou.
A segunda motivação, segundo o CEO, foi de ordem objetiva: o UOL já produzia muito conteúdo audiovisual para distribuir em seus canais digitais, tanto nas propriedades próprias do UOL, dentro de suas páginas, como também no YouTube e nas redes sociais. "Já fazíamos mais de dez horas diárias de conteúdo ao vivo, num formato televisivo. Então distribuir isso na televisão seria natural e demandou muito pouco esforço adicional da nossa parte, principalmente em termos de custo. Foi muito mais uma questão de integração com as operadoras. Por isso foi uma decisão fácil para nós – tanto no sentido objetivo, pensando no custo, quanto no lado estratégico, a partir dessa ideia de estar presente nesse meio onde as pessoas ainda consomem muito conteúdo".
Após essa fase inicial, os esforços foram mais direcionados: agora, o Canal UOL investe em mais horas diárias de produção de conteúdo ao vivo e está inaugurando mais três estúdios de produção de vídeo – de acordo com Samia, estúdios grandes, de última geração. No total, agora são cinco estúdios. "Com isso, esperamos aumentar cada vez mais nosso inventário de conteúdo e oferecer melhor qualidade para quem está consumindo numa tela grande, que exige isso. Queremos nos adequar ainda mais à linguagem televisiva agora". Embora impulsionados por esse novo negócio, os estúdios não ficam restritos à produção para TV, e podem ser usados para qualquer conteúdo audiovisual do UOL.
Entretenimento, esportes e notícias
Se antes o UOL contava com a liberdade do digital, onde as pessoas consomem conteúdo sob demanda, a chegada do Canal UOL à TV os obrigou a pensar numa curadoria limitada à grade de 24 horas. Hoje, eles distribuem na TV um conteúdo variado de entretenimento, esportes e notícias, e a ideia é adequá-lo cada vez mais aos hábitos de consumo desse ambiente. "Estamos justamente nesse momento de entender qual a melhor linguagem e o melhor conteúdo para a televisão para aprimorarmos nossa grade de programação e ter uma performance melhor tanto em termos de audiência quanto de percepção de valor para quem está assistindo", afirmou. Nesse processo, o executivo diz já ter notado a adesão das notícias e dos esportes. "Principalmente com a nossa iniciativa agora no começo do ano de adquirir licença para transmitir o Paulistão 2025. O esporte tem uma demanda muito grande – o que já era sabido por qualquer operador e programador – mas cada vez investiremos em conteúdo diferenciado e de qualidade para preencher todos os espaços. Estamos desenhando a grade para ter um equilíbrio entre notícias, entretenimento e esportes nos horários em que as pessoas mais consomem – notícias na manhã, na hora do almoço e no fim da tarde, entretenimento e esportes depois do almoço, variedades à noite…", exemplificou.
Direitos esportivos
A entrada do UOL no mundo dos direitos esportivos foi uma jogada ousada, mas o resultado foi positivo. "A adesão foi imensa. Recebemos elogios de todos os lados e tivemos um ótimo retorno. O objetivo inicial, que era basicamente aumentar a base dos assinantes do UOL Play, nossa plataforma de streaming, foi atingido – e bem acima das nossas expectativas. Sentimos que o conteúdo ao vivo de futebol de qualidade tem realmente muita demanda", contou. Por isso, é do interesse do UOL entrar cada vez mais nesse universo. "Estamos buscando e avaliando com muita atenção qualquer novo conteúdo de esporte, principalmente ao vivo, para agregar para os nossos assinantes", garantiu.
O UOL Play ainda oferece conteúdos de parceiros, como o Paramount+, que também é forte nos esportes – a plataforma transmite alguns jogos exclusivos da Conmebol Libertadores, por exemplo. Mas independentemente disso, o CEO reforça que está atento na busca de novos conteúdos nesse sentido. E, falando nas parcerias, ampliá-las também é um dos objetivos. "Queremos ser um hub de conteúdo, mas não necessariamente sermos proprietários finais de todos os conteúdos que oferecemos na plataforma. Queremos ser o destino natural das pessoas que querem encontrar, em uma única plataforma, um conteúdo diverso. Por isso nos interessamos por parcerias e por isso que somos, por natureza, diversificados em termos de conteúdo. O UOL Play deve ser o destino completo para quem quer ter numa única assinatura conteúdo de canais lineares, filmes, séries, documentários, esportes e programação ao vivo".
