A Anatel propôs à Star One que faça uma migração dos canais de TV que ocupam a banda C estendida para faixas mais baixas a fim de evitar a interferência com os sistemas terrestres que serão instalados na banda de 3,5 GHz. A operadoras de satélites, entretanto, embora reconheça que tecnicamente a migração seja viável, apontou à Anatel uma série de dificuldades técnicas e de gestão que tornam a proposta muito difícil de ser executada.
Para que a migração fosse possível, a Star One teria que transferir esses canais temporariamente para outros satélites, técnica chamada de espelhamento, no jargão do setor, a fim de abrir espaço para que fosse feito umarranjo da ocupação dos transponders. E aí surge o primeiro problema: não haveria capacidade satelital disponível para receber temporariamente o sinal dos clientes da Star One.
Outro ponto colocado pela empresa foi sobre a dificuldade de se estabelecer contratos comerciais temporários com o novo fornecedor que guardassem as mesmas características que os radiodifusores têm com a Star One. E, por fim, o custo. Os radiodifusores teriam que alterar o posicionamento das suas antenas para o novo satélite e, em alguns casos, até adquirir novas antenas capazes de receber o sinal do novo satélite, tudo isso para resolver o problema de um novo entrante. "É como se você alugasse um apartamento e o proprietário te dissesse que você teria que morar temporariamente em outro apartamento", compara um executivo do setor. Há de se destacar que durante o período em que os canais fossem carregados por outros satélites as antenas parabólicas também precisariam ser apontadas para esse novo satélite, no caso daqueles canais recebidos livremente pela população. Hoje, todos os canais de TV abertos disponíveis na banda C estão em satélite da StarOne.
Relatório
Na última terça, 13, representantes dos radiodifusores, das operadoras de satélite e dos fabricantes de filtros eletrônicos de recepção se reuniram no Rio de Janeiro para discutir o estudo do CPqD sobre a interferência de sistemas terrestres em 3,5 GHz na banda C do satélite. Segundo um interlocutor que estava presente no encontro, a avaliação foi de que o relatório apresenta algumas "inconsistências".
Primerio, o estudo diz que existe interferência apenas no serviço de TVRO (antenas parabólicas) quando estudos feitos pelo setor mostram que as redes corporativas também seriam afetadas. Além disso, o CPqD avaliou a interferência de um serviço fixo, mas o edital de venda da faixa de 3,5 GHz prevê que ela também seja usada para o SMP. E ao propor ajustes na regulamentação, o CPqD diz que a resolução 537/2010, ao estabelecer um escalonamento para o aumento da potência permitida, oferece tempo necessário para que as soluções técnicas de mitigação da interferência sejam implementadas. A leitura do setor é que faltou uma análise sobre quais seriam essa soluções técnicas para resolver o problema da base instalada.
A Anatel agendou para o dia 22 de dezembro uma reunião com todos os interessados no assunto. Representantes dos radiodifusores e das empresas de satélite pedirão a agência que o CPqD participe da reunião para que seja possível esclarecer as dúvidas sobre o relatório.