Combater pirataria e compartilhamento de contas são ações fundamentais para sustentabilidade do streaming

Henrique Rodrigues, country manager da BB Media, no Brasil Streaming 2025 (Foto: Marcos Mesquita)

Henrique Rodrigues, country manager da BB Media, empresa de ciência de dados e pesquisa especializada em mídia e entretenimento, abriu a programação do Brasil Streaming 2025, evento organizado pelas publicações TELETIME e TELA VIVA, nesta segunda-feira, dia 14 de abril, em São Paulo. O executivo apresentou a palestra "O tamanho do mercado", na qual trouxe percepções sobre o meio de streaming. A principal mensagem que ficou é que, embora o Brasil e o mundo estejam vendo um cenário de consolidação de plataformas, redução de orçamentos e menos lançamentos de conteúdos inéditos, ainda há espaço para crescer dentro desse mercado.

Em 2025, são 606 plataformas de streaming ativas, sendo 320 com live streaming e 69 de nicho. Nelas, estão disponíveis mais de 127 mil filmes e de 33 mil séries. E, só no ano passado, foram lançadas 28 novas plataformas – contrariando as previsões da indústria que apontavam uma redução na quantidade de serviços. "Tem mercado para todo mundo, e esse mercado segue bem ativo", ressaltou Rodrigues. 

O consumo dentro dessas plataformas obviamente é expressivo. Considerando lares com internet banda larga na América Latina, 92% é a penetração na Argentina, 95% na Colômbia e 93% no México. No comparativo com esses territórios, o Brasil está atrás, com 88%. "A penetração aqui é alta mas, quando comparamos com outros países, vemos que ainda há oportunidade para crescermos. Estamos bem, mas podemos crescer. Ainda estamos abaixo da média", apontou. E esse percentual foi tendo leves alterações nos últimos anos: de 2018 pra cá, cresceu em 16 pontos percentuais, indo de 72% para 88%. "Crescemos quase 20. Isso significa que o mercado ainda não alcançou sua maturidade, seu topo". 

Modelos de negócio e share entre serviços 

Em relação aos modelos de negócio disponibilizados pelas plataformas, o SVOD ainda é o maior, com 74% em 2025 – em 2020, esse número era 71%. O AVOD tem se destacado, e hoje já soma 72% – cinco anos atrás, representava 65%. Para o especialista, o SVOD segue se potencializado, mas o AVOD vem ganhando cada vez mais espaço. 

Considerando o número de assinantes de cada serviço, a Netflix ainda é a líder da categoria e alcança 33% dos domicílios com banda larga no Brasil. A boa notícia é que todos os players cresceram em número de assinantes no comparativo com o trimestre anterior. Os números atuais são 8.8% para o Globoplay, 9.1% para a Max, 10.9% para o YouTube Premium, 15.1% para o Disney+ e 23.4% para o Prime Video. Os dados são todos da BB Media. No entanto, é importante destacar um outro ponto: 30% é a taxa média de compartilhamento de conta para cada player. "Essa taxa é muito parecida entre todas as plataformas. Ou seja, é uma fatia de 30% de oportunidade que temos na mão para conseguir monetizar. Algumas empresas já usaram essa informação para definir o pagamento de uma taxa de membro extra. É um fator relevante, e precisamos acompanhar essa evolução", enfatizou Rodrigues. 

Investimento de tempo e dinheiro 

E se os dados apresentados até então já argumentavam contra a ideia de redução de mercado, há outras informações que contribuem ainda mais com essa visão. Embora o valor médio de assinatura de uma plataforma de OTT atualmente seja de R$ 38 – um real acima do ano anterior -, a média de plataformas por domicílio é sete, e esse número só cresceu nos últimos anos. Isso significa que, numa casa que possui exatamente essa quantidade de serviços, gasta-se cerca de R$ 266 ao mês com streaming. "Conforme vão surgindo novas plataformas, esse número vai aumentando. Ainda há muita oportunidade", reforçou o especialista, que afirmou ainda que, a cada ano que passa, as plataformas de video tomam mais espaço na vida, no hábito e no bolso do consumidor. Da porcentagem de dinheiro gasto com lazer, 41% vai para plataformas de streaming (para sair para comer e ou ir ao cinema, por exemplo, são 24% e 20%, respectivamente). E além de investir dinheiro, as pessoas investem tempo. Hoje, o consumidor dedica mais horas do seu tempo assistindo streaming do que TV aberta. São mais de seis horas de Netflix e também seis de YouTube, por exemplo, contra pouco mais de quatro horas e meia de TV aberta. 

Nesse cenário, destacam-se as parcerias – 98 disponíveis neste momento. A maior parte dessas parcerias realizadas por plataformas de streaming ainda são com telcos (embora esse percentual tenha reduzido de 65% em 2024 para 58% em 2025) ou entre elas mesmas (27%). Mas outros segmentos já surgem nesse jogo, como e-commerce (4%), serviços (4%) e outros (7%). "Em relação às telcos, não são as grandes empresas que estão reduzindo suas parcerias, e sim as pequenas, como os ISPs, que estão acomodando suas ofertas e encontrando os parceiros certos", observou. É claro que, se são tantos parceiros e modelos de negócio existentes, as ofertas também são variadas: 132 disponíveis hoje, sendo 95% delas relacionadas com free trial ou preço. 

Pirataria ainda é alarmante 

Mas a pirataria ainda é uma grande pedra no sapato desse mercado – e do setor de mídia e entretenimento como um todo. Os serviços piratas têm cerca de 30% de penetração nos lares brasileiros e a Netflix é a plataforma mais afetada, com cerca de 15 mil títulos pirateados. O problema tem melhorado, é verdade – esse percentual já foi de 40% em 2023 e reduziu para 27% em 2024 – mas ainda é alarmante. 

"Em um mercado de streaming ainda em constante crescimento, as oportunidades são vastas, mas a luta contra a pirataria e a proteção da criatividade são fundamentais para garantir um futuro sustentável e justo para todos", concluiu Rodrigues. 

Mais tarde no evento, José Carlos Rocha, diretor executivo de vendas e marketing da Vero, mencionou que a pirataria é um problema presente no Brasil e que a democratização do acesso ao streaming, com preços mais acessíveis, pode ajudar a reduzir essa prática.  

Ricardo Falcão, diretor de TV da Claro, também destacou a pirataria como um dos principais desafios para o mercado de vídeo e entretenimento. Ele ressaltou que os custos de produção e direitos de transmissão são altos e que a distribuição ilegal de conteúdo prejudica a capacidade de investimento no setor.  

Falcão apontou ainda o compartilhamento de senhas como outra forma de evasão de receita, afetando cerca de 30% do mercado. Ele defendeu a importância de combater a pirataria e o compartilhamento de senhas, oferecendo um serviço com preço atrativo e boa experiência para o usuário, como forma de incentivá-lo a optar pelo consumo legal.

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