Investimento em plataforma própria
Com essa proposta ampla, o UOL entende não ter concorrentes diretos. "Hoje em dia, qualquer veículo se depara com esse mesmo cenário de alta fragmentação, então falar em concorrência nem faz muito sentido. Isso significaria que estamos trabalhando para superar este ou aquele concorrente, e o objetivo não é esse, e sim atrair o máximo possível de atenção. Sabemos que essa atenção estará fragmentada, e todos os veículos sentem isso. O que queremos é, cada vez mais, aumentar nossa participação na divisão da audiência e da atenção das pessoas. Para isso, temos de oferecer qualidade. Então investimos, para além de estúdios, compra de conteúdo e licenças, na própria plataforma. Desenvolvemos nossa plataforma de streaming do zero – hoje, ela é proprietária, robusta, de qualidade e com agilidade para adaptarmos para qualquer necessidade", pontuou. Samia não descarta a possibilidade de comercializar essa plataforma de streaming como um novo produto, no modelo white label.
Atualmente, o serviço é comercializado para assinantes pagantes, mas a ideia é, em curto prazo, oferecer também um acesso "freemium", isto é, com uma parte gratuita aberta, a todos que se interessarem, e a parte fechada, com conteúdo exclusivo – como já acontece no portal UOL.
"Levamos dois anos para desenvolver essa plataforma. Anteriormente, trabalhávamos em parceria com outra plataforma de vídeo. Ao longo desses dois anos investimos internamente para desenvolver uma plataforma própria que tivesse todas as features que esperávamos de uma plataforma de streaming de padrão internacional. Hoje, nosso player é bom, intuitivo, rápido e confiável", assinalou.
Aprendizados e oportunidades
Olhando para esse período inicial de história do Canal UOL na televisão, o CEO avalia que um dos destaques foi essa entrada no licenciamento de conteúdo esportivo, no qual acredita: "E para além disso, ao longo desse tempo, percebemos uma audiência crescente, constante e fiel. Em alguns momentos do dia chegamos a estar próximos e até ultrapassar outros canais em audiência, como CNN e Globo News. Então percebemos desde o começo que a marca UOL, aliada à qualidade do nosso conteúdo, atrai cada vez mais audiência – e uma audiência que antes não pegávamos só nos canais digitais".
Sobre os aprendizados, ele afirma serem constantes. "Temos aprendido que conteúdo de qualidade nos momentos de maior consumo de conteúdo pelas pessoas, como durante o almoço, o fim da tarde e a noite, faz diferença. Então procuramos colocar os melhores conteúdos nesses horários. Esse foi um dos aprendizados. E também investir cada vez mais na qualidade de transmissão e de tecnologia para não ter nenhum impacto da percepção de valor do usuário".
Publicidade
A entrada na TV também abriu novas possibilidades com o mercado anunciante. Nesse setor, o UOL tem sentido como grande vantagem sua possibilidade de entregar projetos 360º, e não somente específicos para um dos meios, como a TV, por exemplo. "Agora, agregamos uma nova entrega dentro de um pacote maior. Conseguimos fazer projetos muito mais integrados entre digital, YouTube, redes sociais, OOH e agora TV. Tudo isso facilitou a venda das plataformas individualmente e acelerou a publicidade dentro da televisão. Em termos de frequência isso também é importante, porque publicidade dependente disso. Portanto temos uma cobertura maior e ainda uma frequência maior, o que beneficia muito nossos anunciantes", analisou. O UOL comprou uma fatia na NEOOH, uma das maiores empresas de mídia exterior do país, em julho de 2024, visando expandir sua oferta de mídia em áreas públicas.