O que esperar de Paulo Marinho na presidência da Globo

Paulo Marinho, anunciado nesta quinta-feira, dia 14 de outubro, como novo presidente da Globo a partir de 1º de fevereiro de 2022, concedeu em agosto, durante o PAYTV Forum, uma das suas raras entrevistas. No evento, realizado pela TELA VIVA, ele falou ainda como diretor responsável pela área de canais lineares do grupo, mas na ocasião comentou a estratégia do grupo para os canais pagos e os desafios com as transformações no mercado de TV por assinatura, TV aberta e Internet. A nova posição de Marinho vai ao encontro da estratégia de profunda transformação digital da empresa, que foi iniciada por Jorge Nóbrega em 2018 e que estará a cargo do novo presidente a partir do ano que vem. 

Sobre o processo de reestruturação e integração das empresas do grupo, Marinho comentou na ocasião: "Estamos nesse processo há um ano e meio e já em fase bastante adiantada. Conseguimos fazer a integração e já estamos operando dessa forma. O grande objetivo por trás era buscar mais eficiência na nossa forma de trabalhar em conjunto e com um olhar muito forte na complementaridade dos nossos produtos". O executivo reiterou em diferentes pontos da entrevista a questão da complementaridade das diferentes plataformas de distribuição, afirmando o quanto a Globo acredita e aposta na combinação de seus portfólios, que somam canal aberto, canais pagos, portais na Internet e serviços de streaming. 

Relevância dos canais por assinatura 

Marinho garantiu que a Globo segue valorizando muito o mercado de TV paga e o papel dos canais lineares dentro da dinâmica do mercado. "Existe uma briga, sim, uma concorrência cada vez mais acirrada pelo tempo, atenção e bolso do consumidor. Por isso a necessidade de renovar nosso olhar. A gente acredita muito no papel dos canais lineares no sentido de ofertar conteúdos ao vivo – que têm grande apelo com o consumidor, pautam o dia a dia e as conversas – e apostamos na combinação da TV aberta com os canais segmentados. Um tem a abrangência, o outro fala com os segmentos específicos. Acreditamos nessa complementaridade de ofertas e vemos os lineares com um papel muito importante nessa dinâmica. Eles abastecem essas múltiplas ofertas, têm a capacidade de abastecimento do ecossistema de vídeo", afirmou. 

Ele ressaltou ainda que a Globo ajudou a construir esse mercado no Brasil e quer continuar fazendo isso, apesar de ter consciência de que, hoje, o ambiente concorrencial é bem mais acirrado e agressivo. "Enxergo como muito forte o papel que temos (como grupo) de impulsionar os novos modelos de distribuição e as novas ofertas virtuais dos próprios operadores. Dentro desse ambiente, os canais Globo têm um compromisso importante no desenvolvimento do mercado e vamos mantê-lo". 

Inovação nas ofertas

Quando questionado se há caminhos inovadores para os canais lineares, Marinho pontuou algumas frentes nas quais ele vê mais possibilidades de inovação, como conteúdo, ofertas levadas ao consumidor e nas novas formas de consumo. "Nas Olimpíadas, por exemplo, apresentamos conteúdos em 8K em alguns ambientes. Temos essa inovação voltada para o conteúdo como um DNA muito forte na Globo e que obviamente permanecerá. Fizemos ainda um estúdio virtual, que também deu muito certo. Outra inovação passa pelas ofertas e empacotamentos, em como a gente leva isso para o consumidor, pensando em combinação de produtos e preços. A gente precisa rever nossas ofertas e torná-las competitivas dentro desse ambiente. Nossos parceiros agora encaram com a gente esse desafio da distribuição virtual também", observou. 

Revisão de empacotamentos 

Conforme dito por Marinho anteriormente, esse reempacotamento está no radar da Globo. "É um debate que teremos que encarar", disse. "O Globoplay atende a uma necessidade específica de um grupo de consumidores, mas isso não elimina o olhar que sempre tivemos na multidistribuição. Um dos grandes desafios do momento é repensar as ofertas e deixá-las mais competitivas – falando de experiência, preço e empacotamento. Já começamos essa jornada, mas ela não termina agora. É contínua e afeta nosso modelo tradicional, mas temos que encarar e repensar essa dinâmica analisando o contexto do mercado, as novas demandas do consumidor e as novas ofertas que se apresentam. É o momento de olhar para frente e tentar um equilíbrio nessa transição", completou o executivo na entrevista. 

Conteúdo local como diferencial 

Diante do cenário altamente competitivo, impulsionado pela chegada de gigantes internacionais ao Brasil, Marinho avaliou: "Aprendemos que, mesmo nesse jogo global e de grande escala, o conteúdo local tem um valor muito importante – e a Globo se posiciona fortemente nessa frente. Temos uma capacidade de produção em escala de conteúdo de qualidade e relevante no âmbito do local e esse é um dos nossos maiores diferenciais. Recentemente, fizemos investimentos nesse sentido, ampliando estúdios e capacidade em termos de tecnologia e inovação voltada para a produção de conteúdo". O executivo apontou ainda a vantagem que a Globo tem, segundo ele, de conhecer o consumidor profundamente. "Temos um conhecimento dos hábitos de consumo dos brasileiros e uma sintonia com a sociedade muito importante, fortalecida agora com nossa maior capacidade de entendimento de dados de comportamento", acrescentou. 

Coprodução internacional 

As novelas continuam sendo o carro-chefe da Globo em termos de internacionalização do conteúdo. As obras são vendidas mundo afora e estão presentes em mais de 100 países. "A estratégia ainda está voltada para a venda de conteúdos, mas podemos ter novidades em coprodução. Esse é um caminho que está aberto e é bem provável que tenhamos alguns movimentos nesse sentido", adiantou. Outro ponto em que a Globo investe bastante dentro dessa questão é o acesso para brasileiros que moram fora do país. A TV Globo está disponível em alguns países e a ideia é ampliar esse alcance também para o Globoplay que, segundo Marinho, deve ganhar novos territórios em breve. 

E a TV aberta? 

Parte do objetivo da Globo com a integração era olhar para TV aberta, TV paga e demais serviços de forma complementar. "Por mais que exista uma ampliação de ambientes, quando analisamos uma propriedade como o 'Big Brother' no conjunto da obra, as audiências vêm se ampliando, então também há uma complementaridade nesse sentido", comentou Marinho. Ele diz que as audiências do "BBB" foram altas no Multishow, na TV Globo, no Globoplay e no pay-per-view das operadoras. "Então quando mais se tem ambientes de consumo, mais a audiência se fortalece em cada plataforma individualmente", concluiu. 

Para o executivo, a TV aberta segue sendo fundamental, importante e relevante no Brasil. "A Globo tem um papel de grande abrangência nacional ao mesmo tempo em que consegue ser local e regional – e esse é um aspecto importante. Ela vai manter essa relevância no sentido de atingir grandes massas. E estamos acompanhando uma manutenção de audiência. Continuaremos apostando no investimento de conteúdo para esse ambiente", afirmou Paulo Marinho nessa entrevista de agosto. 

No futuro da TV aberta, ele enxerga um grande salto em termos de integração, com o debate da chegada da TV 3.0 ao Brasil: "Essa evolução vai ganhar corpo, proporcionado a experiência digital em torno da TV aberta com mais capacidade de interação. Acredito na manutenção da abrangência e do alcance da TV aberta, com sua amplitude e localidade ao mesmo tempo e, agora, incorporando cada vez mais atributos digitais". 

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