Adriana Pascale, Partner Insights Manager Latam da Parrot Analytics, participou do Brasil Streaming, evento organizado pelas publicações TELETIME e TELA VIVA, nesta segunda-feira, 14 de abril, apresentando dados que evidenciam a força dos conteúdos de língua não-inglesa – e especialmente brasileiros – nas grandes plataformas de streaming. E, com essa força, a especialista quer dizer valoração do conteúdo, isto é, a contribuição em valor financeiro dos títulos para as empresas.
Falando de séries de língua não-inglesa de modo geral, o panorama de 2020-2024 revela que elas são um impulsionador crescente de receita. Se há cinco anos o percentual de contribuição de receita desses conteúdos para as plataformas globais de streaming era de apenas 10%, nos últimos quatro meses de 2024 já subiu para 21%. Ou seja: no período avaliado, essa participação aumentou 104%. Esse crescimento teve um pico em 2021 e passou a ser mais consistente a partir de 2023. Como exemplos desses títulos, estão "Round 6", da Coreia do Sul; "Elite", da Espanha; e "Lupin", da França.
Em números absolutos de títulos, as séries originais de língua não-inglesa das plataformas foram de 219 títulos em 2020 para 1673 no final de 2024. "Ao longo dos anos, as plataformas começaram a reconhecer o papel estratégico que essas séries representam em suas receitas e elas se tornaram um pilar muito importante. E não tem estagnação, esse número segue crescendo – o que mostra também um comprometimento cada vez maior de diversidade de catálogo por parte das plataformas", destacou Pascale.
As produções de cinco mercados internacionais – Japão (17%), Coreia (16,4%), Índia (10,7%), Espanha (8,8%) e Alemanha (6,6%) – já movimentam 60% da receita. Outros territórios representam 40% – com o Brasil entre eles, com 4,6% de contribuição, sendo "Senna", da Netflix, uma das principais obras que causaram esse resultado. "Apesar de termos pouco menos de 5%, o Brasil é um mercado muito importante de produção de conteúdo para essas plataformas", enfatizou.
A importância dos produtos originais nacionais
Destacando exclusivamente as séries originais brasileiras, existe de fato um evidente crescimento exponencial de receita por parte desses conteúdos: quando comparamos o último trimestre de 2024 com o primeiro temos um crescimento de 85% da contribuição de receita. O conteúdo brasileiro vive um momento muito importante, representando um dos maiores engajamentos de audiência da América Latina", salientou a especialista. Analisando por gênero de conteúdo, o drama é destaque, com 49%, seguido por biografias, com 16,5%; comédia, com 13,1%; e reality show, com 10,4%. Pascale chama a atenção para a crescente participação das biografias: "As narrativas histórias e culturais brasileiras têm se tornado uma grande fonte para a produção de conteúdo. 'Senna' é um desses exemplos".
Dizer que determinada série fez sucesso é um conceito relativo. Mas a Parrot buscou avaliar qual foi a importância que ela teve em termos de assinantes adquiridos e retidos, e Pascale trouxe títulos para exemplificar. No Prime Video, por exemplo, "DOM", série lançada em junho de 2021 e que teve três temporadas, sendo a última lançada em maio de 2024, ficou em segundo lugar dentro do ranking de títulos latinos em termos de assinantes adquiridos para a plataforma e em sexto em retenção somente no último trimestre do ano passado. "É fundamental entender o papel de cada título no cenário atual de redução de orçamentos", salienta a especialista.
"Senna", por sua vez, também despontou como um grande sucesso na Netflix, e ocupou, no último trimestre de 2024, o primeiro lugar do Top 10 tanto de títulos da América Latina que mais atraíram novos assinantes para a plataforma quanto daqueles responsáveis pela retenção.
Na Paramount+, o destaque fica com reality show. "De Férias com o Ex Caribe" e "De Férias com o Ex Brasil" foram o primeiro e o segundo títulos latinos, respectivamente, que mais trouxeram assinantes para a plataforma. Em relação aos assinantes retidos, o "De Férias com o Ex Brasil" é o número um entre os conteúdos latam e o "De Férias com o Ex Caribe" é o número três. No caso da Paramount+, são produções lançadas há mais tempo, mas que ainda têm papel importante na estratégia.
A força das novelas brasileiras
Por fim, a especialista falou sobre o recente sucesso das novelas brasileiras no streaming. Para ela, existem várias razões para esse tipo de conteúdo ter performado bem, como o formato mais dinâmico e enxuto de um gênero que os brasileiros já amam, mas que agora podem assistir como e quando quiserem.
"Pedaço de Mim", por exemplo, foi número um em receita entre os títulos latino-americanos na Netflix no terceiro trimestre de 2024. Mas vale ressaltar que a plataforma não gosta de trabalhar o conteúdo como novela, e prefere chamar de "produção de melodrama".
Já "Beleza Fatal", recente sucesso da Max, que lançou com a obra sua primeira experiência de novelas originais para o streaming, foi número um em demanda no Brasil entre as séries lançadas durante o primeiro trimestre de 2025. A demanda média do produto foi de 48 – o que significa que ele teve 48 vezes mais procura do que a média de todos os títulos disponíveis (aqui incluindo tanto filmes quanto séries). Essa demanda foi crescendo durante o tempo, chegando a um pico de 71. Aí se revelou um acerto da Max: com o lançamento dos capítulos em blocos semanais de cinco por vez, deixando o último capítulo para uma estreia especial à parte, a popularidade da novela foi evoluindo com o passar das semanas. "A flexibilidade de programação das plataformas de streaming é algo interessante para esse formato", assinalou Pascale.
Por fim, ficam alguns insights: as séries de língua não-inglesa representam uma mudança fundamental no mercado de streaming, tornando-se um importante impulsionador de receita. Além disso, a receita gerada por conteúdos brasileiros na América Latina está em evidência, refletindo um engajamento cada vez maior por parte da audiência. E, mais recentemente, a alta qualidade das novelas brasileiras, agora no streaming, também gera forte engajamento e as posiciona como ativo estratégico para a diferenciação das plataformas.